As chances são poucas, mas o asteroide Bennu pode colidir com a Terra

O objeto de 500 metros de largura pode colidir com a Terra, mas as chances permanecem excepcionalmente baixas.
Imagem: NASA/Goddard/Universidade do Arizona

Os dados coletados durante os anos que a espaçonave OSIRIS-REx da NASA passou girando em torno do asteroide Bennu permitiram que cientistas atualizassem o risco representado por este objeto potencialmente perigoso que está próximo à Terra.

A OSIRIS-REx está voltando para solo terrestre, carregando amostras de superfície que coletou de Bennu. De dezembro de 2018 a maio de 2021, a espaçonave estudou a gigantesca rocha, medindo seu tamanho, forma, massa, composição, rotação, trajetória orbital e outras características importantes. 

Bennu é um asteroide carbonáceo (rico em carbono). Portanto, ao estudar este objeto, os cientistas podem fazer inferências sobre como era o nosso sistema solar durante seu período de formação.

Mas há muito mais nesta missão de 800 milhões de dólares do que apenas procurar moléculas orgânicas ou sinais de água e elementos pesados. Bennu está atualmente classificado em segundo lugar na lista de asteroides potencialmente perigosos, destacando a importância de aprender o máximo que pudermos sobre isso – especialmente a dinâmica orbital que dita seus movimentos futuros.

A nova pesquisa, publicada na Icarus, faz exatamente isso, fornecendo uma trajetória refinada de Bennu até o ano 2300. Os misantropos – repulsa aos seres humanos – entre vocês podem ficar satisfeitos em saber que Bennu ainda tem uma chance, muito pequena, de atingir nosso planeta no próximo século. Contudo, as chances de uma colisão durante o ano 2300 permanecem muito baixas: elas agora são estimadas em cerca de 1 em 1.750, ou 0,057%.

Com os dados coletados pela sonda, combinados com modelos de computador e a rede de antenas internacionais Deep Space Network da NASA, os cientistas conseguiram medir a posição de Bennu em relação à Terra, com uma escala de metros. 

Em coletiva de imprensa, Davide Farnocchia, o principal autor do novo artigo e pesquisador do Centro de Estudos de Objetos Perto da Terra no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, Califórnia, disse que é um resultado “impressionante”. Dante Lauretta, um co-autor do estudo e principal investigador da OSIRIS-REx na Universidade do Arizona, disse que a “incrível precisão” permitiu à equipe caracterizar os parâmetros orbitais do asteroide e prever melhor onde estará no futuro. Ele disse: “Conseguimos uma das órbitas mais conhecidas em todo o catálogo de asteroides”, fazendo referência a Bennu. 

O novo modelo permitiu aos pesquisadores eliminar 24 dos 26 buracos de fechadura possíveis para Bennu que foram previstos para existir em 11 de setembro de 2135, quando o asteroide está programado para passar com segurança pela Terra. Os buracos da fechadura gravitacionais podem ser comparados a portais fictícios que levam os personagens a linhas do tempo alternativas (os fãs da nova série Loki sabem do que estou falando). 

No entanto, os buracos da fechadura são muito reais e as notícias não são boas — não queremos que asteroides passem pelos buracos da fechadura, pois são portais que levam os asteroides às trajetórias orbitais que ameaçam a Terra.

Não há chance de um impacto durante este encontro em 2135, disse Farnocchia, mas Bennu estará perto da Terra — cerca de metade da distância da Terra à Lua — e isso mudará a trajetória do asteroide. Para saber essa mudança na trajetória, no entanto, os cientistas precisam considerar os buracos da fechadura gravitacionais. 

A nova pesquisa descreve dois buracos de fechadura que possibilitaria isso, incluindo um que envolveria uma colisão entre a Terra e Bennu em 24 de setembro de 2182 (marque seus calendários), mas a probabilidade é pequena, de 1 em 2.700, ou 0,037%. Como Farnocchia lembrou repetidamente aos repórteres durante a coletiva de imprensa, “não há motivo para preocupação”.

A razão de ainda haver tanta incerteza é por conta das variáveis. Isaac Newton descreveu um universo que funciona com a precisão de um relógio, mas o relógio que é o nosso sistema solar apresenta um número incontável de peças móveis. Essas influências perturbadoras incluem coisas como a gravidade do Sol, os planetas, todas as luas, centenas de asteroides, poeira interplanetária e o vento solar.

Trajetórias

Para o novo estudo, Farnocchia e seus colegas tentaram levar em consideração todas variáveis ​​possíveis para prever a trajetória futura de Bennu, incluindo as massas de 343 asteroides conhecidos. Eles até foram responsáveis ​​por uma possível cutucada exercida pelo OSIRIS-REx quando ele agarrou uma amostra do material da superfície em 20 de outubro de 2020 e pedaços de detritos que estão naturalmente caindo de Bennu (ambas coisas não são tão relevantes).

Há também o efeito Yarkovsky a ser considerado. Isso é o que acontece quando um objeto absorve radiação do Sol e essa radiação vaza. Esse fato altera o momento de um objeto no espaço, fazendo com que ele se desvie ligeiramente do caminho ditado pela gravidade. Esse efeito é muito leve, mas torna-se significativo em vastas escalas de tempo. O OSIRIS-REx reuniu informações valiosas – informações difíceis, senão impossíveis de coleta do solo – que foram usadas para calcular o efeito Yarkovsky enquanto Bennu viajava ao redor do Sol. Isso “nos ajudou a modelar o movimento futuro de Bennu”, acrescentou.

Curiosamente, as amostras coletadas pelo OSIRIS-REx podem ampliar nosso entendimento de como o efeito Yarkovsky pode continuar a mudar a trajetória de Bennu. A análise das amostras de superfície poderia “expor mudanças no asteroide ao longo do tempo, como intemperismo (decomposição) da superfície”, o que “aumentaria nossa compreensão de um dos parâmetros mais importantes para determinar a trajetória orbital”, como Lauretta explicou em resposta.

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A nova pesquisa fornece as estimativas mais sólidas do futuro de Bennu até o momento, mas ainda há espaço para melhorias. Os pesquisadores gostariam de explicar a influência gravitacional de todos os asteroides do sistema solar; determinar a massa desses corpos seria “um grande passo adiante”, disse Farnocchia. Medições aprimoradas da massa e densidade de Bennu, que ainda são incertas, também ajudariam. Bennu é uma pilha solta de rochas e poeira que provavelmente apresenta cavidades vazias e uma distribuição irregular de materiais abaixo da superfície.

E agora esperamos pelo dia 24 de setembro de 2023, quando o OSIRIX-REx voltará à Terra com suas amostras. Lauretta disse que a missão está em “grande forma”, o que obviamente é uma boa notícia. Ainda há muito a aprender sobre este fascinante asteroide – e possivelmente preocupante.

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