Avião projetado por pesquisador da USP pode reduzir uso de combustível em 30%
Em 2021, a indústria aeronáutica brasileira foi a 11ª maior exportadora de aviões do mundo, na frente de potências como Israel, Suíça e Japão. Isso consolida o Brasil como um dos poucos países que desenvolve aeronaves comerciais – desde sua concepção até a venda.
Agora, o engenheiro aeroespacial brasileiro Pedro David Bravo-Mosquera criou um novo conceito de avião comercial que busca eficiência, ou seja, com a mesma capacidade, mas com uso de menos combustível. O doutorando da USP (Universidade de São Paulo) publicou o modelo em um artigo na revista Aeroespace.
Novo modelo de avião lembra o 14-bis
O diferencial do modelo projetado pelo pesquisador é a junção inédita de duas tecnologias, uma nas asas e outra nas turbinas.
A primeira implica na elaboração da asa em caixa, que é como se o avião tivesse duas asas de alturas diferentes e elas estivessem unidas pelas pontas. Esse modelo não é novidade: o famoso 14-bis, do aeronauta Santos Dumont, já usava o conceito há mais de 100 anos.
Em geral, essa estrutura torna a aeronave mais estável e melhora o desempenho do voo. “A principal vantagem desta configuração é o aumento da eficiência aerodinâmica em cruzeiro e uma melhor distribuição dos esforços aerodinâmicos entre as asas, o que pode reduzir o peso da estrutura”, disse Bravo-Mosquera ao Jornal da USP.
A segunda tecnologia implementada no novo modelo é o posicionamento dos motores junto ao corpo do avião. Este modelo de propulsão é chamado de “ingestão de camada limite”. Nele, os motores sugam o escoamento de ar ao redor da aeronave, o que faz com que o avião se desloque usando menos potência.
A combinação dessas duas tecnologias conseguiria economizar 12% do combustível queimado. Com o desenvolvimento dos combustíveis alternativos e dos materiais mais leves que estão previstos para os próximos 20 anos, o modelo proposto por Bravo-Mosquera poderia economizar até 30% de combustível.
Avanço para a sustentabilidade
O projeto ainda está em fase de teste. Ele acaba de atingir o nível três no TRL (Technology Readiness Level), uma escala criada pela NASA para analisar uma determinada tecnologia.
Até agora, os pesquisadores criaram o avião em um modelo 28 vezes menor que a escala real e testaram em túneis de vento.
No entanto, se a nova tecnologia se concretizar, será um avanço para a redução das emissões de gases de efeito estufa pela indústria aeronáutica.
Apesar de não apresentar um percentual tão alto de emissões – em 2022 a aviação emitiu 2% do gás carbônico relacionado à produção de energia no mundo -, o impacto ainda é grande. Isso porque a liberação dos gases de efeito estufa pelas aeronaves acontece muito próxima à camada de ozônio.