Capitólio: 5 tópicos geológicos para entender a tragédia

O consenso entre especialistas é que sim, a tragédia em Capitólio (MG), que resultou em 10 mortes e deixou mais de 30 pessoas feridas, poderia ter sido evitada.
Capitólio
Imagem: Claudio JJ/Wikimedia Commons/Reprodução

Imagens do desabamento de uma rocha sobre lanchas em Capitólio, Minas Gerais, chamaram a atenção nas redes sociais no último sábado (8). A tragédia resultou em 10 mortes e deixou mais de 30 pessoas feridas. 

Para geólogos e especialistas, o acidente na região turística do Lago de Furnas poderia ter sido evitado. Entenda como ocorreu o desprendimento do bloco e quais medidas impediriam o desastre.

Sistema de fraturas 

Joana Sanches, professora de geologia da Universidade Federal de Goiás (UFGO) e doutora em mapeamento geológico, explicou em entrevista à CNN que já havia uma fratura prévia na rocha que se desprendeu. A fenda em questão se estendia do topo até a base da rocha. 

A professora Maria Parisi, do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais, apontou ao jornal mineiro O Tempo a existência de fraturas também na horizontal. De acordo com ela, um olhar técnico já seria capaz de enxergar o sistema de fraturas no paredão.

Apesar da importância de especialistas, um turista leigo no assunto já havia apontado para os riscos de desmoronamento da rocha em 2012, durante uma viagem ao local. Em seu perfil no Twitter, Flávio Freitas fotografou a fenda e escreveu “Essa pedra vai cair”.

Época de chuvas

As fraturas são preenchidas por terra. Logo, se a intensidade das chuvas for muito alta, é esperado que a água entre nas fendas e empurre o solo que está ali. Consequentemente, a rocha perde resistência e se desprende do paredão. 

Em entrevista à CNN, o tenente do corpo de bombeiros de Minas Gerais Pedro Aihara explicou que o bloco se desprendeu de forma atípica. “A forma de escorregamento não costuma ser para frente. É como se fosse uma fatia de um pedaço de uma torta escorregando naturalmente. Mas essa estrutura caiu como um dominó. A parte lá de cima que cai numa trajetória perpendicular intensificou o dano que as embarcações sofreram”, disse.

Falta de monitoramento 

De acordo com Cristiano Geraldo da Silva, prefeito de Capitólio, nunca havia ocorrido trabalho de prevenção e risco geológico na região em que houve o desabamento. O político disse ao jornal O Globo que eram feitos apenas monitoramentos das trombas d’água que costumam acontecer nas cachoeiras e rios da região.

Empresários do setor de passeios também relatam que, apesar desta região de Capitólio ser uma área privada, não há placas apontando para possíveis riscos ou recomendando aos turistas que se mantenham longe dos paredões.

Proximidade da lancha

Os gestores explicam que os passeios são feitos com riscos calculados e recomendações de segurança, como o uso de coletes. Mesmo assim, o ideal era que as lanchas se mantivessem a uma distância segura da encosta. Como é visto no vídeo, embarcações que estavam mais longe do bloco no momento do acidente não foram atingidas. Ajudaria, também, se a proa das lanchas estivesse voltada para frente – uma forma de facilitar a fuga.

Divulgação de dados e alertas à população 

Pesquisadores acreditam que um mapeamento de risco geológico e geotécnico do local, combinado a alertas para as autoridades e turistas, já ajudariam a evitar acidentes do tipo. Os cientistas relembram o desastre envolvendo a barragem de Brumadinho, também em Minas Gerais, e apontam como principal problema das autoridades brasileiras deixar a tragédia acontecer primeiro para agir depois.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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