Gatos sabem seus próprios nomes? Cientistas falaram com eles para descobrir

O estudo não quer dizer que os gatos entendam o conceito de nome, mas mostra que alguns conseguem distinguir seus nomes de outras palavras.
Foto: Colin Young-Wolff/AP

Muitos donos de gatos dizem que seus felinos são capazes de atender ao ouvir seus próprios nomes. Cientistas, porém, permanecem ambivalentes sobre o assunto. Um novo experimento fascinante sugere que isso pode realmente ser verdade para alguns gatos. Além disso, a pesquisa indica que esta é uma capacidade muito ligada ao ambiente social em que o gato vive.

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Cachorros são incríveis em reconhecer seus próprios nomes, mas os cientistas têm menos certeza de que os gatos têm essa capacidade. Uma nova pesquisa da Universidade Sophia, em Tóquio, no Japão, oferece novos dados experimentais. Eles mostram que alguns indivíduos da espécie realmente conseguem discernir seus nomes.

O trabalho, publicado hoje na Scientific Avances, não quer dizer que os gatos entendam a concepção humana de um nome, mas mostra que pelo menos alguns gatos conseguem distinguir seus nomes de outras palavras.

Alguns tutores de gatos podem se opor, dizendo que é óbvio que os gatos respondem.

“No entanto, na ciência, mesmo as coisas mais simples e óbvias têm que ser demonstradas como verdadeiras e objetivas”, diz Carlo Siracusa. Ele é professor associado de comportamento clínico e bem-estar animal da Universidade da Pensilvânia. Siracusa não participou deste novo estudo. “E não há estudos anteriores que especificamente responderam a esta pergunta.”

O que pesquisas anteriores diziam sobre os gatos

Pesquisas anteriores mostraram que os gatos podem reconhecer gestos humanos, expressões faciais e sinais vocais. Atsuko Saito, o principal autor do novo estudo, publicou um artigo em 2013 mostrando que os gatos são capazes de reconhecer as vozes de seus donos.

Tirando esses insights, os pesquisadores apenas começaram a arranhar a superfície da compreensão sobre a capacidade felina de se comunicar com os seres humanos. Daí a incerteza sobre os gatos serem capazes de reconhecer seus próprios nomes. O novo estudo foi um esforço, portanto, para provar — e fornecer evidências científicas para — algo que os donos de gatos sempre falam.

Qual a ideia por trás do novo estudo

Em uma série de experimentos, Saito observou 78 gatos em lares japoneses e em um cat café. Cat café é um café temático no qual vários gatos vivem em um ambiente compartilhado. Um aspecto crítico do estudo é um conceito conhecido como habituação. Basicamente, é quando uma resposta psicológica ou emocional diminui de intensidade após a exposição repetida a um estímulo.

Os guaxinins da minha vizinhança são um bom exemplo, já que eles se tornaram “habituados” aos meus gritos e gesticulações quando eu os pego vasculhando meu lixo. Os guaxinins aprenderam a simplesmente “me desligar” da atenção deles.

Um nome, no entanto, não é algo digno de habituação, pois é um “estímulo saliente”, nas palavras dos pesquisadores. Isso quer dizer que é um estímulo que, para estes animais, é associado a recompensas, como comida e carinho. Ele também pode ser associado punições, como receber broncas depois de arranhar a porra do sofá pela milésima vez. A teoria, pelo menos, é essa.

Como foi feito o novo experimento

Para testar essa hipótese, Saito e seus colegas montaram quatro experiências diferentes nas quais o dono ou o pesquisador proferiu uma sequência de quatro palavras diferentes na presença de um gato. Em seguida, o dono ou o pesquisador proferia o nome do gato.

Essas quatro palavras eram os estímulos de habituação (ou seja, palavras chatas e desinteressantes) e eram substantivos gerais com comprimentos e ênfases semelhantes. Os estímulos de habituação também incluíam os nomes de outros gatos. Quanto ao nome do gato, no entanto, esse foi considerado o estímulo teste ou de desabituação.

Durante o experimento, “se os gatos se habituaram às outras 4 palavras e se desabituaram de seus próprios nomes, uma reação de rebote à apresentação de seus próprios nomes seria observada. Isso indicaria a capacidade de discriminar seus próprios nomes de outras palavras”, escrevem os pesquisadores responsáveis pelo estudo.

Em outras palavras, esperava-se que eles ficassem cada vez mais desinteressados ​​com cada palavra sucessiva falada (ou seja, habituação bem-sucedida a estímulos) até chegar na quinta palavra mágica — seu nome.

Uma vez que o nome do gato foi falado, os pesquisadores procuraram por cinco respostas comportamentais específicas:

  • mover a orelha;
  • mover a cabeça;
  • mover a cauda;
  • ​​vocalizar;
  • mudar de lugar.

Um método de pontuação foi usado para avaliar quantos desses comportamentos um gato exibiu ao ouvir seu nome. Para cada comportamento foi dado meio ponto, para uma pontuação máxima de 2,5. O mesmo método de pontuação foi usado durante os testes, quando as quatro palavras fictícias foram proferidas para classificar o processo de habituação.

Este protocolo foi repetido em quatro experiências diferentes.

  • O primeiro testou a capacidade dos gatos domésticos de discriminar seus nomes dos substantivos gerais.
  • O segundo experimento testou a capacidade dos gatos que vivem regularmente com pelo menos quatro outros gatos de discriminar seus nomes pelos nomes dos outros gatos.
  • O terceiro teste foi uma repetição do segundo teste, mas com nomes genéricos em vez de nomes de gatos.
  • E, finalmente, o quarto teste foi feito para ver se os gatos podem discriminar seus próprios nomes a partir de substantivos gerais quando pronunciados por pessoas não familiares a eles.

O segundo e terceiro experimentos incluíram gatos do cat café.

O que os resultados mostraram

Na maior parte, os experimentos mostraram que os gatos foram capazes de distinguir seu próprio nome, mesmo quando o nome foi dito por um completo estranho. Todos os gatos eram igualmente bons em distinguir seus nomes de substantivos gerais. Os gatos do café, porém, eram realmente ruins em discernir seu próprio nome dos nomes de outros gatos do café.

Curiosamente, os gatos que vivem em lares comuns com vários outros gatos ainda eram capazes de discernir seus próprios nomes. Portanto, há algo no ambiente do café que inibe a associação. Provavelmente, a grande quantidade de gatos e/ou diminuição de oportunidades para um gato aprender sua nome. Isso, entretanto, precisa ser mais estudado.

Independentemente disso, esta é “a primeira evidência experimental que mostra a capacidade dos gatos de entender os enunciados verbais humanos”, escrevem os autores.

O que outros pesquisadores de gatos dizem sobre o estudo

Mikel Delgado, do Departamento de Medicina e Epidemiologia da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Califórnia em Davis, disse que o artigo era interessante. Mesmo assim, ela diz ter algumas preocupações, particularmente com a forma como os dados foram apresentados.

Especificamente, ela não gostou de como os pesquisadores observaram os comportamentos. Eles incluíram apenas os comportamentos que demonstraram total habituação aos nomes genéricos ou outros nomes de gatos. Essa “escolha seletiva” dos dados, disse ela, fez as descobertas parecerem mais profundas do que realmente são.

“Se você olhar para todos os dados, o número de gatos que respondem ao nome deles é bem pequeno”, escreveu Delgado ao Gizmodo em um e-mail. “Geralmente, apenas entre terço e metade dos gatos mostram uma resposta aumentada ao nome deles. Isso não é exatamente alucinante.”

Delgado também mostra preocupações com a pontuação atribuída aos comportamentos. Além disso, ela não ficou convencida com a forma como ela foi interpretada pelos autores.

“Quando você olha como as respostas ocorreram, dentre os gatos que responderam no último teste [isto é, quando seu nome era falado], na maioria dos casos, seu comportamento no geral variou em uma média de 0,5 a 1,5 respostas”, diz ela.

Durante os primeiros quatro ensaios, no entanto, quando as palavras comuns foram ditas, “as respostas ficaram no intervalo de 0,5 a 2. Eu acho que depende de quão convincente ou importante a resposta pareceu para, em média, mostrar 1,5 comportamentos versus 0,5 comportamentos. ”

Dito isso, Delgado gostou de como os pesquisadores tiveram o cuidado de combinar a enunciação de cada palavra, incluindo os nomes, porque “a maioria de nós, quando chamamos os nomes de nossos gatos, não o fazemos em tom monótono. Geralmente usamos mais do que é chamado de ‘mamanhês’ — um tom mais agudo, que os animais tendem a responder a mais”, diz a pesquisadora.

Além disso, a cientista queria saber mais sobre os animais que conseguiram discriminar seus nomes. Fatores como se seus nomes eram mais simples ou se os donos se abstivessem de usar apelidos podem fazer diferença

Siracusa gostou do novo estudo, mas ele diz que as conclusões oferecem alguns pontos interessantes para o debate.

“Na verdade, isso prova que os gatos podem entender associações com palavras que indicam seus nomes e podem distingui-las de outras palavras”, comenta Siracusa. “É mais um passo para entender como os gatos pensam e o que podem fazer — algo que os donos de gatos já sabem.”

Essas palavras, ele disse, são o que nós, humanos, chamamos de nomes. Ainda é uma questão em aberto, porém, se os animais realmente entendem o conceito “nome”.

“Em outras palavras, um gato seria capaz de responder à pergunta ‘qual é o seu nome?’ se eles pudessem conversar? Provavelmente não, como mostram os gatos estudados no cat café, onde o nome de qualquer gato pode realmente prever a interação com os humanos ”, disse Siracusa ao Gizmodo. “Lá, os gatos responderam de maneira semelhante ao nome deles e aos de seus companheiros.”

O que outros estudos podem tentar entender

Delgado também comenta que o estudo traz questões interessantes sobre quais coisas em um ambiente chamam a atenção dos gatos, e por que certas palavras têm significado aparente ou estão associadas a resultados específicos. “Isso não significa que os gatos entendam que a palavra é um rótulo para eles — apenas que é um som que pode prever comida, carinho, atenção ou outra coisa”, diz Delgado ao Gizmodo.

“Isso é aprendizagem associativa e, claro, todos os animais são capazes disso. Alguns gatos podem ser mais sensíveis a essas sugestões, como gatos que realmente amam comida ou saem, e assim por diante. Por isso, seria útil no futuro tentar desmembrar alguns dos aspectos das personalidades do gato, estilos de vida ou relacionamentos com seus humanos que poderiam deixar alguns gatos mais atentos ao ambiente deles”, completa a cientista.

O novo estudo é certamente intrigante, mas há espaço para melhorias. Além das questões e preocupações levantadas por Delgado e Siracusa, seria bom, por exemplo, estudar animais de outros cat cafés. Além disso, esse é o tipo de trabalho que cria mais perguntas do que traz respostas. Ainda há muito o que aprender sobre gatos e sua aparente capacidade de se comunicar com humanos.

[Scientific Reports]

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