Mirando hegemonia do dólar, moeda digital da China começa a ser aceita em compras online

Criada em 2014, a versão digital do yuan está sendo testada em pelo menos quatro províncias chinesas. Governo quer ter controle sobre a moeda.
Moeda chinesa. Imagem: faungg (Flickr)
Imagem: faungg (Flickr)

Desde o início de 2020, a China vem ampliando as possibilidade de uso de sua moeda digital, o renmimbi digital (ou simplesmente o yuan digital). Agora, o país está expandindo ainda mais essa moeda, que passará a ser aceita em compras pela internet.

A princípio, a varejista JD.com, rival da Alibaba, será a única compatível com o yuan digital e apenas para produtos selecionados pela marca. De acordo com a agência Reuters, também haverá um sistema bastante restrito para efetuar as transações.

O governo municipal de Suzhou vai sortear um total de 20 milhões de yuans digitais (cerca de R$ 15 milhões, na conversão atual). A quantia será dividida em prêmios de 200 yuans para 100 mil pessoas.

O valor poderá ser gasto na JD.com, desde que o produto escolhido faça parte de uma lista pré-definida. Além disso, somente moradores da cidade de Suzhou poderão participar do sorteio. O município tem 10,72 milhões de habitantes, segundo um levantamento de 2018.

Criado originalmente em 2014, testes com o yuan digital começaram em abril de 2019, mas só recentemente é que a experiência ficou mais fácil para os clientes. Em outubro, 10 milhões de yuans digitais foram distribuídos entre 50 mil residentes de Shenzhen, também por meio de um sorteio, que puderam efetuar compras em lojas físicas no Distrito de Luohu usando o dinheiro digital. Outros testes também estão sendo conduzidos em Xiong’an e Chengdu.

Diferentemente de uma criptomoeda, em que as transações podem ser feitas indireta e individualmente por qualquer usuário, o renmimbi digital é controlado por um banco central — no caso, o Banco Popular da China, equivalente ao nosso Banco Central. Outra diferença é que o bitcoin e outras moedas digitais contam com um mecanismo de blockchain descentralizado que impede que qualquer pessoa ou organização tenha o controle da moeda ou consiga dados pessoais dos usuários.

O governo chinês destaca que a moeda pode ajudar pessoas que não têm acesso a contas bancárias e serviços financeiros tradicionais. O banco central chinês também afirma que a criação do renmimbi digital se deu por causa da tecnologia — a ideia é mesmo substituir parte das transações que hoje são feitas usando dinheiro físico e cartões de crédito. É aí que entram preocupações quanto à vigilância em cima das transações via yuan digital.

“Em suma, o renmimbi digital pode ajudar a fortalecer a vigilância e o controle do estado sobre a economia e a sociedade. Ele aumenta a centralização da autoridade. Essa pode ser a razão fundamental pela qual ele tem sido fortemente pressionado para sair e apressado pelo estado”, disse Frank Xie, professor de negócios da Universidade da Carolina do Sul em Aiken, em entrevista à CNN.

Dólar

Os planos de implementação do yuan digital vão além. Reguladores chineses acreditam que a adoção generalizada da moeda poderia ajudar o país a quebrar o monopólio do dólar americano e aumentar a influência da moeda no mundo como um todo.

A China é uma das maiores economias do planeta, e uma das poucas que está investindo na criação de uma versão digital de sua moeda. O Banco Central Europeu também está desenvolvendo uma versão digital do euro, porém ainda não há previsão de quando ela será disponibilizada.

Só que tirar essa hegemonia do dólar é um caminho longo e difícil. De acordo com a instituição financeira Bank of International Settlements, o yuan é responsável por pouco mais de 4% das transações internacionais. O dólar americano, por sua vez, representa 88%.

Controle

Não somente diminuir o alcance do dólar mundo afora, a China quer cercear o controle de moedas digitais dentro do próprio país. “Há muito tempo, Pequim se preocupa com o monopólio das moedas digitais por gigantes da tecnologia e seu impacto no sistema financeiro além da supervisão do banco central”, escreveu Anthony Chan, estrategista-chefe de investimentos na Ásia do banco suíço UBP, em um relatório de pesquisa publicado no início deste ano.

James Gillingham, CEO e cofundador da corretora de criptografia Finxflo, com sede em Singapura, também reforça a ideia de que a China quer ter controle total sobre esse tipo de moeda entre os consumidores chineses. “Nenhuma entidade terá muito poder ou controle sobre um mercado sem a aprovação expressa ou colaboração do governo”, completou.

[Reuters, CNN]

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