Questionada sobre atraso em recurso de privacidade, Apple detona Facebook na resposta

Em resposta a entidades de defesa da privacidade, Apple diz que Facebook quer acumular o maior número possível de dados de usuários.
iPhones em uma mesa de uma loja da Apple.
Foto: Ming Yeung (Getty Images)

No início deste ano, grupos de direitos humanos e privacidade, como a Electronic Frontier Foundation e a Human Rights Watch, enviaram uma carta à Apple perguntando por que ela iria atrasar um novo recurso que forçaria os aplicativos a pedir permissão explícita dos usuários antes de rastreá-los. A Apple respondeu, de acordo com a Bloomberg, com uma carta criticando o Facebook.

A Apple lançou o recurso de aprimoramento de privacidade do iOS 14 em setembro, mas ainda não o tornou obrigatório para os desenvolvedores. Os grupos escreveram uma carta à empresa afirmando que o atraso foi imprudente tendo em vista as “semanas críticas antes e depois das eleições dos EUA, quando os dados das pessoas podem ser usados ​​para direcionar a elas propagandas políticas personalizadas”.

Em uma carta de resposta, a diretora global de privacidade da Apple, Jane Horvath, detonou o Facebook e seu modelo de negócios.

“Muitas vezes, as informações são coletadas sobre você em um aplicativo ou site de propriedade de uma empresa e combinadas com outras coletadas separadamente por outras companhias  e usadas para anúncios direcionados e métricas de publicidade”, escreveu a Apple. “Às vezes, seus dados são até agregados e revendidos por data brokers, terceiros que você não conhece e com quem você não interage. O rastreamento pode ser invasivo, até assustador e, na maioria das vezes, ocorre sem a conscientização ou consentimento significativo do usuário.”

A Apple se gabou de seu recurso App Tracking Transparency (ATT; “transparência de rastreamento de aplicativos”, em tradução livre) como parte de seu compromisso geral com a privacidade. A companhia criticou especificamente o Facebook:

Por outro lado, o Facebook e outros têm uma abordagem muito diferente em relação à segmentação. Eles não apenas permitem o agrupamento de usuários em segmentos menores, mas também usam dados detalhados sobre a atividade de navegação online para direcionar os anúncios. Seus executivos deixaram claro que sua intenção é coletar o máximo de dados possível em produtos próprios e de terceiros para desenvolver e monetizar perfis detalhados de seus usuários, e esse desrespeito pela privacidade do usuário continua a se expandir para incluir mais de seus produtos.

Horvath também disse que o Facebook pode ter sido parcialmente responsável pelo atraso no lançamento do ATT. A executiva disse à Bloomberg que o cronograma estendido “daria aos desenvolvedores o tempo indicado como necessário para atualizar adequadamente seus sistemas e práticas de dados”.

O recurso ATT é uma mudança importante para os desenvolvedores de aplicativos. Ele exige que os usuários autorizem o compartilhamento de dados de uso e também restringe o acesso dos aplicativos a vários identificadores exclusivos que podem ser usados ​​para seguir uma pessoa. Assim, ele afeta sua capacidade de monitorar ações pós-instalação, direcionar anúncios ou construir modelos de comportamento.

O VentureBeat escreveu em setembro que, embora “10% a 30% dos usuários de iOS atualmente limitem a personalização de anúncios, e até 15% atualmente usem rastreamento limitado de anúncios para desabilitar seu [identificador para anunciantes]”, espera-se que até 80% recusem as solicitações desse tipo quando o ATT estiver funcionando.

O Facebook respondeu, em uma declaração ao Ars Technica e a outros meios de comunicação, de que não se trata de privacidade de forma alguma — trata-se de bloquear o iOS com táticas anticompetitivas para dar uma vantagem injusta às soluções da própria empresa.

Isso tem seu fundo de verdade. A Apple está enfrentando queixas antitruste da indústria de publicidade sobre a atualização do iOS 14, bem como de empresas como Spotify, Telegram e Epic Games.

O subcomitê judiciário antitruste da Câmara de Representantes dos EUA concluiu recentemente que a obrigatoriedade de uso a plataforma de pagamento da Apple é anticompetitiva, assim como a forma como ela restringe APIs, modifica classificações de pesquisa e define aplicativos padrão.

A divisão antitruste do Departamento de Justiça dos EUA está investigando a Apple e outras grandes empresas de tecnologia, incluindo o Google, embora detalhes sobre a investigação da Apple continuem vagos.

“A verdade é que a Apple expandiu seus negócios para publicidade e, por meio de suas próximas mudanças no iOS 14, está tentando fazer com que a internet gratuita seja trocada por aplicativos e serviços pagos, em que eles lucram”, disse o Facebook ao Ars Technica. “Como resultado, eles estão usando sua posição dominante no mercado para dar preferência à sua própria coleta de dados, ao mesmo tempo que tornam quase impossível que seus concorrentes usem ferramentas desse tipo. Eles dizem que é por causa da privacidade, mas é pelo lucro.”

Esta briga já dura um bom tempo. Em agosto, o Facebook avisou que a atualização do iOS poderia reduzir a receita de sites que usam sua Audience Network em até 50%. Naquele mês, a empresa também disse que foi forçada a retirar a versão do Facebook Gaming disponível na App Store por causa de restrições impostas pelos termos de serviço.

“Infelizmente, tivemos que remover totalmente a funcionalidade de jogos para obter a aprovação da Apple para o aplicativo independente do Facebook Gaming — o que significa que os usuários do iOS terão uma experiência inferior a quem usa a versão de Android”, escreveu a diretora de operações Sheryl Sandberg em um comunicado na ocasião.

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