Ciência

Amazônia pode estar perdendo sua capacidade de recuperação

Nos últimos 20 anos, capacidade de recuperação da Amazônia frente às secas diminuiu e o ponto de não retorno pode estar mais próximo que o imaginado
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Nos últimos 20 anos, a Amazônia passou por quatro períodos de seca intensa. Em tese, a probabilidade disso acontecer antes dos efeitos das mudanças climáticas era de uma vez a cada 100 anos.

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Agora, um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences apontou que, além dos prejuízos óbvios, esses episódios podem interferir na capacidade de recuperação da Amazônia. Dessa forma, aproxima-se de um ponto de não retorno.

De acordo com a pesquisa, uma das regiões mais afetadas é o Sudeste do bioma. Esta área está altamente desmatada e, por isso, é mais vulnerável aos chamados “eventos de inflexão”, termo que indica a degradação da floresta.

Pesquisadores brasileiros da Unicamp e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) contribuíram com o estudo. Ele também contou ainda com cientistas da Bélgica, da Holanda e da Alemanha.

Entenda a pesquisa

Para o estudo, os cientistas analisaram imagens de satélite da Amazônia entre os anos de 2001 e 2019. Pelos registros, acompanharam a evolução da vegetação mês a mês e, depois, compararam aos dados de chuvas na região.

Em geral, a floresta amazônica tem um dossel — a alta camada de sobreposição de folhagens da copa das árvores — que se modifica de acordo com a estação seca ou chuvosa. Até agora, as copas das árvores e folhagens se expandiam durante o período úmido e se retraíam um pouco nos momentos mais secos.

Contudo, o novo estudo evidenciou que 37% da vegetação madura nas áreas analisadas tiveram uma desaceleração na recuperação pós-seca. Dessa forma, a floresta não retorna completamente ao seu estado original depois de um evento extremo, como conseguia fazer.

Para os pesquisadores, isso se deve ao aumento na frequência (especialmente na região Noroeste da Amazônia) e da intensidade das secas (o que acontece com mais evidência no Sudeste do bioma). 

O estudo também percebeu que o aumento da intensidade das secas se mostra um fator mais impactante na recuperação da vegetação que o aumento da frequência desses episódios. Contudo, quando esses dois fatores acontecem juntos, desestabilizam a floresta – o que vem acontecendo nas últimas décadas.

O cenário pode ser ainda pior

De acordo com os autores do estudo, a desaceleração da recuperação da floresta amazônica pode ser um “indicativo precoce” do colapso do ecossistema. Ainda, relembram que a pesquisa considerou apenas imagens de satélite que permitem mensurar o dossel da floresta, ou seja, a copa das árvores.

O que acontece nas raízes e no solo, por exemplo, pode ser ainda mais grave.

“As árvores são a última parte do ecossistema a apresentar pontos de inflexão porque têm o ciclo de vida mais longo e são mais capazes de sobreviver. Se já estamos vendo um ponto de inflexão se aproximando no nível macroflorestal, então deve estar piorando no nível micro”, explicou ao The Guardian a porta-voz do estudo, Johanna van Passel.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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