5 jogos da Copa 2022 são carregados de contexto político; veja quais

Contexto político na Copa 2022 inclui rivalidades históricas também fora de campo. Veja como acompanhar
5 jogos da Copa 2022 são carregados de contexto político; confira quais
Imagem: Sina Drakhshani/Raul Najera/Unsplash/Reprodução

Além do que acontece dentro das quatro linhas, há outro aspecto que costuma ser muito legal de acompanhar na Copa do Mundo: os países em disputa apesar das diferenças culturais e do contexto político atribulado. 

Muitas seleções que competem no Mundial têm tensões e rivalidades históricas que tornam as partidas – e os bastidores – muito mais emocionantes. Selecionamos cinco partidas com um geopolítico interessante para acompanhar neste Mundial. 

EUA x Irã 

Na década de 1950, os EUA (e outros países ocidentais) começaram a dar opinião na política interna do Irã. O motivo? Petróleo. À época, Washington apoiava e sustentava o xá (rei) iraniano em troca de acordos para o combustível e influência no Oriente Médio. 

É óbvio que isso ia acabar mal. Não por acaso, os iranianos são um povo orgulhoso: é ali que nasceu o Império Persa, um dos primeiros estados-nação que se tem registro na humanidade. Por isso, a “influência” norte-americana não agradava em nada boa parte da população. 

A consequência é que, em 1979, uma revolução liderada pelo islamismo derrubou o xá apoiado pelos EUA. Ele foi substituído pelo aiatolá Khomeini, um clérigo xiita que apoia as correntes mais ortodoxas do Islã. 

Desde então, EUA e Irã são inimigos. Washington lançou um pacote enorme de sanções contra Teerã e isolou os iranianos de boa parte do mundo. Para o Irã, os EUA são o “Grande Satã”, e violam a soberania do país. 

Para os EUA (e, por tabela, boa parte do mundo), o Irã desrespeita direitos humanos, patrocina o terrorismo e constrói armas nucleares secretamente. Por coincidência do destino, os dois caíram na mesma chave e duelam na Copa do Mundo em 2022 já na primeira fase. 

Quando e onde assistir

É possível acompanhar EUA x Irã na próxima terça-feira (29), a partir das 16h. Assista online e de graça na plataforma Fifa+ ou no Globoplay. 

Inglaterra x País de Gales 

Para quem a família real, rei Charles 3º ou príncipe William vão torcer na Copa? Difícil dizer. Na verdade, é melhor não anunciar nada – ou correm o risco de dar início uma batalha diplomática sem precedentes. 

Isso porque a Grã-Bretanha é um Estado composto por quatro nações: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Ou seja, as duas seleções competem entre si, mas, na verdade, integram um mesmo país: o Reino Unido. 

A disputa futebolística brinca com os ânimos de independência dos países britânicos. Talvez só seria mais acirrado se o adversário da Inglaterra fosse a Escócia, onde 40% da população pede pela saída do reino. Para os galeses, a parcela de separatistas fica em 20%. 

Quando e onde assistir

A disputa entre Inglaterra e País de Gales também acontece na próxima terça-feira (29), às 16h. Assista online e de graça na plataforma Fifa+. 

Tunísia x França 

Outra partida que promete faíscas. A Tunísia é ex-colônia da França – e a separação, em 1956, não foi nada amigável. Assim como vários países africanos, os líderes do movimento de independência da Tunísia atacaram edifícios e assassinaram os principais governantes franceses. 

Depois disso, a França continuou fornecendo armas para a Tunísia. Mas, mais recentemente, os franceses foram substituídos pelos EUA e Turquia e a influência de Paris só diminui no país africano. 

Mesmo com os desfalques da França, é bem provável que os europeus dominem dentro das quatro-linhas e a Tunísia, com sua força defensiva, tente explorar os contra-ataques para conseguir frustrar os atuais campeões mundiais.

Quando e onde assistir

Assista França e Tunísia na próxima quarta-feira (30), a partir das 12h. Haverá transmissão online e gratuita na plataforma Fifa+. 

Holanda x Catar 

Ao anunciar que iria para a Copa no Catar, o governo holandês precisou defender sua decisão ao público. Disse que, apesar das diferenças, a participação seria uma “oportunidade de diálogo e cooperação”. 

Isso porque, historicamente, não existem divergências oficiais entre os dois países – o que está em jogo, aqui, são as diferenças culturais ideológicas. 

Tudo começa pelo liberalismo da Holanda. Em 2000, o país regulamentou a prostituição e, em 2009, liberou a venda e consumo de maconha, por exemplo. Além disso, é sede do Tribunal Penal Internacional, também conhecido como Tribunal de Haia, órgão que julga crimes contra a humanidade e de direitos humanos. 

O Catar, por sua vez, vem de uma cultura bem diferente – quase oposta. O país muçulmano tem um histórico conturbado no tratamento dado a trabalhadores migrantes, proíbe a homossexualidade e mantém a lei da tutela masculina às mulheres. 

Quando e onde assistir

A partida entre Catar e Holanda está marcada para a próxima terça (29), a partir das 12h. Haverá transmissão online e gratuita na plataforma Fifa+. 

Irã x Arábia Saudita 

Este é um cenário possível – embora improvável – para as quartas de final. Se acontecer, será um jogo épico entre duas nações rivais, em todos os sentidos da palavra. Tudo começa nas diferenças religiosas: no Oriente Médio, o Islã se divide entre xiita e sunita. 

Os sunitas representam 85% dos muçulmanos no mundo, enquanto os xiitas chegam a 15%. O Irã, porém, é dominado pelos xiitas, enquanto a Arábia Saudita possui mais sunitas. Por isso, os conflitos são constantes e as diferenças religiosas sempre respingam na política e cultura dos países vizinhos. 

Tem outra questão: tanto Irã quanto Arábia Saudita são exportadores de petróleo – e, por isso, rivais econômicos. Também é comum que escolham lados opostos nas disputas globais: enquanto a Arábia Saudita apoia os EUA, o Irã apoia a Rússia e a China. 

O clima regional é sempre tenso: os iranianos têm um exército maior, mas os sauditas têm muito dinheiro e os EUA como aliado militar importante. Por isso, os países dificilmente entrarão em disputas diretas um contra o outro – o mais comum é que se enfrentem em guerras por procuração, como no Iêmen e Síria. E, talvez, na Copa do Mundo. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas