Argentina x França: duas longas jornadas até o tri

Ambas com dois títulos, as seleções de Messi e Mbappé decidem a Copa do Mundo do Catar neste domingo (18/12). Senta que lá vem (MUITA) história
Imagem: Reprodução

Dois timaços com dois craques fora de série. A Argentina de Messi enfrenta a França de Mbappé na final da Copa do Mundo no Catar a partir do meio-dia deste domingo (18/12).O vencedor será consagrado como tricampeão mundial, deixando o bi Uruguai e a Inglaterra (e o perdedor desta decisão) para trás e encostando nos tetras Alemanha e Itália e no penta Brasil.

Hoje acostumados a frequentar o topo do futebol mundial, a vida nem sempre foi assim para argentinos e franceses nas Copas em 92 anos de trajetória, desde que participaram da pioneira Copa no Uruguai em 1930.

Vamos acompanhar como foram as sagas de Argentina e França, Copa a Copa.

1930

A Fifa foi fundada em Paris em 1904. Sua sigla é o nome oficial francês que persiste até hoje (Fédération Internationale de Football Association). Seu ideal já naquela época era organizar um mundial de seleções. 

Seu terceiro presidente foi o francês Jules Rimet, que assumiu em 1921 e botou a pilha para finalmente ocorrer a primeira Copa do Mundo em 1930.

A Argentina esboçou uma candidatura a sediar a primeira Copa, mas desistiu em prol do Uruguai, bicampeão olímpico de 1924 e 1928, numa união dos votos sul-americanos contra os candidatos europeus. A sede foi definida em congresso em 1929.

Aquele primeiro mundial não teve eliminatórias. Todos os filiados da Fifa foram convidados e quem topou foi participar, com despesas pagas pelo Uruguai. A maioria dos países europeus não quis saber por causa da distância. 

Até a França pensou em não ir ao Uruguai, mas pegava mal porque Jules Rimet era francês.

E assim a Argentina, vice-campeã olímpica em 1928, e a França caíram no mesmo Grupo 1 da primeira fase, num grupo de quatro países com uma única vaga para as semifinais.

Numa tabela doida, a França estreou contra o México e ganhou por 4 a 1. E a Argentina estreou contra a França no segundo jogo do grupo. E venceu por 1 a 0 no que era aparentemente a decisão do 1º lugar do grupo.

Foi um jogo duro, pesado. O volante argentino Monti acabou com o tornozelo do atacante francês Lucien Laurent (autor do primeiro gol de todas as Copas na vitória sobre o México). Ficou no 0 a 0 por um bom tempo.

Aos 36 minutos do 2º tempo, uma falta para a Argentina a uns 20 metros da área. O já citado Monti meteu uma patada e fez o único gol da partida. 

A França partiu para o abafa para buscar o empate, mas, aos 39, o árbitro brasileiro Gilberto de Almeida Rêgo inexplicavelmente apitou o fim do jogo. Até que o juiz fosse convencido de que seu relógio estava com defeito e a partida fosse retomada, os franceses já tinham esfriado em seu ímpeto.

A Argentina prosseguiu vencendo México e Chile. Na semifinal, massacrou os EUA por 6 a 1. Na final contra o Uruguai, saiu para o intervalo vencendo por 2 a 1, mas tomou a virada de 4 a 2 na etapa final.

O valentão Monti foi irreconhecível em campo. Travou psicologicamente, cercado por ameaças de morte tanto se ganhasse como se perdesse.

Guillermo Stábile foi o artilheiro da Copa com 8 gols em quatro jogos – foram suas únicas partidas pela seleção “albiceleste”. Depois, ele seria o treinador da Argentina de 1939 a 1960.

Quanto à França, se despediu com outra derrota de 1 a 0 para o Chile. E seu capitão Alexandre Villaplane tornou-se colaborador da Alemanha nazista durante a invasão da França na 2ª Guerra Mundial. Morreu fuzilado pela Resistência francesa em 1944, aos 40 anos.

1934

Um jogo. Foi o que durou a Copa de 1934 na Itália para Argentina e França. Neste torneio, todas as partidas foram no sistema mata-mata. Quem perdia caía fora.

A Argentina passava por um período conturbado desde a implantação do profissionalismo em 1931. A AFA, a federação do país, não aprovava e mandou para a Itália uma equipe toda de amadores que ninguém conhecia. Os rapazes se esforçaram na estreia contra a Suécia e estiveram duas vezes à frente no placar, mas perderam por 3 a 2.

A França conseguiu não tomar uma surra da Áustria com seu lendário Wunderteam (Time Maravilha), que fazia misérias na Europa desde 1931. Pelo contrário: deu trabalho. Abriu o placar no 1º tempo, mas levou o empate no fim desse período com gol do primeiro astro internacional do futebol, Matthias Sindelar, o “Homem de Papel”.

Com 1 a 1 no tempo normal, veio a prorrogação. Aí a Áustria passeou e venceu por 3 a 2.

1938

Houve duelo direto entre França e Argentina. Mas fora de campo. Em 1936, a Fifa definiu o país-sede da Copa seguinte. A candidatura francesa saiu vencedora contra a dos argentinos.

Revoltados, os argentinos alegaram que havia uma promessa de Jules Rimet de lhes dar a sede da Copa. Choraram por meses. Finalmente decidiram não participar das eliminatórias e, portanto, da Copa em protesto. Bom para o Brasil, que não teve adversários e foi o único classificado sul-americano.

A França não tinha um timaço. Mas era o país-sede, o que naqueles tempos tinha mais peso que hoje. De novo em sistema mata-mata em todas as fases, Les Bleus estrearam bem com 3 a 1 sobre a Bélgica.

Só que em seguida veio a Itália, campeã de 1934. Como os dois times usavam camisas azuis, os italianos trocaram de uniforme. Tudo preto, camisas, calções e meias. Era a cor-símbolo do fascismo do ditador Mussolini.

Para completar, a saudação fascista com braços estendidos durante os hinos, Uma afronta ao público francês, que vaiou o quanto pode. Mas, em campo, não tinha jeito. A Itália venceu sem problemas por 3 a 1, rumo ao bi que conquistaria.

1950 

Nem Argentina nem França vieram ao Brasil em 1950.

A AFA rompeu relações com a CBD (hoje CBF) após o quebra-pau generalizado na final do Sul-americano de 1946 em Buenos Aires. Não compareceu ao Sul-americano de 1949 no Brasil e se recusou a aceitar o convite para a Copa do Mundo.

Além disso, sob o governo do caudilho Juan Domingo Perón, a Argentina preferiu dar prioridade ao futebol doméstico de clubes. Julgando ter o melhor futebol do mundo, o país nem se incomodava em ter uma seleção ativa.

Já a França disputou as eliminatórias contra a Iugoslávia. Perdeu o duelo e foi eliminada. Mas quando a Turquia, classificada, desistiu da Copa, os franceses foram convidados para preencher a vaga. 

Inicialmente toparam. Foram sorteados para o Grupo 4, com Uruguai e Bolívia. Então a Federação Francesa foi dar uma olhada no mapa do Brasil e descobriu que teria de viajar 3.000 km em poucos dias entre um jogo e outro. Eram dias de transporte aéreo lento e desconfortável. A logística fez a França desistir de disputar a Copa.

1954

Depois de derrotar a Inglaterra por 3 a 1 num amistoso em Buenos Aires em 1953, a Argentina chegou a se animar a voltar a uma Copa do Mundo depois de 20 anos. 

Eis que o presidente Perón perguntou ao presidente da AFA se era possível dar certeza de que a Argentina seria campeã. Com a resposta negativa, o caudilho achou melhor nem jogar as eliminatórias. Melhor manter toda concentração no campeonato de clubes.

Já a França foi ao torneio na Suíça. Fez uma espécie de jogo inaugural contra a Iugoslávia, o primeiro da história a ter transmissão de TV (só para a Europa). Perdeu por 1 a 0.

Num regulamento maluco em que cada equipe num grupo de quatro só enfrentava dois adversários, a França venceu no sufoco o México por 3 a 2 enquanto Brasil e Iugoslávia empatavam em 1 a 1 e se classificavam juntas. 

Fim da linha para os franceses. Mas havia um esboço de bom time. O zagueiro Jonquet, o ponta Vincent e o meia Kopa ganharam experiência para a Copa seguinte.

1958 

Argentina e França tiveram experiências completamente diferentes na Copa do Mundo na Suécia. Um fracasso histórico para uma, uma primeira chegada ao pódio para a outra.

Primeiro, falemos dos hermanos. Perón foi deposto como presidente da Argentina em 1955, depois de nove anos no cargo, mandando praticamente sozinho no país. Também depois dos mesmos nove anos, a seleção voltou a disputar o Sul-americano no Chile e foi campeã.

Em 1957, a Argentina arrasou no Sul-americano no Peru e ganhou o título massacrando o Brasil por 3 a 0. Uma equipe bem jovem que foi apelidada de “Carasucias” (uma referência ao filme de gangster de 1938 “Anjos de Cara Suja”, que tinha uma turma de moleques desajustados).

Isso animou a Argentina a disputar as eliminatórias da Copa do Mundo pela primeira vez. Classificou-se com facilidade. Mas muita coisa mudaria até o mundial na Suécia.

Os três principais craques do Sul-americano, Maschio, Sívori e Angelillo, se transferiram para clubes italianos. Com isso, suas convocações para a seleção foram proibidas, como era comum na época.

O isolamento quase total do futebol argentino por uma década também era um problema que ninguém notou. 

Sem enfrentar europeus fortes, sem estudar as mudanças táticas e abrindo mão de preparo físico e apostando que o talento “criollo” dos jogadores bastaria para ganhar a taça, a Argentina viajou completamente iludida. 

Deu-se até ao luxo de convocar Ángel Labruna, de 41 anos incompletos. Ele realmente foi craque. Mas nas décadas de 1930 e 1940.

Na estreia contra a então campeã Alemanha Ocidental, pelo Grupo 1, mais uma prova da desorganização. A delegação não levou camisas reservas para a Suécia. E o árbitro pediu que os argentinos trocassem suas camisas azuis e brancas para não se confundir com as camisas brancas alemãs – além disso, ambos usavam calções e meias pretas.

A Argentina jogou com camisas amarelas do clube local IFK Malmö. Abriu o placar logo aos 3 minutos. Mas foi envolvida pelos alemães e pregou de cansaço no 2º tempo. Perdeu por 3 a 1 de virada.

No segundo jogo, o veterano Labruna entrou no time e a vitória de 3 a 1 sobre a Irlanda do Norte manteve as chances de classificação no duelo com a Tchecoslováquia na terceira rodada.

Foi um baile. A Tchecoslováquia foi para o intervalo já vencendo por 3 a 0 sem que os argentinos vissem a cor da bola. No 2º tempo, virou goleada, que acabou 6 a 1. A empáfia de antes ruiu e até hoje essa campanha é chamada de “O Desastre da Suécia” na Argentina.

Passemos para uma história mais feliz. Entre uma Copa e outra, a França viu um belo time dominar seu campeonato: o Stade de Reims, que chegou em 1956 à primeira final da Copa dos Campeões da Europa (atual Champions League), na qual perdeu do Real Madrid por 4 a 3.

A filosofia de jogo de toque de bola e talento do técnico Albert Batteux no Reims foi implantada na seleção, que deu a ele o cargo de treinador principal. 

Dos 22 convocados, seis eram do Reims e cinco foram titulares na Suécia: Jonquet, Penverne, Fontaine, Piantoni e Vincent. Sem falar de Kopa, que foi revelado no clube e se transferiu para o Real Madrid.

Curiosamente, Just Fontaine não estava na primeira convocação. Foi chamado em cima da hora para substituir seu companheiro de clube René Bliard, que se contundiu.

Na Copa, Fontaine revelou-se uma máquina de fazer gols. Três nos 7 a 3 sobre o Paraguai, os dois na derrota de 3 a 2 para a Iugoslávia, um nos 2 a 1 sobre a Escócia, dois nos 4 a 0 sobre a Irlanda do Norte nas quartas-de-final, um na derrota de 5 a 2 para o Brasil na semifinal e quatro nos 6 a 3 sobre a Alemanha na decisão de 3º lugar.

Até hoje, ninguém fez tantos gols numa única Copa quanto Fontaine. Aqueles 13 que ele fez parecem inalcançáveis. Desde então, o que chegou mais perto foi o alemão Gerd Müller, que marcou 10 em 1970.

Aquela seleção francesa marcou a história. Muitos dizem que só não foi campeã porque teve a infelicidade de se deparar com o Brasil.

1962

A magia acabou rápido. A França não foi ao Chile. Contusões seguidas tiraram Fontaine da seleção em 1960 e ele se aposentou de vez em 1962, a um mês de completar 29 anos. Nas eliminatórias, Les Bleus empataram em pontos com a Bulgária e tiveram de disputar um jogo-desempate em Milão, na Itália. Perdeu por 1 a 0 e deu adeus à vaga.

Já a Argentina vivia novos tempos desde o vexame de 1958. Uma filosofia mais defensiva e até agressiva tomou conta da seleção. Classificada com facilidade nas eliminatórias, foi para o vizinho Chile com um time em que os destaques eram o goleiro Roma, o lateral Marzolini e o artilheiro Sanfilippo.

No Grupo 4, a albiceleste mostrou um futebol medíocre. Na estreia contra a Bulgária, fez um gol logo aos 4 minutos e não fez questão de marcar outros. Em seguida, uma derrota de 3 a 1 para a Inglaterra. Finalmente, um 0 a 0 com a Hungria em que nada de bom futebol aconteceu. 

A Argentina ficou em 3º, eliminada pela Inglaterra no antigo critério de “goal average” (gols marcados divididos pelos gols sofridos).

1966

A França voltou ao mundial na Inglaterra, mas não era sombra do time de 1958. Uma seleção de jogadores comuns (daí para baixo). A coisa mais interessante a se dizer é que o zagueiro Jean Djorkaeff, pai do futuro campeão mundial Youri Djorkaeff, foi titular.

Os franceses tiveram um empate inacreditável de 1 a 1 com o México. Depois, uma derrota de virada por 2 a 1 para o Uruguai. Para arrematar, nova derrota: 2 a 0 para a Inglaterra, a dona da casa.

A Argentina repetiu o técnico Juan Carlos Lorenzo, o “Toto”, de 1962. Mas levou uma equipe melhor, com o zagueiro Perfumo, o volante e capitão Rattín, o centroavante Artime e o ponta Más. Mesmo assim, a seleção foi acusada de ser violenta em campo.

No Grupo 2, 2 a 1 sobre a Espanha na estreia. Veio um empate de 0 a 0, cheio de pontapés dos dois times, com a Alemanha Ocidental e a classificação foi garantida com 2 a 0 sobre a Suíça. Artime fez 3 gols nesses jogos.

Só que, nas quartas, o adversário era a Inglaterra no estádio de Wembley. A Argentina entrou decidida a trancar o jogo e conter os ingleses com faltas. E catimba. O capitão Rattín ia falar com o juiz alemão Rudolf Kreitlein sempre que o jogo era parado. Cada um em seu idioma.

Com meros 35 minutos, acabou a paciência do árbitro, que estava meio atrapalhado em campo. Em nova reclamação, Kreitlein expulsou Rattín, indicando a saída de campo com o braço estendido. 

O argentino primeiro fez que não entendeu, depois se recusou a deixar o gramado alegando que não cometeu qualquer infração. A equipe já tinha entrado em campo acreditando que havia uma conspiração para dar o título à Inglaterra.

Rattín levou oito minutos até finalmente deixar o campo. Caminhando lentamente pela lateral, ainda cutucou uma bandeirinha de escanteio do Reino Unido, o que os britânicos interpretaram como afronta.

O incidente levou à criação dos cartões amarelo (advertência) e vermelho (expulsão) para que árbitros e jogadores com idiomas muito diferentes entendessem o que era assinalado.

Jogo mesmo, não houve muito depois disso. Mas a Inglaterra achou um gol aos 33 do 2º tempo, feito por Hurst, que estreava na Copa naquela partida.

O comportamento argentino ofendeu o técnico inglês Alf Ramsey. Ele impediu que seus jogadores trocassem camisas com os sul-americanos, que ele chamou de “animais”.

Os jogadores da Argentina foram recebidos como heróis em seu país e até hoje há quem acredite na tal conspiração pró-Inglaterra, que realmente acabou campeã.

1970

Mais uma vez uma Copa não contou com a dupla. A França perdeu a vaga para a Suécia nas eliminatórias. E a Argentina se complicou toda. Perdeu fora de casa para Bolívia e Peru. Em Buenos Aires, venceu a Bolívia por apenas 1 a 0 e precisava desesperadamente vencer o Peru em La Bombonera.

O Peru saiu na frente aos 25 minutos do 2º tempo. A Argentina empatou aos 35 e, um minuto depois, novo gol do Peru. O desastre estava consumado quando os argentinos empataram em 2 a 2 aos 44 minutos. 

A Argentina acabou na lanterna do grupo. Até hoje, foi a única vez em que a albiceleste não se classificou nas eliminatórias.

1974

Novo fracasso francês nas eliminatórias. Perdeu a vaga do grupo para a União Soviética, que acabou não indo à Copa porque se recusou a jogar no Chile logo após o cruel golpe militar do general Augusto Pinochet.

A Argentina fez de tudo para não repetir o fracasso anterior. Conseguiu. Montou até uma seleção alternativa apenas para jogar na altitude de La Paz, na Bolívia, e venceu por 1 a 0 enquanto o time considerado principal treinava para os jogos seguintes. No total, três vitórias e apenas um empate fora de casa com o Paraguai.

Para a Copa, finalmente a Argentina convocou jogadores que atuavam no exterior. O goleiro Carnevali e os atacantes Ayala e Heredia jogavam na Espanha. Yazalde, outro atacante jogava em Portugal. E o capitão Perfumo atuava no Cruzeiro brasileiro.

Além disso, havia boas revelações locais como Brindisi, Babington, Houseman e um jovem Mario Kempes. Além do goleiro Fillol na reserva.

Qualquer otimismo caiu na estreia. Despreparada para a velocidade e os toques de bola da Polônia, a Argentina já perdia por 2 a 0 aos 8 minutos de jogo. Na raça, o time tentou buscar no 2º tempo, mas perdeu por 3 a 2.

A seguir, um empate de 1 a 1 contra uma Itália envelhecida, com um gol contra de Perfumo. Na rodada final, a Argentina precisava fazer saldo contra o Haiti e torcer pela derrota da Itália contra a Polônia.

Deu certo. Os argentinos fizeram 4 a 1 no Haiti e a Polônia bateu a Itália por 2 a 1. Classificação no saldo de gols em cima dos italianos. Há uma história de que a Argentina teria mandado um “incentivo” monetário para os poloneses.

Na segunda fase, no novo sistema de grupos semifinais, a Argentina se estrepou. De cara, levou 4 a 0 da Holanda debaixo de um aguaceiro. O Carrossel Holandês fez o que quis e enlouqueceu os sul-americanos.

Veio o Brasil. Clássico continental. Com uma patada de Rivelino e um contra-ataque concluído por Jairzinho, a Seleção de Zagallo fez seu jogo mais convincente e venceu por 2 a 1. 

A Argentina se despediu num empate de 1 a 1 com a Alemanha Oriental, que nada valia para os dois países. Foi a estreia de Fillol em Copas.

1978

Para a Copa em seu território, a Argentina quis enterrar todo o passado de desorganização e prioridade ao futebol de clubes. César Luis Menotti, campeão em 1973 como técnico do Huracán com um futebol ofensivo e criativo, assumiu a seleção ainda em 1974.

Já a França retornava depois de 12 anos com uma nova geração de talentos valiosos como o zagueiro Trésor, o meia Platini e os atacantes Six e Rocheteau.

Menotti refinou seu time ao longo de quatro anos. No começo de 1978, sofreu o choque de perder seu capitão Carrascosa, que se recusou a disputar a Copa por causa da ditadura militar. O técnico, homem de esquerda, lamentou mas compreendeu.

Era uma Argentina renovada. Apenas Fillol, Kempes e Houseman estiveram em 1974. O novo capitão era o brilhante zagueiro Passarella. No meio-campo, Ardiles organizava tudo. No ataque, o raçudo Luque fazia a diferença. Menotti até se deu ao luxo de não convocar Diego Maradona, jovem de 17 anos, porque queria gente mais experiente.

O sorteio botou Argentina e França no mesmo Grupo 1. Na primeira rodada, Les Bleus perderam de virada por 2 a 1 para a Itália. E a seleção da casa venceu a Hungria por 2 a 1, também de virada.

O confronto veio na segunda rodada. Passarella abriu o placar de pênalti no fim do 1º tempo. Os franceses se revoltaram, alegando que o juiz inventou a penalidade. 

No 2º tempo, o goleiro francês Bertrand-Demanes arrebentou as costas ao se chocar com a trave após uma defesa e Baratelli entrou sem comprometer. Minutos depois, Platini chegou a empatar. Mas Luque definiu a vitória de 2 a 1 com um chutaço de longe.

Eliminada, a França enfrentou a Hungria para cumprir tabela. Os dois times entraram em campo com camisas brancas. O juiz brasileiro Arnaldo Cézar Coelho determinou que um dos dois teria de usar camisas verdes e brancas do clube local Kimberley de Mar del Plata. Quem trocou foi a França, que se despediu com uma vitória de 3 a 1.

Já a Argentina decidiu o 1º lugar do grupo com a Itália e perdeu por 1 a 0. Ficou no grupo semifinal com Brasil, Peru e Polônia. E saiu de Buenos Aires para jogar em Rosário.

Contra a Polônia, vitória de 2 a 0, dois gols de Kempes. Entre um gol e outro, Kempes salvou uma bola com a mão em cima da linha para evitar o empate polonês aos 38 do 1º tempo. 

O árbitro marcou o pênalti, mas não expulsou Kempes. Fillol defendeu a cobrança de Deyna.

O empate de 0 a 0 com o Brasil foi um dos jogos mais nervosos, carimbados e violentos de todas as Copas. Ambos tiveram chances, sem conseguir marcar. A terceira rodada definiria quem iria para a final.

O problema é que os jogos decisivos seriam em horários diferentes. O Brasil jogou à tarde contra a Polônia e venceu por 3 a 1. À noite, a Argentina entrou em campo sabendo que precisava vencer por quatro gols de diferença para vencer o grupo.

O jogo acabou 6 a 0. Até hoje, surgem suspeitas e denúncias de que o Peru foi subornado para entregar a partida. 

O presidente argentino Jorge Videla, general que comandou a fase mais sangrenta da ditadura, até fez uma misteriosa visita ao vestiário dos peruanos antes da partida. Há quem sustente que o governo argentino enviou toneladas de grãos ao Peru como pagamento.

A Argentina foi à final em Buenos Aires contra a Holanda, vice-campeã de 1974, que desta vez não contava com o gênio Johan Cruyff. Soldados armados cercavam o campo. A torcida fez sua tradicional chuva de papel picado.

Kempes abriu o placar no 1º tempo lutando contra a zaga na área. Tudo parecia sob controle quando, aos 37 do 2º tempo, Nanninga (que entrou durante o jogo) empatou de cabeça.

Um triz. Foi o que salvou a Argentina no tempo normal. No último lance, o ponta Rensenbrink escapou sozinho e, na saída de Fillol, tocou. A bola acertou o pé da trave direita argentina.

Na prorrogação, novamente numa jogada mascada, Kempes fez o segundo e se tornou artilheiro da Copa com 6 gols. A cinco minutos do fim, Bertoni definiu o placar em 3 a 1.

Infelizmente, foi o ditador Videla quem entregou a Taça Fifa ao capitão Passarella.

1982

Houve troca de papéis na Espanha. A França foi sensação e a Argentina decepcionou.

Com praticamente o mesmo time de 1978, com os acréscimos de Maradona e do atacante Ramón Díaz, a Argentina chegou como favorita. No jogo inaugural, perdeu por 1 a 0 para a Bélgica, vice-campeã europeia. Corrigiu a rota fazendo 4 a 1 na Hungria e 2 a 0 em El Salvador. Passou em 2º no grupo.

A segunda fase tinha quatro grupos de três países. A Argentina caiu no “grupo da morte” com o espetacular Brasil e a Itália, que fez uma péssima primeira fase.

Porém, a Itália resolveu jogar bola a partir dali. E venceu a Argentina por 2 a 1, com o zagueiro Gentile anulando Maradona.

Para manter qualquer esperança de bi, a Argentina tinha de vencer o Brasil e depois esperar o confronto da nossa seleção com a Itália. Não houve chance. Zico já abriu o placar aos 11 minutos.

Na melhor exibição do Brasil, Serginho e Júnior ampliaram no 2º tempo e Ramón Díaz descontou aos 44 minutos, definindo o 3 a 1. Maradona foi expulso aos 40 ao meter o pé nos genitais do volante Batista, irritado com o olé brasileiro.

Já a França consolidou a geração que já prometia em 1978. O começo não foi bom. Perdeu na estreia para a Inglaterra por 3 a 1. Goleou o Kuwait por 4 a 1 e decidiu o 2º lugar diretamente com a Tchecoslováquia. Empate de 1 a 1, mas o checo Nehoda acertou a trave no último minuto.

Na segunda fase, a França pegou embalo. O time de Trésor, Platini, Lacombe, Six e do novato Tigana finalmente acordou. Bateu a Áustria por 1 a 0 e atropelou a Irlanda do Norte por 4 a 1.

Na semifinal contra a Alemanha Ocidental em Sevilha, Littbarski marcou aos 17 minutos e Platini empatou de pênalti aos 25. 

No 2º tempo, o jogo ficou mais belo e disputado. Mas houve a falta assassina do goleiro alemão Schumacher, que saiu da área e foi com tudo no corpo do francês Battiston, que escapou sozinho. O jogador agredido saiu desacordado. E o agressor não recebeu nem cartão amarelo.

Veio a prorrogação. E a França começou a dar show, abrindo 3 a 1. Mas os obstinados alemães chegaram ao 3 a 3 com Rummenigge e Fischer, de bicicleta. 

Nos pênaltis, Bossis perdeu a última cobrança e os alemães foram para a final. A França ainda perdeu a decisão de 3º lugar para a Polônia por 3 a 2.

1986

A Argentina passou sufoco nas eliminatórias e quase viu o pesadelo de 1969 se repetir. Só que, desta vez, o empate de 2 a 2 com o Peru em Buenos Aires favoreceu a albiceleste. Já a França não teve maiores problemas para garantir sua vaga.

A seleção argentina foi quase toda renovada pelo técnico Carlos Bilardo, que substituiu Menotti com uma filosofia pragmática e catimbeira. Os remanescentes eram Maradona, que se tornou capitão, e Passarella, o capitão deposto.

A relação de Passarella com o resto da equipe não era boa. E problemas estomacais fizeram com que ele não entrasse em campo no México. Ganhou medalha sem atuar.

Já a França, campeã europeia em 1984, seguia liderada por Platini, junto a Tigana, Giresse e Luis Fernández no meio-campo.

Na primeira fase, a Argentina já entrou aquecida. Fez 3 a 1 na Coreia do Sul, empatou com a Itália em 1 a 1 com um golaço de Maradona e passou facilmente pela Bulgária com 2 a 0.

A França estava em marcha lenta sob o sol de torrar. Contentou-se com 1 a 0 sobre o Canadá, empatou em 1 a 1 com a União Soviética e enfiou 3 a 0 na Hungria.

Os mata-matas a partir da segunda fase retornaram à Copa. A Argentina fez um clássico sul-americano com o Uruguai e venceu por 1 a 0. E a França despachou uma decepcionante Itália por 2 a 0.

Nas quartas-de-final, dois jogos épicos. Primeiro, a França enfrentou o Brasil num dos mais bonitos jogos da história das Copas. No 1º tempo, Careca abriu o placar e Platini empatou.

No 2º tempo, o jogo ficou cada vez mais alucinante. Branco foi lançado na área e foi derrubado pelo goleiro Bats. Zico, que tinha entrado minutos antes, foi para a cobrança. Ainda frio, bateu mal e Bats pegou.

O 1 a 1 persistiu na prorrogação com os dois times exaustos pelo calor. Nos pênaltis, Sócrates e Platini perderam cobranças. A última foi do zagueiro Júlio César, que carimbou a trave e classificou os franceses.

No dia seguinte, Argentina contra Inglaterra, quatro anos depois da Guerra das Malvinas/Falklands entre os dois países. Engasgados pela derrota no conflito e até mesmo pelo tumultuado jogo de 1966, os argentinos entraram com sede de vingança. Maradona especialmente.

O jogo pegou fogo no 2º tempo. Aos 6 minutos, uma bola rebatida foi para a área inglesa. O baixinho Maradona saltou com o goleiro Shilton e deu um soquinho na bola para encobrir o rival e fazer o gol.

O árbitro tunisiano Ali Bin Nasser deve ter sido o único ser humano da Terra que acreditou que Maradona cabeceou a bola e validou o lance.

Quatro minutos depois, Maradona fez aquele que foi eleito o gol mais bonito das Copas. Ainda no campo da Argentina, ele dominou e saiu em disparada driblando meio time inglês. Entrou na área e, na saída do goleiro Shilton, tocou para as redes.

Lineker descontou aos 36 minutos e ele mesmo teve a chance de ouro de empatar, mas a bola foi salva pela nuca do lateral Olarticoechea quase em cima da linha. Fim de jogo, 2 a 1.

Nas semifinais, a França sentiu o cansaço do jogo contra o Brasil. Perdeu por 2 a 0 para a Alemanha, com direito a frango do goleiro Bats numa cobrança de falta de Brehme logo aos 9 minutos.

Maradona deu mais um show com dois belos gols na vitória de 2 a 0 sobre a Bélgica. 

Nos cinco minutos finais, entrou o veterano Bochini, um dos melhores jogadores argentinos desde a década de 1970 e ídolo do próprio Maradona, mas que só agora disputava sua primeira Copa. O camisa 10 recebeu o craque em campo com um “Bem-vindo, maestro”.

A França acabou em 3º ao vencer a Bélgica por 4 a 2. E a Argentina fez a final contra a Alemanha Ocidental no estádio Azteca, na Cidade do México, o mesmo da final da Copa de 1970.

A Argentina abriu o placar no 1º tempo com o zagueiro Brown e ampliou com Valdano no começo do 2º. Mas a Alemanha nunca desiste e conseguiu empatar com Rummenigge e Völler.

Com nove minutos para o fim do tempo normal, tudo indicava uma prorrogação. Só que, aos 39 minutos, Maradona dominou no círculo central e fez um lançamento magistral para a corrida de Burruchaga, que definiu a vitória por 3 a 2.

Capitão, Maradona ergueu a Taça Fifa e se consagrou como um dos principais personagens dos mundiais.

1990

Campeã, a Argentina não disputou as eliminatórias. Já a França vivia uma entressafra e perdeu as duas vagas de seu grupo para Iugoslávia e Escócia. 

O técnico era Michel Platini e os jovens valores eram os zagueiros Silvestre, Blanc e Deschamps, além do atacante Cantona, junto aos remanescentes Bats, Battiston, Amoros, Tigana e Papin.

A Argentina chegou à Itália com Maradona com problemas num dos tornozelos. No jogo inaugural foi surpreendida com uma derrota por 1 a 0 para Camarões. No jogo seguinte, 2 a 0 na União Soviética. 

A “mão de Deus” de Maradona entrou em ação novamente evitando um gol em cima da linha – o árbitro não viu. E o goleiro Pumpido quebrou a perna num choque com o lateral Olarticoechea. Goycochea entrou na fogueira.

A Argentina se classificou em 3º lugar após empatar em 1 a 1 com a Romênia. Nas oitavas, duelo com o Brasil. A Seleção do técnico Sebastião Lazaroni fez sua única atuação decente no mundial, perdendo chances e carimbando as traves argentinas repetidamente.

Aos 36 do 2º tempo, Maradona foi avançando rumo à meta brasileira apesar de manquitolar com o tornozelo inchado. Ninguém tentou desarmá-lo. Com toda a zaga amarelinha indo em direção de Maradona, Caniggia ficou livre. Dieguito lançou o colega loiro que, sozinho diante de Taffarel, marcou o único gol do jogo.

Nas quartas, 0 a 0 com a Iugoslávia e decisão por pênaltis. Maradona viu sua cobrança ser defendida por Ivković. Mas Goycochea defendeu pênaltis e garantiu a vitória argentina.

A semifinal contra a Itália foi em Nápoles, casa de Maradona que atuava pelo Napoli. Ele tentou fazer a torcida local torcer por ele e pela Argentina, já que o sul italiano sofre preconceito do rico norte. Não deu muito certo.

Schillaci abriu o placar para a invicta Itália aos 17 minutos. Mas Caniggia empatou aos 22 do 2º tempo. De novo, decisão por pênaltis. E Goycochea defendeu os chutes de Donadoni e Serena, levando a Argentina a mais uma final. De novo contra a Alemanha Ocidental.

Foi a final mais horrível de todas. Com muitos jogadores suspensos por cartões, inclusive o artilheiro Caniggia, o time remendado da Argentina partiu para o anti-jogo, sonhando com pênaltis. A Alemanha também apresentou um futebol medíocre.

Aos 20 do 2º tempo, Monzón tornou-se o primeiro jogador expulso numa final. Aos 40, Klinsmann se atirou na área e o árbitro mexicano Edgardo Codesal marcou pênalti. Brehme cobrou e fez o único gol do jogo. 

Ainda houve tempo para Dezotti ser o segundo expulso. Só restou a Maradona chorar com o vice.

1994

A França conseguiu não se classificar de novo. Com uma vaga praticamente garantida (a outra ficou com a Suécia), os franceses sofreram duas derrotas inacreditáveis em Paris nos seus últimos jogos. 

Primeiro, 3 a 2 para Israel, já eliminado. E, na partida derradeira, derrota de virada por 2 a 1 para a Bulgária com um gol de contra-ataque literalmente no último lance.

A Argentina também sofreu. Com Alfio Basile como técnico no lugar de Carlos Bilardo, ganhou a Copa América em 1991 e 1993. Mas, nas eliminatórias, perdeu em Buenos Aires por 5 a 0 para a Colômbia e foi obrigada a disputar uma vaga com a Austrália, campeã do grupo da Oceania.

Até então, Maradona não estava. Foi suspenso por um ano e meio por doping em 1991. Rompeu contrato com o Napoli, voltou para Buenos Aires e, em seguida, foi preso por porte de cocaína. Em 1992, voltou ao futebol pelo Sevilla, da Espanha, mas foi apagado.

Em 1993, foi parar no Newell’s Old Boys de Rosário. No desespero, Basile chamou Maradona para os jogos contra a Austrália. Em Sydney, 1 a 1. Em Buenos Aires, uma vitória suada de 1 a 0.

Pensando na Copa, Maradona entrou num esquema intensivo de preparação para entrar em forma. Emagreceu bem e foi com o grupo para os EUA. Na estreia, fez um belo gol nos 4 a 0 sobre a Grécia. Comemorou rugindo com cara intensa para a lente de uma câmera de TV.

Contra a Nigéria, os africanos abriram o placar, mas Maradona desequilibrou com jogadas que levaram aos dois gols de Caniggia. Após a vitória de 2 a 1, uma enfermeira entrou em campo para levar Diego para o exame antidoping.

O teste deu positivo para efedrina, uma substância usada em regimes alimentares mas proibida no futebol. Maradona foi imediatamente suspenso e desligado da delegação.

Abalada, a seleção perdeu por 2 a 0 para a Bulgária mas se classificou em 3º, atrás de nigerianos e búlgaros. Nas oitavas, a Argentina fez um grande jogo contra a Romênia, mas perdeu por 3 a 2 para a Romênia e voltou para casa.

1998 

Depois de ficar de fora de duas Copas seguidas, a França fez uma renovação quase total para o torneio no qual foi sede. O técnico Aimé Jacquet assumiu após o fracasso nas eliminatórias em 1993 e fez um planejamento de longo prazo.

Jogadores mais experientes como Blanc e Deschamps ganharam a companhia de revelações daquele ciclo como Vieira, Desailly, Youri Djorkaeff, Lizarazu, Pires, Petit, Trezeguet, Henry, Thuram e o calvo precoce Zinedine Zidane, herdeiro da camisa 10 de Platini.

Já a Argentina tinha no comando o ex-capitão Daniel Passarella. Um linha-dura que abriu mão de contar com o ótimo volante Redondo porque este se recusou a cortar seu cabelo comprido. A campanha nas eliminatórias foi tranquila.

Na primeira fase, os franceses estrearam com 3 a 0 sobre a África do Sul. Nos 4 a 0 sobre a Arábia Saudita, o temperamental Zidane foi expulso por pisar num adversário – ganhou dois jogos de suspensão. A França fechou o grupo batendo a Dinamarca por 2 a 1.

Já a Argentina passou tranquilamente por seu grupo, com três vitórias: 1 a 0 no Japão, 5 a 0 na Jamaica e 1 a 0 na Croácia.

Nas quartas, a França se enroscou com a ótima defesa do Paraguai e o gol da vitória só saiu aos 9 do 2º tempo da prorrogação com o zagueiro Blanc. Foi o primeiro Gol de Ouro das Copas, aquele que encerra o jogo na prorrogação. Uma regra que só vigorou em 1998 e 2002.

A Argentina encarou sua velha inimiga Inglaterra. Num 1º tempo alucinante, Batistuta abriu o placar de pênalti aos 5 minutos. Shearer empatou aos 9, também de pênalti. Michael Owen, de 18 anos, virou fazendo o golaço daquela Copa. E Zanetti estabeleceu 2 a 2 aos 46.

No 2º tempo, a Inglaterra teve David Beckham expulso logo aos 2 minutos por um pisão em Simeone. E o placar não mudou até o fim da prorrogação. Nos pênaltis, Argentina 4 a 3.

Nas quartas, com Zidane de volta, a França só eliminou a Itália nos pênaltis, após 120 minutos de 0 a 0. Já a Argentina foi eliminada Holanda por 2 a 1. 

Com o jogo empatado em 1 a 1, o camisa 10 Ariel Ortega foi expulso por uma cabeçada no goleiro Van der Sar aos 42 do 2º tempo. Três minutos depois, um longo lançamento encontrou Bergkamp na área. Com um toque, ele dominou a bola e se safou do zagueiro Ayala. Imediatamente chutou com o outro pé e fez o gol da vitória.

Na semifinal, a França encarou a surpresa da Copa, a Croácia. Que abriu o placar aos 2 minutos do 2º tempo com Šuker. Imediatamente a seguir, o lateral-direito Lilian Thuram empatou. E, aos 25, o mesmo Thuram fez o gol da virada. Foram seus dois únicos gols pela seleção em 14 anos de serviços prestados.

Na final contra o então campeão Brasil, é claro que houve o misterioso piripaque de Ronaldo Fenômeno na concentração para abalar o escrete do técnico Zagallo. Mas não há como negar que Zidane mandou no jogo e fez história com seus dois gols de cabeça no 1º tempo. 

Petit ainda fez 3 a 0 aos 48 do 2º tempo. E Didier Deschamps ergueu a Taça Fifa. A França se tornava de vez uma seleção de primeiro nível.

2002

Na Copa disputada no Japão e na Coreia do Sul, ambos chegaram como favoritos. E ambos foram para casa muito cedo.

A França, campeã do mundo em 1998 e da Europa em 2000, perdeu Zidane para os dois primeiros jogos por uma contusão num amistoso absolutamente desnecessário contra a Coreia do Sul.

Na estreia, perdeu por 1 a 0 para Senegal no jogo inaugural. Na sequência, 0 a 0 com o Uruguai. Para o jogo contra a Dinamarca, última chance de tentar uma classificação, Zidane foi para o sacrifício com a coxa contundida enfaixada. 

Não adiantou. Os dinamarqueses venceram por 2 a 0. A França foi eliminada sem marcar um golzinho sequer.

A Argentina do técnico Marcelo “El Loco” Bielsa arrasou nas eliminatórias sul-americanas e chegou com pose de imbatível. Na estreia, ficou apenas no 1 a 0 contra a Nigéria, gol de Batistuta. 

Veio a inimiga eterna Inglaterra. Derrota de 1 a 0, gol de pênalti de Beckham, que se redimiu da expulsão em 1998.

Com a vaga em risco, a Argentina enfrentou a Suécia, que armou uma retranca sólida. E abriu o placar no 2º tempo, se retrancando ainda mais. Os argentinos foram para um abafa desesperado e finalmente empataram aos 43 do 2º tempo com Crespo. Mas a vitória não veio nos acréscimos. Adeus logo na primeira fase.

2006 

A Argentina parou na dona da casa Alemanha e a França foi do quase fracasso até a disputa da final. Duas histórias distintas.

Com José Pékerman no lugar do “Loco” Bielsa, a Argentina mandou um time muito decente para a Alemanha. Tinha Sorín, Mascherano, Saviola, Crespo e o mago Riquelme, além de Aimar, Tevez e o jovem Lionel Messi no banco.

Já a França teve momentos tensos nas eliminatórias e o técnico Raymond Domenech implorou que Zidane, que declarou sua aposentadoria da seleção após a Eurocopa de 2004, retornasse ao esquadrão. Ele se reuniu aos velhos amigos Barthez, Thuram, Vieira e Henry, e aos mais jovens Ribéry e Makélélé.  

Na primeira fase, a Argentina despachou a Costa do Marfim por 2 a 1 e Sérvia e Montenegro por 6 a 0 – Messi entrou no 2º tempo e fez seu primeiro gol em Copas. Concluiu com um 0 a 0 de compadres classificados com a Holanda (primeiro jogo de Messi como titular numa Copa).

A França começou meio cambaleante. Ficou no 0 a 0 com a Suíça e no 1 a 1 com a Coreia do Sul. Garantiu sua vaga com uma vitória burocrática de 2 a 0 sobre o fraco Togo.

Vieram as oitavas-de-final. A Argentina eliminou o México com 2 a 1 de virada, com um golaço de Maxi Rodríguez na prorrogação. A França despertou diante da Espanha e venceu de virada por 3 a 1, na primeira grande exibição de Zidane na Copa.

Nas quartas, a Argentina encarou a anfitriã Alemanha. Abriu o placar com Ayala aos 4 minutos do 2º tempo e parecia com o jogo controlado. Aos 27, inexplicavelmente o técnico Pékerman tirou Riquelme. Inexplicavelmente, nem cogitou tirar Messi do banco e colocá-lo em campo.

O castigo veio faltando dez minutos para o fim. Klose empatou em 1 a 1 de cabeça. Houve prorrogação e o empate continuou.

Nos pênaltis, o goleiro alemão Lehmann ganhou uma guerra psicológica. Ele tirou da meia um papel no qual estavam anotadas as maneiras preferidas pelos argentinos para cobrar pênaltis. Verdade ou não, os hermanos ficaram com dúvidas. Ayala e Cambiasso perderam suas cobranças e a Alemanha se classificou por 4 a 2.

Já a França se deparou com o preguiçoso Brasil de muitos talentos e pouco futebol na prática. Zidane fez um jogo majestoso, uma das melhores atuações individuais das Copas. Deu até chapéu. Aos 12 do 2º tempo, cobrou uma falta na esquerda cruzando para a entrada de Henry, que fez o gol sem marcação. O Brasil já estava entregue ali.

Na semifinal, a França bateu Portugal por 1 a 0 com gol de pênalti de Zidane. E a final contra a Itália começou do mesmo jeito. Gol de pênalti de Zidane logo aos 7 minutos. E de cavadinha.

Só que a Itália empatou aos 19 com Materazzi. E o jogo seguiu parelho até a prorrogação.

A França tinha bom domínio da partida. Até que, aos 5 do 2º tempo da prorrogação, Zidane deu uma cabeçada inexplicável em Materazzi e recebeu cartão vermelho. 

Ele disse depois que teve sua mãe e irmã ofendidas pelo italiano. Ao cair na provocação, o camisa 10 pode ter aniquilado as chances da França.

Nos pênaltis, Trezeguet perdeu sua cobrança e a Itália venceu por 5 a 3.

2010

Tempos complicados nas eliminatórias. A França só se garantiu num play-off com a Irlanda, com Thierry Henry conduzindo a bola com a mão na jogada do gol no empate de 1 a 1 em Paris. E o excêntrico técnico Domenech se distanciava cada vez mais dos principais jogadores.

A Argentina sofreu. O técnico Alfio Basile, da Copa de 1994, retornou em 2006 e se demitiu em 2008 após a campanha cambaleante nas eliminatórias. A solução? Diego Armando Maradona.

“El Dios” tinha um pífio currículo de técnico. Tinha dirigido apenas o minúsculo Mandiyú em 1994 e o grande Racing em 1995, com resultados fracos. Mas a AFA apostava no carisma do eterno ídolo nacional.

Com Maradona no comando, a Argentina foi humilhada pela Bolívia em La Paz com uma goleada de 6 a 1 e perdeu por 3 a 1 para o Brasil em casa. 

Classificou-se graças a vitórias épicas nas duas últimas rodadas: 2 a 1 de virada sobre o Peru debaixo de um dilúvio em Buenos Aires e 1 a 0 sobre o Uruguai em Montevidéu.

Veio a Copa na África do Sul. Na primeira fase, a França caiu no grupo do país-sede. Domenech deixou de fora da convocação Vieira e o jovem Benzema e levou jogadores comuns em seus lugares. 

O ambiente era péssimo. Na véspera da estreia, o capitão Evra avançou no treinador e teve de ser contido pela turma do deixa disso.

Na estreia, 0 a 0 com o Uruguai. Em seguida, derrota de 2 a 0 para o México. No intervalo, houve um bate-boca acalorado entre o craque Anelka e o técnico. Anelka não voltou a campo e foi cortado no dia seguinte.

Em solidariedade a Anelka, os jogadores se recusaram a treinar. Só foram convencidos a retomar os trabalhos depois que um manifesto deles foi publicado. Sem qualquer condição psicológica, a França perdeu por 2 a 1 para a África do Sul e foi eliminada.

A Argentina teve um pouco mais de sorte por algum tempo. Bateu a Nigéria por 1 a 0, a Coreia do Sul por 4 a 1 e a Grécia por 2 a 0. O esquema tático era uma bagunça e Messi fazia o que podia para organizar o circo montado por Maradona.

Nas oitavas, a Argentina bateu o México por 3 a 1, com direito a um gol irregular de Tevez. Por alguns dias, pareceu que a mística de Maradona bastaria para levar a Argentina a mais um título.

Essa ilusão acabou nas quartas. Contra a Alemanha, a Argentina já tomou gol logo aos 3 minutos. Levou outros três no 2º tempo. Em nenhum momento do jogo os argentinos pareceram capazes de reagir. 

Messi saiu de campo sem fazer um golzinho no torneio. E a experiência de Maradona como técnico da seleção acabou ali mesmo.

2014

Duas boas campanhas. Sem título. Argentina e França foram bem na Copa no Brasil. Mas faltou algo a ambos. E houve um grande empecilho no caminho de ambas: a Alemanha.  

Com o ex-capitão Didier Deschamps estreando como técnico em Copas, a França montou um time de respeito com Lloris, Evra, Varane, Pogba, Benzema, Griezmann, Giroud e Sissoko. 

Na primeira fase, 3 a 0 sobre Honduras, 5 a 2 na Suíça e um 0 a 0 com o Equador. Nas oitavas, 2 a 0 sobre a Nigéria. Eis que veio a Alemanha no Maracanã pelas quartas-de-final. 

Um gol de Hummels logo aos 13 minutos matou a França bem cedo. Mesmo com um bom time, Les Bleus não conseguiram reagir e deixaram a Copa. Mas a semente para 2018 já estava germinando.

A Argentina veio com o ex-craque Alejandro Sabella como técnico. Messi tinha a companhia de Mascherano, Di María, Gago, Agüero e Higuaín. 

Na primeira fase, 2 a 1 sobre a Bósnia-Herzegovina, 1 a 0 no Irã (gol de Messi aos 46 do 2º tempo) e 3 a 2 sobre a Nigéria. Três vitórias cumpridoras, sem brilhantismo.

Nas oitavas, um jogo cheio de sustos contra a Suíça. O único gol foi de De María aos 13 do 2º tempo da prorrogação. Nas quartas, um gol de Higuaín definiu o 1 a 0 sobre a Bélgica logo aos 8 minutos.

Na semifinal em São Paulo, a velha conhecida Holanda. Jogo truncado, de estudo e 0 a 0. Na prorrogação, Mascherano salvou a Argentina com um carrinho certeiro em cima de Robben, no qual o zagueiro garantiu que machucou seu ânus. Nos pênaltis, deu Argentina por 4 a 2.

A final foi mais uma vez contra os alemães. Messi foi apagado. Higuaín perdeu um gol incrível no 1º tempo. Na prorrogação, Mario Götze marcou o gol do título para a Alemanha aos 8 minutos do 2º tempo. Messi passava mais uma Copa sem ser campeão.

2018

Uma Copa em que os dois países fizeram um duelo lindo nas oitavas-de-final. Mas teve história antes disso.

Para o mundial na Rússia, o técnico Deschamps refinou o potencial demonstrado em 2014. Aos valores daquela Copa, foram acrescentados Kanté, Dembélé e a revelação de 19 anos Kylian Mbappé.

Na primeira fase, 2 a 1 na Austrália (o primeiro jogo de Copa a ter decisão de VAR num lance), 1 a 0 no Peru e 0 a 0 com a Dinamarca com time misto.

A Argentina tinha Messi mais 22. E o intenso técnico Jorge Sampaoli bagunçando a cabeça do time. A estreia foi um inesperado empate de 1 a 1 com a Islândia, com Messi perdendo um pênalti. 

A seguir, uma derrota humilhante para a Croácia por 3 a 0. Com Maradona chorando nos camarotes, Sampaoli esteve muito perto de ser demitido ali mesmo. Escapou do facão. Mas nada parecia certo na seleção.

Suando, a Argentina conseguiu sua vaga ao vencer a Nigéria (sim, de novo) por 2 a 1 com um gol de Rojo aos 41 do 2º tempo. Alucinado, Maradona comemorou lá em cima mostrando os dedos médios das duas mãos para quem duvidava do time.

O duelo direto veio nas oitavas em Kazan. Griezmann já tinha chutado uma bola no travessão quando Mbappé disparou como Usain Bolt rumo à área argentina até ser derrubado na área. Griezmann cobrou o pênalti aos 13 minutos e fez 1 a 0.

Na garra, a Argentina reagiu e empatou antes do intervalo com De María. No 2º tempo, a Argentina virou aos 3 minutos com Mercado. Mas o lateral Pavard fez um golaço e empatou aos 12. 

O endiabrado Mbappé fez o terceiro e o quarto da França. Agüero ainda marcou o terceiro da Argentina aos 48 minutos. Houve uma tentativa de buscar o empate milagroso, mas a partida acabou 4 a 3 para Les Bleus.

Jogando cada vez melhor, a França eliminou o Uruguai por 2 a 0 nas quartas e a Bélgica por 1 a 0 na semifinal. 

Na final contra a Croácia, um gol contra do atacante Mandžukić aos 18 minutos abriu o placar para a França. Perišić empatou dez minutos depois. E, dez minutos depois disso, Griezmann fez 2 a 1 de pênalti. 

No 2º tempo, um passeio francês. Pogba e Mbappé fizeram golaços. E Mandžukić tornou-se o primeiro jogador a fazer gols a favor e contra numa final de Copa ao aproveitar uma bobeada de jogo de churrasco do goleiro Lloris.

Acabou 4 a 2. O capitão Hugo Lloris ergueu o troféu e a França ampliou seu status no futebol mundial. O resto da história será definido no Catar neste domingo.

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Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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