China está comprando anúncios no Facebook e no Twitter para difamar manifestantes de Hong Kong

A maior agência de notícias estatal da China, a Xinhua News, está comprando anúncios no Facebook e no Twitter para difamar os manifestantes de Hong Kong, uma nova tática usada para influenciar como o resto do mundo percebe os protestos pró-democracia. Estima-se que 1,7 milhão de pessoas em Hong Kong, cerca de um quarto da […]
Protestos nas ruas de Hong Kong
Foto: Getty Images

A maior agência de notícias estatal da China, a Xinhua News, está comprando anúncios no Facebook e no Twitter para difamar os manifestantes de Hong Kong, uma nova tática usada para influenciar como o resto do mundo percebe os protestos pró-democracia.

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Estima-se que 1,7 milhão de pessoas em Hong Kong, cerca de um quarto da população, foi às ruas no domingo (18) para denunciar as tentativas de Pequim de interferir no território autônomo. No entanto, a China tem usado munição além de suas fronteiras por meio de anúncios pagos no Facebook e Twitter, além de conteúdos não pagos em plataformas como o YouTube.

A Xinhua News tem cinco anúncios distintos no Facebook diretamente relacionados com os protestos em Hong Kong, e todas as propagandas começaram a ser mostradas no último domingo, 18 de agosto. Um dos anúncios aborda diretamente a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, sugerindo que ela “voasse para Hong Kong para ver o que são fatos reais”. Pelosi tem criticado as ações do governo chinês contra os manifestantes, chamando de “covarde” o tipo de ação perpetrada por Pequim.

A propaganda anti-Pelosi no Facebook usa um vídeo viral de um viajante australiano que foi incomodado durante protestos no Aeroporto Internacional de Hong Kong. Os manifestantes ajudaram a fechar o aeroporto ao longo de dois dias, exigindo liberdade e pedindo desculpas aos viajantes por interromperem seus voos. O viajante australiano, que parece ter dado entrevista à mídia estatal chinesa, disse a manifestantes pró-democracia que eles deveriam “arranjar um emprego” e que eles deveriam saber “o lugar deles”, embora esta última frase não seja mencionada no anúncio do Facebook.

O viajante australiano disse também que “Hong Kong é uma parte da China”, algo que é controverso, pois Hong Kong opera atualmente sob um arranjo do tipo “um país, dois sistemas”. Essa configuração permite que Hong Kong mantenha temporariamente leis e tradições democráticas até o ano de 2047. Esse ano está, obviamente, dentro do tempo de vida de muitos dos manifestantes, e isso contribuiu na divisão de jovens da região. Alguns idosos de Hong Kong têm sido mais sinceros contra os protestos, algo que se torna claro nas propagandas Pró-Pequim no Facebook.

Outro anúncio no Facebook da Xinhua afirma que a economia de Hong Kong está sofrendo com os protestos e insiste que o público necessita que alguém “restaure a ordem”. O anúncio mostra manifestantes pró-Pequim pedindo o fim da violência, dando a entender que são os participantes dos protestos os causadores dos principais danos.

Na realidade, a polícia de Hong Kong é quem tem causado boa parte da violência no local, atirando balas “não letais” à queima-roupa e atirando gás lacrimogêneo regularmente em multidões de manifestantes não violentos. Uma mulher recentemente perdeu um olho após ser baleada pela polícia, levando alguns aliados a usar uma bandagem sobre os próprios olhos em sinal de solidariedade. O vídeo de propaganda da Xinhua também foi postado no YouTube, embora não esteja claro se a agência está comprando anúncios pagos na plataforma.

Outro anúncio da Xinhua se concentra na situação econômica de Hong Kong. A propaganda mostra fotos de shoppings vazios com uma legenda que, mais uma vez, pede que a “ordem” seja restaurada — esta é uma declaração sinistra de um governo autoritário, que atualmente tem entre 800 mil e 3 milhões de muçulmanos em campos de concentração.

A Xinhua também está promovendo no Twitter vídeos que sugerem que a violência está sendo perpetrada pelos manifestantes e afirma que a “ordem deve ser restaurada”. Há obviamente um padrão para tudo isso e Pequim quer controlar a narrativa insistindo que “ordem” é mais importante do que os direitos democráticos. E não é de se admirar que esta seja a mensagem, dada a quantidade de dinheiro envolvida na jogada.

Um outro canal estatal chinês, o CGTN, até postou no Twitter um video de um rap anti-democracia de teor vergonhoso no fim de semana, que termina com o presidente dos EUA, Donald Trump, dizendo que Hong Kong é parte da China.

Trump tem sido relutante em criticar a China por sua repressão antidemocrática, e agora os propagandistas chineses estão usando frases do próprio presidente contra os manifestantes.

Os protestos já duram 11 semanas, e foram inicialmente desencadeados por uma lei de extradição que permitiria que Pequim capturasse criminosos de Hong Kong. O grande problema, no entanto, é que Hong Kong é um paraíso para dissidentes políticos pró-democracia na Ásia. A lei de extradição foi revogada por Carrie Lam, a chefe do executivo de Hong Kong, mas os manifestantes querem garantias de que o projeto de lei não será apresentado novamente.

A Xinhua News está no Facebook desde 2012, apesar de a rede social ser banida na China. Twitter e YouTube também são banidos. No entanto, a audiência para essas propagandas é claramente a comunidade internacional.

Organizadores dos protestos compraram seus próprios anúncios em jornais internacionais, de acordo com a Hong Kong Free Press, mas não está claro se eles estão comprando anúncios online também.

O anúncio impresso, que apareceu no New York Times desta segunda-feira (19) e no Globe and Mail, do Canadá, entre outras publicações, diz:

Em meio a gás lacrimogêneo e balas de borracha, essa metrópole considerada vibrante e segura está em uma encruzilhada. Desde que os protestos contra o polêmico projeto de lei de extradição começaram em junho, a autonomia e a liberdade de Hong Kong foram corroídos. Esta é a verdade que o governo de Honk Kong não quer que você saiba: Hong Kong está se tornando um estado policial.

Em vez de implementar as reformas políticas como prometido, o governo de Hong Kong se tornou em um aparato de repressão. A brutalidade policial, endossada pelos governos de Hong Kong e da China, agora se tornou parte de nossas vidas diárias.

Em nome da ordem pública, a polícia desumaniza os manifestantes chamando-os de baratas e empregam certas medidas antimotim proibidas pelos padrões internacionais. A polícia também agride transeuntes, jornalistas e médicos. Os postos policiais estão fechados sempre que bandidos de aluguel atacam indiscriminadamente manifestantes e cidadãos comuns.

Prisões arbitrárias e processos políticos estão se tornando cada vez mais comuns. Essas são todas as táticas do governo de Hong Kong para intimidar seu próprio povo com o silêncio.

Testemunhe a luta por liberdade dos honcongueses. Conte nossa história — especialmente se não pudermos fazer isso sozinhos. Lute pela liberdade. Esteja com Hong Kong.

Não está claro quanto foi gasto no Facebook e no Twitter para os anúncios, e as gigantes da tecnologia envolvidas não responderam aos pedidos da reportagem. Atualizaremos este post caso as companhias respondam.

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