Um projeto que alega ter produzido os primeiros bebês geneticamente editados do mundo foi interrompido pelo governo chinês, que está declarando o trabalho do cientista He Jiankui tanto ilegal quanto antiético, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
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O mundo soube do experimento de He no início desta semana, embora ainda estejamos esperando para ver uma confirmação científica externa de suas afirmações. Em Hong Kong, o cientista afirmou que usou a ferramenta de edição de genes CRISPR/Cas9 para modificar embriões humanos, mas não pediu desculpas por isso, dizendo estar “orgulhoso” do trabalho. As gêmeas resultantes, nascidas no início deste mês, filhas de um casal desconhecido, são supostamente imunes ao HIV.
Essa notícia foi recebida com condenação quase universal, com a maioria dos cientistas e especialistas em ética reclamando que He violou padrões científicos e éticos estabelecidos, entre outras queixas. He está sendo acusado de fazer experimentos de forma indevida em humanos, com uma tecnologia não comprovada e potencialmente perigosa.
Na terça-feira (27), a China ordenou uma “investigação completa” sobre o projeto, mas, como a Associated Press noticiou nesta quinta (29), o governo tomou agora o passo extra de encerrar o trabalho até novo aviso. Falando à televisão estatal CCTV, o vice-ministro de Ciência e Tecnologia da China, Xu Nanping, disse que o governo se opõe fortemente ao projeto. Xu disse que o experimento “cruzou a linha da moralidade e da ética aderida pela comunidade acadêmica e foi chocante e inaceitável”, conforme noticiado pela AP.
Nenhum outro detalhe foi dado, e o ministro também não explicou o que poderia acontecer com He e seus associados nos próximos dias e semanas.
A resposta da China a esse incidente poderia estabelecer um importante precedente para um país acusado de ser o Velho Oeste da pesquisa biomédica. Sem dúvidas, a China tem estado na vanguarda da pesquisa de edição genética há alguns anos. Cientistas de lá criaram o primeiro embrião humano editado por genes do mundo e os primeiros macacos clonados, dando dois exemplos. Críticos reclamaram que essas conquistas são produto da estrutura regulatória frouxa da China, em comparação com a situação nos EUA ou na Europa.
Essas acusações à parte, o projeto de He parece ser o trabalho de um laboratório não supervisionado que se esforçou muito para evitar os canais apropriados, como não entregar o teste clínico ao registro do país até o começo de novembro, que era mais ou menos o mesmo período em que as gêmeas nasceram. Além disso, cientistas chineses foram rápidos em condenar o trabalho de He. Em um comunicado conjunto publicado no início desta semana, a Sociedade de Genética da China e a Sociedade Chinesa para Pesquisa de Células-Tronco disseram que “condenam fortemente” o projeto por sua “extrema irresponsabilidade, tanto científica quanto eticamente”. E, como noticia o Voice of America, mais de 300 cientistas, tanto da China quanto de outros países, assinaram uma petição questionando a necessidade do trabalho.
Esse incidente certamente é um momento de aprendizado — esperamos que não tenha sido às custas dessas duas gêmeas, cuja saúde futura permanece desconhecida.