Ciência

Cientistas encontram neurônios que decidem quando comida está salgada

Células são responsáveis pelo controle da tolerância ao sal, evitando o excesso no consumo de sódio; outros neurônios controlam o desejo
Imagem: Emmy Smith/ Unsplash/ Reprodução

Às vezes, a fome vem com uma vontade específica: um doce, um salgado, algo gelado ou quente. Mas mesmo com o desejo, o paladar tem um limite para suportar os sabores dos alimentos. Quando há excesso de sal, por exemplo, o cérebro percebe e torna mais difícil continuar a comer.

Surpreendentemente, pesquisadores da Divisão de Biologia do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos EUA, descobriram que os neurônios que regulam esses aspectos da alimentação ficam em duas partes completamente diferentes no cérebro. “O desejo por sódio e a tolerância ao sódio são controlados por tipos completamente diferentes de neurônios”, diz Yuki Oka.

Oka é principal autor do estudo que revelou essa informação. O artigo com os resultados foi publicado na revista Cell.

O desejo condicionado

A ideia da pesquisa era compreender a relação das pessoas com o sal, que pode ser complexa. Ao mesmo tempo que o corpo aceita certos níveis elevados de cloreto de sódio, como nos refrigerantes e até na água da torneira, o organismo repulsa outros, como a água do mar, por exemplo.

A razão para essa mudança envolve pelo menos duas interações diferentes entre o corpo e o cérebro: o desejo e a tolerância ao sal.

De modo geral, essas informações sensoriais são conectadas ao cérebro por meio da interocepção — a capacidade do cérebro de sentir as sensações internas do corpo. Embora pesquisadores já compreendam como isso funciona em sentidos como o olfato, o tato e a visão, pouco se sabia sobre o paladar.

Ao estimular neurônios de ratos de laboratório, os pesquisadores puderam compreender como isso acontece em partes. De início, eles descobriram que um conjunto separado de neurônios na parte de trás do cérebro ajusta seu apetite por sal.

Dessa forma, quando seu corpo está com baixo teor de sal e concentração de sódio no sangue — caindo além do que é considerável saudável –, esses neurônios respondem aumentando o desejo de sal de um animal.

“Se você estimular esses neurônios, os animais correm para uma fonte de sódio e começam a comer”, diz Oka.

A tolerância ao sal regulada

No entanto, o excesso de sal é prejudicial à saúde: pode causar pressão alta e aumentar o risco de doenças cardíacas e derrames. Por isso, fora de situações extremas em que o sódio está em níveis baixos no organismo, há uma maneira de controlar a ingestão de sal em excesso.

Ainda na mesma pesquisa, os cientistas descobriram que os neurônios envolvidos na tolerância ao cloreto de sódio ficam na região frontal do cérebro. Além disso, eles respondem a substâncias chamadas prostaglandinas. 

Elas são semelhantes a hormônios e circulam na corrente sanguínea. Contudo, são mais conhecidas por desempenhar um papel importante nas reações inflamatórias, de febre e de dor.

Por isso, os pesquisadores ainda não puderam compreender de que maneira ela pode regular a tolerância ao sal – quando ele é necessário e quando não é. 

Em novos estudos, os pesquisadores pretendem compreender essa relação entre as prostaglandinas e o consumo de sal. Dessa forma, será possível desenvolver um medicamento que tem essa substância como base para desencorajar as pessoas a comerem muito sal.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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