Uma dose de aspirina pode fazer mais do que apenas aliviar sua dor de cabeça, sugere um novo estudo – ela também pode proteger seus pulmões da poluição do ar.
A poluição do ar prejudica nosso corpo de várias maneiras, tanto a curto quanto a longo prazo. Isso inclui irritar e inflamar células pulmonares. Portanto, faz sentido que a aspirina e outros anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) possam ter um efeito protetor.
Há até pesquisas mostrando que o uso diário de aspirina está associado a um risco reduzido e a uma progressão mais lenta da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), uma condição pulmonar caracterizada por inflamação crônica que pode ser causada ou agravada por poluentes do ar, como a fumaça do tabaco.
Mas, de acordo com os autores deste novo estudo, publicado no final do mês passado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, não sabemos se os AINEs poderiam mitigar os efeitos agudos da poluição nos pulmões. Para remediar isso, eles analisaram os dados de um estudo em andamento de veteranos.
O estudo de longa data acompanha a saúde de mais de 2.000 veteranos na área da grande Boston desde os anos 1960, incluindo a função pulmonar. E desde 1995, também foi medida regularmente a qualidade do ar dessa mesma área.
Com isso, os autores puderam comparar os pulmões dos voluntários que relataram tomar AINEs no mês passado com aqueles que não tomaram, após a exposição à poluição do ar na área. Ao todo, foram incluídos dados de mais de 3.000 consultas médicas entre 1995 e 2012, envolvendo mais de 1.000 voluntários, com idade média de 72 anos.
Como esperado, as pessoas expostas a uma dose relativamente grande de poluição do ar no dia do teste apresentaram pior função pulmonar. Mas as pessoas que tomaram AINEs recentemente tiveram resultados melhores em relação às que não tomavam.
Em média, estimaram os pesquisadores, os pulmões das pessoas que usavam AINEs eram quase 50% menos afetados pela poluição do ar do que aqueles que não usavam. E esse efeito protetor parecia existir mesmo quando eles levaram em conta a idade das pessoas, histórico de tabagismo e IMC.
“Nossas descobertas sugerem que a aspirina e outros AINEs podem proteger os pulmões de picos de curto prazo na poluição do ar”, disse Xu Gao, principal autor do estudo e cientista pesquisador de pós-doutorado na Mailman School of Public Health da Universidade de Columbia, em comunicado divulgado pela universidade. “É claro que ainda é importante minimizar nossa exposição à poluição do ar, que está ligada a uma série de efeitos adversos à saúde, do câncer às doenças cardiovasculares”.
É claro que esse tipo de estudo não pode provar a teoria de Gao e sua equipe. Uma limitação evidente deste estudo, por exemplo, é que eles se baseavam nas lembranças das pessoas sobre terem usado ou não AINEs, que podem ser imprecisas. Eles também não conseguiram definir a dose ou tempo necessários para essas medicações de fato protegerem os pulmões de danos a curto prazo.
E neste estudo, pelo menos, o efeito foi observado apenas em pessoas que tomaram aspirina, não outros AINEs. Porém, como apenas algumas pessoas usavam AINEs que não são exclusivamente aspirina, o tamanho da amostra pode ter sido pequeno demais para identificar seus benefícios.
Ainda assim, os AINEs e a aspirina já estão sendo amplamente utilizados. Portanto, quanto mais benefícios oferecerem, melhor. Os autores afirmam que são necessários estudos maiores, incluindo estudos randomizados, antes que esses medicamentos sejam anunciados como remédios antipoluição.