Nick Hague está de volta aos EUA depois do lançamento abortado de um foguete Soyuz-FG, na semana passada. O astronauta da NASA descreveu o incidente para a Associated Press, explicando o que aconteceu depois que a cápsula russa voou para longe do foguete defeituoso, atingindo uma velocidade de 6.400 quilômetros por hora.
No começo, o lançamento de 11 de outubro de 2018 do espaçoporto Baikonur, no sul do Cazaquistão, parecia correr bem. Hague e o cosmonauta russo Alexei Ovchinin estavam a caminho da Estação Espacial Internacional quando, depois de dois minutos voando, as coisas começaram a dar muito errado.
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Eles estavam a cerca de 50 quilômetros acima da superfície da Terra, na borda do espaço, quando um dos quatro propulsores falhou em se separar de maneira adequada. A equipe precisou abortar o lançamento e mudar para descida balística. Depois de uma angustiante queda de 30 minutos, o módulo Soyuz MS-10, com os dois homens a bordo, pousou em um estepe cazaque. Evidências preliminares sugerem que, em vez de cair do foguete e deixar que ele seguisse viagem, o propulsor ficou preso ao núcleo da nave, levando a abortar o lançamento.
Foto mostra o lançamento da Soyuz de 11 de outubro de 2018.
Hague, de 43 anos, está de volta a Houston, e conversou recentemente com a Associated Press sobre o episódio. Ele disse que sabia que era preciso manter a calma apesar de tudo estar dando errado. Com luzes piscando e alarmes disparando, ele e Ovchinin foram arremessados de um lado a outro e empurrados de volta a seus assentos enquanto a separação falhava.
“Quando você está sendo lançado no espaço e seu propulsor tem um problema a uma velocidade de 1.800 metros por segundo, as coisas são bastante dinâmicas e acontecem muito rápido”, disse.
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O módulo Soyuz foi afastado violentamente do núcleo do foguete. Por um breve momento, a tripulação passou por gravidade zero. Hague diz que chegou a ver a escuridão do espaço e a curvatura da Terra. Mas isso era o mais longe que ele iria conseguir em sua primeira viagem ao espaço. Sem tempo para lamentar, Hague voltou ao trabalho, mantendo a comunicação com os controladores em Terra em russo fluente.
“Todos os meus instintos e reflexos dentro da cápsula são para falar russo”, contou Hague à AP. “Nós sabíamos que, se quiséssemos fazer um pouso bem sucedido, precisaríamos nos manter calmos e executar os procedimentos que estavam na nossa frente da maneira mais eficiente e delicada possível.”
Durante a fase de queda livre da descida, Hague manteve seu autocontrole e monitorou cuidadosamente a situação. Falando com repórteres hoje mais cedo, Ovchinin contou que Hague manteve sua compostura durante a crise, reportando as exatas coordenadas do pouso.
“Meu parceiro Nick agiu como um verdadeiro especialista, com a cabeça completamente fria”, disse Ovchinin a jornalistas. “Eu nunca vi um traço de medo em seus olhos”, acrescentando que Hague respondeu “imediatamente a todas as questões da Terra”. “Era óbvio que ele estava totalmente no controle da situação [de emergência]”, declarou o cosmonauta russo.
Com a iminente liberação do paraquedas, a dupla se preparou para as enormes forças que viriam — cerca de sete vezes a gravidade. A descida completa levou 30 minutos, e nem o astronauta nem o cosmonauta tiveram qualquer ferimento.
“Você pode imaginar a cena”, disse Hague. “Nós estávamos meio que pendurados de cabeça para baixo nos cintos, e olhamos um para o outro, sorrindo. Ele estendeu a mão, eu apertei e balancei. E então fizemos algumas piadas sobre como nosso voo foi curto.”
Este foi o primeiro lançamento abortado na Rússia em 35 anos. O sistema de emergências, portanto, não passava por testes há décadas. Hague se disse grato pelo fato de os procedimentos de cancelamento da missão terem funcionado bem, e diz que o sistema foi responsável por salvar a sua vida e a de Ovchinin.
Uma investigação está em curso para determinar a causa da falha no lançamento, com um relatório esperado para dia 20 de outubro. Apesar disso, a agência espacial russa já se manifestou dizendo que Ovchinin e Hague vão para a EEI assim que as coisas estiverem funcionando de novo. A Estação vem sendo operada por uma população de três pessoas. Se o sistema de lançamentos da Soyuz permanecer indisponível por um período longo, a EEI pode ficar completamente desocupada em janeiro de 2019, o que não acontecia desde 2001.
Imagens: AP