Etiquetas de madeira usadas para identificar múmias podem ajudar a entender as crises climáticas que a Terra já atravessou. É o que dizem pesquisadores da Universidade de Genebra e da Universidade de Basileia, na Suíça, em um artigo científico publicado em janeiro.
Familiares colocavam as peças de madeira junto aos corpos dos mortos antes de enviá-los ao embalsamador. Além do nome do falecido, a etiqueta levava uma mensagem religiosa – um símbolo de despedida e uma forma de identificar os corpos antes da mumificação.
Além da óbvia curiosidade sobre quem eram as múmias nas antigas civilizações, as etiquetas também trazem informações preciosas sobre o clima da época. O motivo: assim como todos os artefatos de madeira, as tags apresentam anéis de crescimento, os desenhos circulares que aparecem em troncos cortados e indicam a idade das árvores.
Segundo os cientistas, anos de clima estável aparecem como anéis largos, indicando que a árvore cresceu mais rápido. Já os anéis mais estreitos podem ser evidência de anos de seca.
No estudo, os pesquisadores analisaram as sequências de anéis da madeira de mais de 300 etiquetas. Aí, então, identificou as sobreposições – ou seja, os casos em que os desenhos combinavam.
Nas sobreposições, a equipe identificou um esboço inicial de como era o clima no Mediterrâneo oriental (onde hoje fica o Líbano), nas ilhas da Grécia e na foz do Rio Nilo. Há evidências de que civilizações antigas colhias árvores como pinheiros, ciprestes e cedros nessas regiões.
Viagem no tempo
“Identificamos alguns anos de clima estável e uma infeliz sucessão de secas, mas as datas reais ainda não são claras”, explicou François Blondel, o principal autor do estudo. “Ainda não podemos atribuir uma data precisa aos anéis e aos eventos que eles registram”.
Este é o próximo passo. A equipe de pesquisadores deve combinar mais amostras de madeira instaladas em múmias e reduzir as datas estatisticamente para identificar quando as crises climáticas podem ter ocorrido.
Mas isso só acontecerá quando os cientistas obtiverem permissão dos museus para realizar análises de radiocarbono – uma forma mais avançada (e invasiva) de identificar a idade de um pedaço de madeira.
Se isso acontecer, os pesquisadores trarão mais uma evidência sobre as flutuações climáticas da Terra no passado. Ainda que sejam insignificantes ante a crise climática atual, essas mudanças teriam sido agentes importantes para fazer (e desfazer) grandes civilizações, como o Império Romano.