Asteroide misterioso pode ser o menor planeta anão do sistema solar

Nova pesquisa sobre Hygiea, o quarto maior objeto no cinturão de asteroides principal, sugere que ele é um planeta anão, devido à sua forma esférica.
Novas observações telescópicas de Hygiea revelaram uma forma surpreendentemente esférica. Imagem: ESO/P. Algoritmo Vernazza et al./MISTRAL (ONERA/CNRS)

Uma nova pesquisa telescópica tendo como alvo Hygiea, o quarto maior objeto no cinturão de asteroides principal, sugere que ele é um planeta anão, devido à sua forma surpreendentemente esférica.

Descoberto em 1849 pelo astrônomo italiano Annibale de Gasparis, Hygiea está localizado no principal cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. É o quarto maior objeto do cinturão, com Ceres, Vesta e Pallas sendo os únicos maiores que ele (dos três, apenas Ceres é um planeta anão). Apesar de seu tamanho, no entanto, Hygiea permaneceu um objeto pouco estudado e é facilmente o mais misterioso dos quatro grandes.

Um novo estudo publicado na Nature Astronomy revisa muito do que sabemos sobre Hygiea, incluindo sua forma, tamanho, rotação e história de origem. A pesquisa, liderada pelo astrônomo Pierre Vernazza, do Laboratoire d’Astrophysique de Marseille, na França, foi possível graças a observações recentes feitas pelo instrumento SPHERE da Agência Espacial Europeia utilizando o Very Large Telescope (VLT) no deserto de Atacama, no Chile.

Mais significativamente, a nova pesquisa sugere que o status de Hygiea deve ser atualizado de asteroide para planeta anão. Caso isso aconteça, Hygiea substituirá Ceres como o menor planeta anão em nosso sistema solar.

Comparações de grandes objetos do cinturão principal. Imagem: ESO/P. Vernazza et al., L. Jorda et al./algoritmo Mistral (ONERA/CNRS)

De acordo com os critérios elaborados pela União Astronômica Internacional (IAU) em 2006, um objeto celeste precisa satisfazer quatro requisitos para obter sua designação como planeta anão:

  • ele precisa estar em sua própria órbita ao redor do Sol,
  • não pode ser uma lua,
  • já ter aspirado outro material em sua vizinhança imediata,
  • ter alcançado o “equilíbrio hidrostático” — em outras palavras, ser de forma predominantemente esférica, com gravidade suficiente para superar uma forma rígida e irregular.

A nova pesquisa sugere que Hygiea atendeu a todos esses quatro requisitos, incluindo o equilíbrio hidrostático.

“Ao comparar a esfericidade de Hygiea com a de outros objetos do sistema solar, parece que Hygiea é quase tão esférico quanto Ceres, abrindo a possibilidade de esse objeto ser reclassificado como um planeta anão”, declararam os autores do novo estudo.

Uma estimativa melhorada do diâmetro de Hygiea coloca sua largura em 430 quilômetros. Em comparação, Plutão e Ceres — dois outros planetas anões — apresentam diâmetros de 2.400 quilômetros e 950 quilômetros, respectivamente. Uma estimativa revisada do período de rotação do objeto mostra que um único dia em Hygiea dura 13,8 horas, o que é aproximadamente metade da estimativa anterior.

Duas crateras relativamente pequenas foram vistas na superfície, uma com cerca de 180 km de largura e a outra com 97 km de largura. Ao estudar o interior do objeto, os astrônomos esperavam encontrar uma cratera maciça associada à origem dele.

Hygiea é o maior membro da família de asteroides Hygiea, uma coleção de quase 7.000 objetos ligados ao mesmo corpo parental. Consequentemente, os cientistas esperavam ver uma grande bacia de impacto em Hygiea semelhante à encontrada em Vesta, com aproximadamente 500 quilômetros de diâmetro.

“Nenhuma dessas duas crateras poderia ter sido causada pelo impacto que originou a família Hygiea de asteroides, cujo volume é comparável ao de um objeto de 100 km de tamanho. São pequenas demais”, disse Miroslav Brož, coautor do novo artigo e pesquisador do Instituto Astronômico da Universidade Charles, em Praga, República Tcheca, em um comunicado de imprensa da ESA.

Usando simulações de computador, os pesquisadores mostraram que a família de asteroides Hygiea poderia ter sido gerada por uma colisão frontal com um objeto que media de 75 a 150 quilômetros de tamanho.

A colisão resultante obliterou o corpo parental de Hygiea (que, como observado, media cerca de 100 quilômetros de diâmetro). Mas ao longo das eras, muitos dos detritos se juntaram para formar o objeto (principalmente) em forma de esfera que vemos hoje. Estima-se que essa colisão tenha acontecido há mais de 2 bilhões de anos, segundo a nova pesquisa.

Olhando para o futuro, a IAU agora terá que decidir se Hygiea deve receber o status de planeta anão. Talvez o mais importante seja que Hygiea, com sua superfície relativamente nova, se distingue de outros objetos principais do cinturão, incluindo Vesta e Ceres, tornando-o um objeto atraente para estudos adicionais e, possivelmente, até uma missão robótica.

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