Antissemitismo mais que dobrou após chegada de Elon Musk ao Twitter
Mensagens de ódio a judeus – movimento conhecido como antissemitismo – mais que dobraram no Twitter desde outubro, quando Elon Musk assumiu a chefia da rede social.
De 1º de junho a 26 de outubro de 2022 — um dia antes da aquisição –, a média semanal de tuítes considerados “plausivelmente antissemitas” era de 6.204. A partir de 27 de outubro até 9 de fevereiro de 2023, a média subiu para 12.762 – um aumento de 105%.
Os dados integram uma pesquisa conduzida pela organização britânica DEMOS, pela empresa de tecnologia CASM Technology e pelo think tank Institute for Strategic Dialogue.
O levantamento identificou um total de 325.739 tuítes de 146.516 contas rotulados como “plausivelmente antissemitas” ao longo de todo o estudo (1º de junho de 2022 a 9 de fevereiro de 2023).
A classificação “plausivelmente antissemita” significa a existência de pelo menos uma interpretação razoável do tuíte dentro das definições de antissemitismo da Aliança Internacional de Memória do Holocausto.
Ao longo do estudo, os pesquisadores combinaram 22 algoritmos de identificação de discurso de ódio. A partir disso, analisaram cada um dos tuítes – mais de 1 milhão – que continham 119 palavras que se relacionavam ao ódio à comunidade judaica.
Ataques mais comuns
Após mapear todos os tuítes com conteúdo antissemita, os cientistas usaram outro algoritmo para extrair os principais 10 temas retratados entre esses conteúdos.
Uma parte do discurso criminoso levava apelidos maldosos, enquanto outra parte continha alusão a teorias da conspiração sobre influência e controle dos judeus “escondidos” da sociedade.
Os agressores mencionaram o investidor e filantropo judeu George Soros mais que qualquer pessoa no período: pelo menos 19 mil vezes. A maioria dos tuítes afirmava que ele era membro de uma ordem mundial oculta globalista, judaica ou “nazista”.
Muitos tuítes do período também defenderam os comentários antissemitas do rapper Ye (Kanye West) depois de retornar brevemente para o Twitter, em novembro. Outro tema recorrente identificado pela pesquisa foram cerca de 4 mil tuítes antissemitas focados na invasão russa na Ucrânia.
Os usuários alegavam que o conflito foi “causado por judeus” e que o grupo religioso levou secretamente os EUA a apoiarem a Ucrânia. Também haviam ataques contra o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que é judeu.
Musk mudou o Twitter
“Como alguém que rastreou o discurso de ódio em lugares como o Twitter por cerca de 10 anos, acredito que as mudanças nas práticas de moderação são apenas parcialmente responsáveis pelo salto no anti-semitismo na plataforma”, escreveu Carl Miller, um dos autores do estudo, em artigo no site The Conversation.
Miller se refere às medidas tomadas por Elon Musk depois que assumiu a liderança da rede. Em pouco tempo, ele dissolveu o Conselho de Segurança e Confiança independente do Twitter, restabeleceu contas banidas e demitiu mais da metade da equipe – incluindo responsáveis pelas políticas de discurso de ódio da companhia.
Enquanto isso, o dono da Tesla rejeitou as preocupações sobre a disseminação de conteúdo de ódio e prometeu “maximizar e desmonetizar” tuítes do gênero, o que não parece ter acontecido.
A repercussão sobre o nível de ódio a judeus no Twitter acompanha um aumento de incidentes antissemitas nos EUA. No ano passado, a Liga Anti-Difamação identificou 3.697 ataques, um número recorde no país.
Segundo o relatório, o assédio antissemita aumentou 29% no ano passado, enquanto o vandalismo contra esse grupo subiu 51%. Além disso, a atividade de grupos de supremacia branca dobrou: a organização registrou 852 casos de distribuição de propaganda antissemita nos EUA em 2022.