O Web Summit Rio 2023, um dos eventos mais importantes do setor de tecnologia no mundo, promoveu no início deste mês o seu ciclo de palestras e exposições. O evento reuniu os principais players do setor, com o objetivo de discutir os rumos futuros da tecnologia, e como eles podem afetar as nossas vidas.
A conferência – que teve origem em Dublin, na Irlanda, em 2009 – rapidamente se tornou um sucesso global, atraindo milhares de participantes de todo o mundo. A edição deste ano no Brasil, marcou a primeira vez que o evento ocorre na América do Sul.
A escolha do Rio de Janeiro foi devido ao rápido crescimento do mercado de startups e tecnologia no país, que conta atualmente com um total de 21 unicórnios e um ecossistema em franca expansão. Hoje, o Brasil é o único da América Latina que está entre os dez principais mercados de unicórnios do mundo.
Embora São Paulo tenha sido cogitado, o Rio foi escolhido por sua expressão internacional, sendo sede de eventos como Olimpíadas e Copa do Mundo, além de contar com belas paisagens.
Ao todo, a primeira edição do Web Summit Rio recebeu mais de 21 mil pessoas de 91 países, ao longo de quatro dias. Entre inovações e tendências, que estão hypando o mundo da tecnologia, aqui estão as principais invocações e tendências do setor.
1. Open Finance
Primeiramente, apesar da febre atual do ChatGPT, o Open Finance já era o assunto do momento até alguns meses atrás. Este é um conceito relacionado à abertura de dados e serviços financeiros, com o intuito de permiter que pessoas e empresas possam compartilhar informações financeiras de forma segura e transparente. A ideia é que o sistema financeiro possa ser mais acessível, barato, transparente e inclusivo.
Dessa forma, como apresentaram no painel do Banco BV, Leandro Vilain, sócio da Oliver Wyman, Leonardo Enrique Silva, diretor-executivo de open finance da Visa e Fabricio Violin, gerente executivo do Banco BV, é possível oferecer serviços financeiros mais personalizados e acessíveis, além de incentivar a concorrência no mercado financeiro.
A princípio, se o cliente concordar, ele pode oferecer seus dados para uma redução dos custos e oferta de produtos mais apropriados para o perfil e interesses dele, o que é uma grande vantagem para os dois lados.
Isso faz parte de um movimento sobre como as empresas, principalmente as Big Techs (Facebook, Amazon, Meta, Google e outras) utilizam os dados gerados por seus usuários. Há um grito por liberdade que ecoa entre bits e bytes da internet: “Se os dados são meus, eu não quero intermediadores!”
Essa ideia de uma internet mais democrática que está por trás das redes descentralizadas, foi muito bem explorada por Yat Siu, CEO da Animoca Brands, em um dos painéis, ele disse: “As autoridades centrais, ou agentes do sistema financeiro como bancos, cartórios, cartões de crédito, meios de pagamento e outros, recolhem um pedágio por você usá-lo. Pode parecer pouco quando se considera os valores pagos, mas considerando a escala e sobretudo essa prática em países em desenvolvimento, por exemplo, isso é muito dinheiro!”
2. Cloud Computing
A Computação em Nuvem (ou “Cloud Computing”) é o processo de operacionalizar os sistemas de uma empresa numa rede de computadores fora da empresa. Ou seja, é uma espécie de “aluguel de infraestrutura”.
Ao invés de você comprar um servidor, instalar na sua rede e se preocupar com manutenção, uma empresa faz isso para você, bastando apenas pagar pelo serviço por mês. Trocando em miúdos, é algo mais barato.
A AWS (Amazon Web Services), por exemplo, braço de cloud computing da gigante do varejo mundial, Amazon, apresentou na feira a solução “ALMA”. Ela é uma parceria com o hospital Sírio Libanês que opera uma nuvem com dados do prontuário médico dos seus assinantes que pode ser acionada quando o paciente apresenta sinais de uma emergência médica.
Diego Aristides, CTO da Alma Sírio Libanês, mostrou como a integração de cloud computing, usando IA e wearables (como smartwatches) podem salvar vidas. Por exemplo, é possível reduzir o tempo de uma remoção e intervenção médica no caso de um infarto de quatro horas para apenas uma hora.
3. Analytics
Este é o processo de coleta, organização, análise e interpretação de informações para obter insights e tomar decisões informadas. É uma disciplina que utiliza ferramentas estatísticas e de tecnologia da informação para examinar grandes conjuntos de dados e encontrar padrões, tendências e relações entre variáveis.
A análise de dados pode ser aplicada em diversas áreas, como negócios, saúde, educação, governo, entre outras. Além disso, ela é uma ferramenta valiosa para descobrir oportunidades, identificar problemas e otimizar processos.
Da mesma forma que volume de dados gerados cresce diariamente, a análise de dados ter se tornado uma habilidade cada vez mais valiosa e essencial em muitas profissões.
4. Finanças incorporadas
Este foi outro tema que ganhou muito espaço no Web Summit Rio 2023. Muitos executivos ligados aos mais diversos setores de produtos e serviços eram categóricos ao dizer que: “todas as empresas que vendem produto ou serviço em suas plataformas, necessitam ser fintechs”.
O próprio David Vélez, sócio fundador do NuBank e presidente do conselho de administração do banco, em seu aguardadíssimo speach realizado no Stage Center (o maior palco de palestrantes do evento) reforçou: “precisamos ter em mente a ideia de um gateway. Integrar todas as experiências do cliente (finanças, viagens, esporte, diversão, comida) num único lugar, a jornada do cliente tem de ser completa, desde a pesquisa até a efetivação da compra”.
Dessa forma, o termo embedded finance (ou finanças incorporadas) é um modelo de negócios que integra serviços financeiros em produtos ou serviços de outras empresas. Na listão estão aplicativos, websites ou plataformas de comércio eletrônico.
Isso permite que as empresas ofereçam serviços financeiros personalizados aos seus clientes, sem a necessidade de se tornarem uma instituição financeira tradicional. Por exemplo, uma empresa de varejo pode oferecer um cartão de crédito próprio para seus clientes, com benefícios exclusivos para compras em sua loja.
Esse modelo permite uma experiência de usuário mais integrada e personalizada, além de gerar novas fontes de receita para as empresas. Essa tendência está ganhando força, principalmente impulsionada pelo aumento do comércio eletrônico e pela abertura de dados financeiros promovida pelo Open Finance, já citado mais acima.
5. IA
Por fim, não podemos deixar de fora a inteligência artificial! O ChatGPT trouxe um novo impulso para a IA, ao apresentar um tipo de arquitetura de rede neural de processamento de linguagem natural (NLP). Com ela, é possível executar uma série de tarefas, como compreensão de texto, tradução automática, geração de texto e resumo automático.
Por todos os corredores dos pavilhões do Riocentro – onde foi realizado o Web Summit –, o ChatGPT estava presente. Do mesmo modo, uma nova abordagem de inteligência artificial também tem ganhado destaque: a chamada IA generativa. Ela cria conteúdo original, como imagens, vídeos e até músicas, e é capaz de interagir de maneira mais parecida com um ser humano.
No entanto, para que a IA possa ser utilizada de forma eficiente, a fim de garantir a interoperabilidade dos sistemas. Ou seja, a capacidade de diferentes sistemas de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) trabalharem juntos e trocarem informações. A interoperabilidade é essencial para que empresas e organizações possam integrar diferentes sistemas de IA e maximizar seus benefícios. Entre eles, estão o aprimoramento de processos e serviços, redução de custos e aumento da eficiência.
Com a interoperabilidade dos sistemas IA, empresas poderão integrar diferentes soluções em seus processos de negócio e aumentar a eficiência e produtividade. Além disso, a inteligência artificial generativa pode ser uma ferramenta poderosa para a criação de conteúdo original e personalizado.
No entanto, é importante que sejam tomadas medidas para garantir a segurança e privacidade dos dados. Isso também inclui trazer mais transparência e responsabilidade para os sistemas IA.