A história do rinoceronte indiano que transformou caçadores em protetores ambientais
O povo Bodo vive em florestas localizadas à margem norte do rio Brahmaputra, em Assã, na Índia. O problema é que este grupo se difere etnicamente e linguisticamente do resto do estado, o que os levou a organizar um movimento separatista.
No fim da década de 1980, a violência tomou conta, e grupos separatistas armados – como os Tigres de Libertação de Bodoland e a Frente Democrática Nacional de Bodoland – se esconderam na reserva de Manas. Este seria o começo de um desastre ecológico.
Para garantir a subsistência, o povo que agora habitava a reserva só tinha como opção o desmatamento e a caça furtiva. Todos os rinocerontes que viviam no local desapareceram, assim como as populações de elefantes e panteras-nebulosas diminuíram significativamente.
Em 2003, foi estabelecido um acordo de paz entre o Conselho Territorial de Bodoland (BTR, sigla em inglês), o governo central e o governo do estado de Assã. Mas nessa altura do campeonato, o estrago já estava feito.
O povo Bodo não estava feliz com a situação. Pelo contrário, sentiam-se humilhados pela culpa que levavam de ter estragado o ecossistema. A vontade de restaurar o Manas era agora questão de orgulho étnico.
Um trabalho de reintrodução de espécies foi estabelecido no local em 2006 por pesquisadores do Centro de Reabilitação e Conservação da Vida Selvagem em Kaziranga e também do World Wide Fund for Nature (WWF). Mas foi um episódio ocorrido em 2008 que transformou um rinoceronte em símbolo de paz da comunidade.
Um animal que havia sido transferido do Parque Nacional Kaziranga para o Parque Nacional Manas estava caminhando em direção a uma vila nas fronteiras da floresta. A notícia assustou ambientalistas, que pensaram que os moradores poderiam entrar em conflito com o rinoceronte.
Felizmente, a resposta foi bem diferente do esperado. Quando os pesquisadores chegaram, havia mais de 500 habitantes da vila recebendo o rinoceronte como sinal de esperança, dispostos a abraçar a causa e salvar o local.
Dito e feito. Os meios de subsistência mudaram: agora, as mulheres foram instruídas a tecelagem, e passaram a ganhar a vida dessa forma. Os homens, por outro lado, se tornaram protetores da floresta em troca de uma ajuda de custo mensal. Cabe a eles auxiliar na reabilitação de filhotes, realizar pesquisas de vida selvagem e capturar caçadores ilegais.
Em 2021, a reserva de Manas contava com 52 rinocerontes, 48 tigres, mais de 1.000 elefantes selvagens, entre outras espécies ameaçadas de extinção, como os porcos-pigmeus e coelhos-asiáticos. Desejamos que este seja apenas o começo de uma enorme recuperação.