[Review] Samsung Galaxy Note 8: ganho de produtividade

O Galaxy Note 8 foi anunciado com o desafio enorme de apagar a imagem negativa que seu antecessor. O maior fiasco da Samsung resultou em um prejuízo bilionário, que não se limitava apenas ao investimento em recall e queda nas ações; havia algo além: a imagem manchada dos aparelhos explosivos. A autópsia do Note 7, […]

O Galaxy Note 8 foi anunciado com o desafio enorme de apagar a imagem negativa que seu antecessor. O maior fiasco da Samsung resultou em um prejuízo bilionário, que não se limitava apenas ao investimento em recall e queda nas ações; havia algo além: a imagem manchada dos aparelhos explosivos. A autópsia do Note 7, os novos padrões de segurança adotados pelas fábricas e o Galaxy S8 atenuaram o clima, mas era mesmo o Note 8 o responsável por uma possível redenção.

O aparelho chegou com sustentação para a dar a volta por cima: campanha de marketing ostensiva, especificações de encher os olhos, design com tela ocupando praticamente toda a parte frontal e dupla de câmeras poderosa. Ele foi anunciado no Brasil em outubro custando R$ 4.399 na versão de 64 GB e R$ 4.799 na versão de 128 GB. Passei algumas semanas usando-o como meu celular principal e abaixo conto a minha experiência:

Usando


Quando testei o Galaxy S8 comentei que, apesar da telona de 5,8 polegadas, a pegada era bem confortável. O display, que a Samsung gosta de chamar de “infinito”, ajuda bastante e a construção não é tão larga. Agora, quando tirei o Note 8 da caixa, a sensação não foi exatamente a mesma, afinal são 6,3 polegadas. Esqueça usar com uma mão só. Mas isso não quer dizer que a pegada é ruim. Apesar de tudo, é confortável, ou pelo menos mais confortável do que seus antecessores. Se você já pegou uma geração anterior do Note na mão, sabe do que estou falando, é um trambolho moderno.

A combinação do tamanho, visual frontal, cores e construção deram à Samsung uma identidade visual mais sólida desde o Galaxy S7, mas que foi consolidado mesmo no S8. O Note 8 é mais quadradão, mas o avanço de design que a fabricante sul-coreana precisava foi dado: quem ver um desses dois celulares por aí, saberá de cara que se trata de um dos principais smartphones da marca.

A tela grandona tem suas vantagens: é menos desconfortável ler textos longos, digitar fica mais fácil e assistir vídeos e filmes é melhor. A resolução de 1440 x 2960 pixels e qualidade do painel Super AMOLED da Samsung ajudam bastante a experiência, praticamente hipnotizante, de não desgrudar os olhos do celular. As cores são vibrantes e o branco ligeiramente mais amarelado do que um painel IPS, mas essa foi a escolha consciente da Samsung — cores vívidas, num ponto de saturação que, dependendo do usuário, causa um desconforto nas primeiras horas de uso. Mas o tamanho do Note também é essencial para a principal proposta do aparelho, que é a produtividade, casada com a canetinha stylus, a S Pen.

S Pen e software

A S Pen, por sua vez, vai ganhando um menu cada vez maior de funcionalidades e possibilidades. Toda vez que você tira ela da gavetinha do celular, aparecem ali algumas das coisas que você pode fazer: criar uma nota, selecionar uma parte de uma captura de tela, escrever na tela, traduzir um conteúdo, fazer conversões de moedas ou criar uma mensagem animada. Ela tem ponta bem fininha, são 0,7 mm de espessura, e é fácil de acostumar a usá-la em vez do dedo, especialmente para selecionar textos para copiá-los e colá-los e em apps de edição de imagem. A precisão extra ajuda bastante. Para quem trabalha com revisão de texto, por exemplo, é uma mão na roda. Eu usei bastante nas minhas leituras também; como comentei, a seleção das palavras fica muito mais fácil e eu gosto de fazer meus destaques para salvar no Kindle ou no Pinboard, por exemplo.

E aí entra outro recurso de software que eu curti bastante: existe um menu lateral na direita, toda vez que você puxa ali surgem algumas opções (que são configuráveis). Pode ser os seus contatos favoritos, por exemplo. Mas optei pela exibição do histórico da minha área de transferências. Assim, eu conseguia copiar diversos trechos de um texto e, na hora de salvar ou enviar um email, puxava o menu e colava tudo de uma vez, sem precisar alternar entre aplicativos.

Os dois últimos parágrafos são bons exemplos do porquê a TouchWiz, camada de personalização do Android, merece mais respeito agora. Tenho batido nesta tecla há algum tempo e entendo que, para quem já teve uma experiência negativa com a Samsung, seja difícil compreender que o Android da Samsung já não deixa mais o aparelho lerdo e cheio de coisa inútil. Outro bom exemplo é a quantidade de bloatware, aqueles aplicativos que chegam pré-instalados e não servem para nada: são poucos. Já na configuração inicial do aparelho ele exibe uma lista de apps próprios da Samsung e pergunta se você deseja instalá-los ou não. Fora isso, o visual está mais sóbrio, as animações não travam. Hoje, o Android da Samsung é o melhor entre as personalizações do sistema do Google.

Mas, existe um tropeço no software: a Bixby. A assistente, lançada junto com o Galaxy S8, ainda não é muito útil, principalmente entre os usuários brasileiros. Primeiro que ela só fala coreano e inglês e, apesar de atender bem aos comandos de voz, eu nem lembrei dela. O Google Assistente faz o trabalho para mim, em português. E olha que eu nem gosto muito de falar com o meu celular, muito menos em inglês. O Bixby Vision, que funciona dentro do aplicativo da câmera, na galeria ou no navegador próprio da Samsung e que reconhece de imagens ainda não satisfaz, são muitos os erros de identificação. Para evitar maiores frustrações, mantive a assistente da Samsung desativada. E Samsung, deixa eu fazer outra coisa com esse botão dedicado.

Outro tropeço são as opções de desbloqueio biométrico. Não as opções em si, mas como elas funcionam. A mesma reclamação do Galaxy S8 aparece aqui: o leitor de impressões digitais é inalcançável, pior ainda em um aparelho de 6,3 polegadas; é impossível o seu indicador chegar lá de forma natural – é preciso usar as duas mãos, fora que as chances de você tocar na câmera o tempo todo e deixar o espaço sujo são enormes.

A Samsung também colocou o leitor de íris, que na teoria deveria funcionar melhor no Note 8, já que a minha experiência anterior foi bem negativa. O resultado, desta vez, foi ligeiramente melhor, mas não dá para usar o leitor de íris como forma principal de desbloqueio do aparelho. Isso porque dependendo da quantidade de iluminação no ambiente, sua íris não é reconhecida: quanto mais escuro o ambiente, melhor. Então, dentro de um quarto bem iluminado naturalmente, não dá para desbloquear o celular, muito menos à luz do dia, na rua. E se você, como eu, usa óculos, o sistema falha com mais frequência, o que é bem frustrante.

Bateria

Um dos itens mais sensíveis do Galaxy Note 8 é a bateria. Afinal, ela veio menor se comparada com a célula do Note 7 (3.300 mAh contra 3.500 mAh), justamente como cautela pelos episódios negativos. Por mais que a Samsung diga que melhorou o gerenciamento de energia e não adicionou miliampere porque o conjunto de hardware e software dariam conta, estes não são argumentos convincentes. A fabricante ficou com medo de colocar algo que parecesse grande demais.

E uma bateria desse tamanho para um celular como o Note 8 é pouco. É um celular voltado para a produtividade, então espera-se que você fique com ele ligado por mais tempo; a telona torna a experiência de ler e ver vídeos mais prazerosa e aí, já viu, a bateria vai embora rapidinho. Sem contar que essa sempre foi uma das boas marcas da linha Note, então não dá para negar que este é, sem dúvidas, o calcanhar de Aquiles do modelo.

Praticamente todos os dias precisei reservar alguns minutinhos para dar uma carga extra no powerpack para ficar tranquilo e não correr o risco de ficar sem energia até chegar em casa. O aparelho tem tecnologia de carga rápida, o que não te faz ficar preso numa tomada por tanto tempo quando precisa recarregá-lo. Mas isso não atenua o fato de que eu gostaria de usá-lo sem ter que me preocupar. No geral, até dá para levar um dia inteiro longe da tomada, mas quem realmente usa o celular como dispositivo principal para checar emails, ler artigos e se divertir, vai ficar na mão. Não é aquele aparelho que, caso você precisa estender o dia, seja por uma reunião ou uma festa, vai dar conta do recado.

Câmera


O Note 8 é o primeiro celular da Samsung com câmera dupla, a minha expectativa estava bem alta, principalmente porque minha experiência com o S8 tinha sido positiva. A real é que eu gostei bastante dos resultados do Note, também, mas existem algumas ressalvas. Para entender o porquê, é preciso dar uma olhada nas especificações: são duas lentes, uma com abertura f/1.7 e ângulo mais aberto, de 77 graus, e outra com f/2.4 e campo de visão mais fechado de 45 graus. Ambas tem 12 megapixels de resolução e estabilização óptica. Esse conjunto permite duas coisas: tirar fotos com zoom óptico de 2x e capturar retratos, com o fundo desfocado. Este última recurso a Samsung chama de foco dinâmico.

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As fotos tiradas com a lente principal, ou seja, a mais aberta, são ótimas. Em iluminação natural, artificial, à noite, tanto faz, você terá boas fotos sempre e com um foco muito rápido. Raramente a imagem sai tremida e o HDR faz um bom trabalho de equilíbrio. Por outro lado, as fotos tiradas com o zoom óptico nem sempre entregam resultados tão bacanas, principalmente por ser uma lente mais fechada de f/2.4. De dia, as fotos ainda ficam boas, mas à noite os resultados já não são tão bons. Tanto que, dependendo das condições, o software prefere dar um zoom digital a partir da lente principal, porque ela captura mais luz.

O foco dinâmico da Samsung é interessante por permitir ajustar a intensidade do efeito mesmo depois de tirar a foto (os iPhones Plus, inclusive, popularizaram o Modo Retrato, que faz esse desfoque no fundo). Os resultados, no geral, são legais, mas muitas vezes parecem artificiais – principalmente se você abusar do efeito. Outro aspecto que revela mais artificialidade nas fotos do aparelho são as cores: geralmente, muito mais saturadas. Comparando com o iPhone 8 Plus, é notório que as fotos do smartphone da Apple parecem mais naturais, tanto pelo fundo borrado quanto pelas cores. Isso não desmerece a câmera do Note 8, que entre os dispositivos Android, está entre as melhores que já testei, ao lado do S8. Mas se a comparação ultrapassa a plataforma, há esse porém. Uma atualização de software poderia aprimorar o recurso do foco dinâmico, mas essas mudanças a gente só verá mesmo nas próximas gerações.

A câmera frontal, por sua vez, manda bem. O sensor tem 8 megapixels e abertura f/1.7, ou seja, é o suficiente para tirar boas selfies mesmo à noite, em festas, por exemplo. Tem também o famigerado modo embelezamento, que dá uma “borrada” nas “imperfeições” da pele; a imagem realmente fica legal, mas a sensação de artificialidade é inegável – mas isso não é exclusividade da Samsung, todos os aparelhos que contam com essa função tem a tendência de deixar as pessoas mais parecidas com bonecos. O mais legal são os efeitos no estilo Snapchat, bem divertidos.

Observações

– O Galaxy Note 8 tem suporte para dois chips, mas é a bandeja híbrida. Ou seja, ou você tem dois chips, ou você tem um chip e um cartão de memória para expandir o armazenamento.

– Os fones de ouvido que acompanham o aparelho são da AKG e são bons. Em comparação com os fones que vêm na caixa dos aparelhos da Apple, a construção é bem melhor e o encaixe no ouvido mais confortável. No geral, a qualidade do som também supera a concorrência.

– O Note 8 tem um conjunto de conectividade bem completo, com USB-C, Bluetooth 5.0, NFC e MST (Samsung Pay).

– Ele só é vendido na cor preta, o que é um desperdício. A versão dourada é linda.

Conclusão

Gostei bastante de usar o Galaxy Note 8 e senti falta da S Pen depois que o devolvi. A linha sempre foi interessante para o tipo de uso que faço do celular e, para aqueles que buscam produtividade, é uma pedida interessante. Além disso, você tem um conjunto sólido: visual bonitão, uma caneta stylus que realmente tem utilidade, uma tela de alta qualidade, desempenho impecável e um conjunto de câmeras que manda muito bem, apesar de correr um pouco atrás de seu concorrente. Para quem não faz questão da S Pen e não tá muito aí para esse papo de produtividade, é mais negócio dar uma olhada no Galaxy S8+, que tem display de tamanho similar e entrega muito do que o Note tem, com exceção da câmera dupla – a vantagem, no caso, é o preço menor e a bateria maior. Falando em bateria, essa é foi a grande decepção com o aparelho.

Galaxy Note 8 e iPhone 8 Plus lado a lado. São praticamente do mesmo tamanho, mas a tela do Note 8 é bem maior (6,3 polegadas contra 5,5 polegadas).

E aqui vai o comentário recorrente quando faço a análise de produtos topo de linha: eles são ótimos, há pouquíssimos pontos fracos e certamente aguentarão bons anos de uso tranquilamente. Mas são caríssimos. Se você tem bala na agulha, não tem dó de gastar R$ 4.399 ou R$ 4.799 em um celular e gosta de Android, vai na fé, dificilmente se arrependerá da escolha. Talvez o único aparelho capaz de bater diretamente contra o Note 8 hoje seja o iPhone 8 Plus, com seu preço semelhante e vantagens como maior autonomia de bateria, câmera. Mas isso vai depender muito da sua preferência entre sistemas operacionais. E, bem, se você tiver paciência, o preço do Note 8 deve despencar nos próximos meses.

Especificações técnicas

Tela: Super AMOLED de 6,3 polegadas com resolução de 1440 x 2960 pixels (proporção 18.5:9)
Processador: Exynos 8895 octa-core (quatro núcleos de 2.3 GHz e outros quatro de 1.7 GHz)
GPU: Mali-G71 MP20
RAM: 6 GB
Armazenamento: 64 GB (expansível com cartão microSD de até 256 GB)
Câmera traseira: Dois sensores de 12 MP, principal f/1.7 e secundário f/2.2 com zoom óptico 2x
Câmera frontal: 8 MP, f/1.7
Bateria: 3.300 mAh (não removível)
Sistema operacional: Android 7.1.1 Nougat
Dimensões: 162.5 x 74.8 x 8.6 mm (altura x largura x profundidade)
Peso: 195 g

Todas as imagens: Alessandro Junior/Gizmodo.

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