A Apple gosta bastante de falar sobre privacidade, mas uma investigação descobriu que a última geração de iPhones não dá tanto controle de privacidade para os usuários quanto a Apple gostaria que os consumidores acreditassem.
Um relatório de Brian Krebs do site KrebsOnSecurity descobriu que apesar de a Apple afirmar que é possível “desabilitar os Serviços de Localização a qualquer momento”, eles continuam monitorando a localização dos usuários, mesmo quando todos os ajustes e aplicativos são configurados manualmente para desabilitar essa opção.
Krebs descobriu o problema em um iPhone 11 Pro rodando a última versão do iOS 13. Outros usuários também relataram problemas com o rastreamento de localização ligado o tempo todo nos fóruns de discussão da Apple.
Em um vídeo sobre o problema, Krebs desativa manualmente as configurações de localização do Mapas, Siri e dos Serviços de Sistema a partir do menu “Serviços de Localização” nos Ajustes. Porém, ele ativa a opção de mostrar o ícone de localização na barra de status e deixa ativa a aba de Dados de Localização.
Em seguida, Krebs navega até a Central de Controle e coloca o celular no Modo Avião. Quando o Krebs desativa o Modo Avião, o ícone de seta aparece na Barra de Status, apesar de não haver nenhum app aberto além dos Ajustes.
Krebs disse que não conseguiu reproduzir o problema em um iPhone 8 rodando a versão mais recente do iOS 13. Ele especulou que o problema poderia estar relacionado ao hardware do iPhone 11 e o suporte para WiFi 6.
A política de privacidade da Apple, que foi atualizada pela última vez em agosto, antes do lançamento do iPhone 11, diz que a Apple “pode coletar, usar e compartilhar dados de localização precisos, incluindo a localização geográfica em tempo real de seu computador ou dispositivo Apple.”
Mas, como Krebs observa, a política de privacidade dos Serviços de Localização na tela de Ajustes parece insinuar que essa coleta de dados pode ser totalmente desativada.
“Você pode desativar os Serviços de Localização a qualquer momento”, afirma a política de privacidade. “Também pode desativar serviços de sistema baseados na localização tocando em Serviços de Sistema e desativando cada serviço de sistema baseado em localização.”
A Apple não respondeu imediatamente a um pedido de comentários sobre a questão. No entanto, depois que Krebs contatou a empresa sobre o problema, um engenheiro da Apple disse que o ícone de Serviços de Localização “aparece para os serviços de sistema que não possuem uma opção liga/desliga nos Ajustes”.
Isso parece indicar que os usuários não podem, de fato, desativar todos os serviços de sistema baseados em localização, como a política de privacidade da Apple parece sugerir.
É particularmente curioso que um dispositivo da Apple possa continuar a rastrear a localização de seus usuários mesmo depois de desabilitar essas configurações, principalmente se considerarmos que a companhia tem se posicionado como defensora da privacidade.
A empresa comprou um outdoor em Las Vegas durante a CES deste ano, afirmando que “o que acontece no seu iPhone, fica no seu iPhone”. Mas se os usuários não têm sequer o poder de decidir quais serviços podem rastrear ou não os dados de localização, a propaganda se torna um grande problema.
Essa questão parece contrariar a política de privacidade da própria Apple, mas não é a primeira vez que a empresa engana os usuários sobre o rastreamento de localização em seus iPhones.
Em 2017, investigações revelaram um problema envolvendo a Central de Controle do iOS 11, onde as redes Wi-Fi e o Bluetooth não desligavam completamente, apesar de parecerem desligadas. A Apple esclarecia isso em suas páginas de suporte, mas a questão não ficava evidente para os usuários. Posteriormente, a companhia corrigiu o problema.
Talvez seja um bug, embora o comentário do engenheiro da Apple para Krebs não parece indicar que seja esse o caso.