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Bebês estão ingerindo 1,6 milhão de pedaços de microplástico de mamadeiras diariamente

Pesquisa sugere que aquecer mamadeiras para preparar suas fórmulas libera toneladas de partículas de microplástico.

Crédito: Stringer (Getty Images)

Há inúmeras evidências de que as pessoas estão ingerindo plástico – uma quantidade equivalente a um cartão de crédito por semana, de acordo com um estudo. Presumi que era algo que afetava apenas humanos adultos, mas um novo estudo mostra que pode não ser o caso. Os bebês também correm o risco de consumir uma grande quantidade de microplástico.

Uma pesquisa publicada na Nature Food na segunda-feira sugere que aquecer mamadeiras para preparar leite de fórmula libera um monte de partículas de microplástico, fazendo com que vários bebês façam a ingestão deste conteúdo. Uma vez que há evidências de que o consumo de microplásticos pode expor os humanos a produtos químicos que interrompem as atividades hormonais e podem até estar associados ao aumento do risco de câncer, diabetes e problemas cardíacos, esta é uma notícia bastante assustadora.

Os autores prepararam fórmulas infantis em 10 tipos diferentes de mamadeiras – que representam quase 70% de todas as mamadeiras que podem ser compradas online em todo o mundo – de acordo com as diretrizes de preparação estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde. Todo ou parte de cada tipo de garrafa era feito de um plástico comum chamado polipropileno.

Depois de aquecer a fórmula para bebês, os pesquisadores testaram o conteúdo microplástico da fórmula em cada recipiente. Eles descobriram que cada uma das garrafas continha um mínimo de 1,3 milhão de partículas de plástico por litro de fórmula e que os piores resultados incluíam até 16,2 milhões de partículas por litro.

A partir disso, eles concluíram que, em média, uma criança consome cerca de 1,6 milhão de partículas de microplástico por dia. Isso é cerca de 2.600 vezes o valor que um adulto médio consome a partir de água, alimentos, e ar diariamente, que um estudo de 2019 havia descoberto ser de 600 partículas por dia.

A quantidade de polipropileno em uma mamadeira fez uma grande diferença na quantidade de microplástico que ela libera quando aquecida. Garrafas totalmente feitas de plástico produziram mais do que aquelas em que a tampa era de plástico mas o corpo era de vidro, por exemplo. Mas, crucialmente, os pesquisadores também descobriram que o tipo de frasco usado não foi o único fator que determinou os níveis de microplástico na fórmula. Alguns métodos de preparação da fórmula para bebês também liberaram mais microplásticos do que outros.

Por exemplo, a OMS recomenda esterilizar as mamadeiras com água escaldante periodicamente para eliminar bactérias. Mas os cientistas descobriram que isso aumentou o nível de microplástico na fórmula da garrafa após um tempo, porque o líquido quente libera mais plástico da garrafa do que o frio. Da mesma forma, os pesquisadores descobriram que o uso de chaleiras de plástico para aquecer a água para o processo de esterilização resultou em um conteúdo de partículas de plástico mais alto do que quando usaram chaleiras sem plástico para aquecer a água.

Os pesquisadores também descobriram que reaquecer a fórmula em recipientes de plástico aumentou seus níveis de partículas de plástico, especialmente quando foi reaquecido em um microondas. Agitar a fórmula na garrafa também libera mais partículas de plástico, fazendo com que mais delas acabem na fórmula.

Parte disso pode parecer óbvio, mas os autores observam que os métodos de preparação de fórmulas que liberam mais microplásticos são comuns. Por exemplo, o estudo cita os fundos do Centro de Controle de Doenças em que 35% dos pais “ocasionalmente” usam o microondas para preparar a fórmula em pó, enquanto 20% usam o método com frequência.

Muito mais pesquisas são necessárias para determinar se todo esse consumo de microplásticos representa ou não riscos à saúde dos bebês. Mas, por segurança, os pesquisadores pedem aos formuladores de políticas globais que dêem outra olhada nas diretrizes de preparação de fórmulas da OMS. Também pode ser uma boa ideia implementar alguns padrões para a quantidade de plástico que as mamadeiras podem conter.

Não é como se precisássemos de outro motivo para eliminar o uso de plástico. O mundo já tem em suas mãos uma enorme crise de poluição por plástico que pode piorar . O material também é feito de petroquímicos, e o processo usado para criá-lo libera poluentes perigosos que aquecem o planeta, o que representa mais um risco e para os bebês nascidos hoje.

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