Ciência

Anticoncepcional masculino sem hormônio vai ser testado em humanos

Pílula anticoncepcional age sobre um nutriente essencial para a produção de espermatozoides; ensaio clínico com homens começou este mês
Imagem: erntcom192/ Pixabay/ Reprodução

Na última semana, a empresa norte-americana YourChoice Therapeutics começou o primeiro ensaio clínico de fase I de sua pílula anticoncepcional masculina diária, que não contém hormônios. Até então, os testes foram realizados apenas em ratos de laboratório e apresentaram bons resultados.

Agora, os cientistas testam a pílula conhecida como YCT-529 em homens britânicos. Segundo a empresa, o ensaio clínico deve acontecer até meados de junho de 2024. 

Essa é a primeira etapa de testes em humanos, de forma que ainda não há confirmação da eficácia do medicamento e nem previsão se e quando estará disponível para a população.

Ainda assim, os resultados iniciais mostram que há um novo caminho para garantir a contracepção. Até agora, as pílulas anticoncepcionais são feitas para mulheres, têm hormônios em sua composição e oferecem diversos efeitos colaterais, inclusive risco aumentado de desenvolver câncer de mama.

Por que uma pílula masculina

Os contraceptivos masculinos tem como valor de mercado estimado cerca de US$ 200 bilhões (R$ 975 bilhões, em conversão direta), de acordo com um estudo publicado na revista Current Obstetrics and Gynecology Reports.

Atualmente, há apenas duas opções de contracepção voltada para os homens: a vasectomia e o uso de preservativos. Enquanto isso, há uma variedade para as mulheres, como as pílulas anticoncepcionais, os dispositivos intrauterinos (DIU) e adesivos, entre outras.

Contudo, enquanto as mulheres geram um óvulo por mês, os homens produzem cerca de mil espermatozoides por segundo. 

Ainda assim, a quantidade de homens dispostos a tomar anticoncepcionais masculinos varia entre 34% a 82,3%. O dado é de um estudo publicado na revista Journal of Sex Research.

Como funciona a pílula anticoncepcional YCT-529

Em geral, estudos anteriores descobriram que deficiências de vitamina A podem levar à infertilidade. Isso porque o nutriente é necessário para a produção de esperma e a manutenção do sistema reprodutor masculino.

Dessa forma, em vez de utilizar hormônios, a pílula YCT-529 age inibindo um receptor de ácido retinóico. Assim, ele bloqueia o acesso à vitamina A e impede a produção de espermatozoides.

Nos testes realizados em ratos de laboratório, a pílula masculina mostrou eficácia de 99% na prevenção da gravidez. Além disso, a infertilidade se mostrou 100% reversível: os animais se tornaram férteis novamente entre quatro e seis semanas após interromper o uso do medicamento. Também não houveram efeitos colaterais.

De acordo com Gunda Georg, pesquisadora por trás da pílula e diretora fundadora dos Institutos de Descoberta e Desenvolvimento Terapêutico, o mundo está pronto para um agente contraceptivo masculino.

“Oferecer um que seja livre de hormônios é simplesmente a coisa certa a fazer, considerando o que sabemos sobre os efeitos colaterais que as mulheres têm suportado por décadas com a pílula”, disse em comunicado.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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