Colorização com IA mostra como a pele reage à luz, gerando fotos incrivelmente realistas
As fotografias de um século atrás não eram limitadas apenas em tons de cinza; elas só podiam capturar uma faixa limitada do espectro de luzes, resultando em imagens de indivíduos famosos que não representavam com precisão sua aparência real. Portanto, uma nova abordagem para a colorização usando inteligência artificial finalmente leva isso em consideração, resultando em fotos assustadoramente realistas que parecem ter sido tiradas com uma câmera moderna.
Todos nós vimos fotos antigas em preto e branco de Abraham Lincoln em baixa qualidade e que apresentam uma profundidade de campo rasa que só coloca parte de seu retrato em foco. Tais imagens são o resultado dos recursos limitados das câmeras e lentes da época, mas havia outro problema em jogo que resultou em Lincoln parecendo com mais rugas na pele que parecia estar precisando desesperadamente de um hidratante.
Antes de 1907, a maioria das fotografias em preto e branco eram ortocromáticas, o que significa que eram sensíveis a toda a luz visível, exceto a parte do espectro de cores onde existem tons quentes como o vermelho. Quando a luz atinge a pele humana, parte dela é refletida, mas parte dela também penetra na superfície e ilumina a pele por dentro, tornando as características naturais como rugas menos óbvias. É um efeito conhecido como espalhamento de subsuperfície e, anos atrás, finalmente compreender o efeito ajudou a revolucionar a computação gráfica e fazer os objetos virtuais parecerem muito mais realistas. Mas, embora seja visível ao olho humano, os efeitos do espalhamento de subsuperfície não são capturados por fotografias ortocromáticas.
Como resultado, Lincoln sempre pareceu especialmente velho em fotos em preto e branco, e as técnicas tradicionais de colorização não levam em consideração o que realmente acontecia com os filmes antigos. As imagens são sem ruído, aprimoradas, nítidas e a cor é aplicada de maneiras naturais, mas as fotos coloridas não reintroduzem os efeitos suavizantes naturais da luz na pele que as câmeras antigas em preto e branco simplesmente não conseguiam capturar.
Em apenas alguns anos, o processamento de imagens com IA percorreu um longo caminho, e uma nova técnica de colorização chamada Time-Travel Rephotography (“Refotografia de Viagem no Tempo”, em tradução livre) está proporcionando resultados impressionantes não apenas adicionando cor, mas também referenciando fotos capturadas por câmeras digitais modernas para fazer correções à aparência da pele humana.
A nova técnica (detalhada em um artigo publicado recentemente) foi desenvolvida por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Washington, UC Berkeley e Google Research, e utiliza uma IA treinada em um banco de dados de retratos digitais modernos para gerar uma foto que compartilha muitas das características da original em preto e branco sendo colorida, mas com uma identidade diferente.
O processo de Refotografia de Viagem no Tempo também é capaz de determinar como as limitações de uma câmera antiga degradaram a imagem em preto e branco resultante (incluindo falta de nitidez e problemas de contraste e exposição) e, em seguida, corrigir esses problemas quando o estilo colorido da foto gerada é aplicado ao retrato em P&B original. O resultado é uma nova fotografia sem falhas que parece ter sido tirada com uma DSLR moderna e uma lente de alta qualidade, apesar da pessoa ter falecido há um século.
Um retrato clássico de Nikola Tesla colorido e aprimorado usando a nova técnica de Refotografia de Viagem no Tempo. Imagem: Refotografia de Viagem no Tempo
Os resultados da nova técnica de colorização muitas vezes parecem incrivelmente realistas e ajuda a humanizar as pessoas que se tornaram figuras icônicas ao longo das décadas. Mas, ao mesmo tempo, é importante lembrar que colorir e modernizar imagens é um processo que introduz mudanças e modificações sutis nos originais — como as imperfeições introduzidas ao tirar uma fotocópia de um documento — e ao longo do tempo, conforme essas imagens modificadas são liberadas na internet e processadas posteriormente (até mesmo a compressão de imagem frequentemente afeta de forma negativa uma imagem), essas mudanças sutis irão se somar e, em 10 anos, as imagens de Lincoln circulando podem não se parecer em nada com o retrato em preto e branco enrugado com que começamos.
À medida que o processamento de imagens de IA avança aos poucos ano após ano, a necessidade de uma maneira de autenticar, ou rotular adequadamente as imagens que foram editadas ou aprimoradas, está se tornando desesperadamente necessária. É parte da razão pela qual a Adobe e outras empresas desenvolveram a Iniciativa de Autenticidade de Conteúdo, uma maneira de incorporar fotos com um registro de quem e como elas podem ter sido manipuladas ao longo do tempo, enquanto outros apontam para o Blockchain como outra abordagem para manter o controle da autenticidade de uma imagem.
A Refotografia de Viagem no Tempo não é necessariamente uma coisa ruim: fazer com que figuras históricas que viveram antes de filmes, TV e gravações de som pareçam mais reais para as gerações posteriores é um ótimo uso da tecnologia, e ferramentas como DeepNostalgia da MyHeritage têm o potencial de ajudar as pessoas a lidar com a tristeza ou outras emoções não processadas relacionadas à perda de um ente querido. Mas ferramentas como essas se tornam um problema quando artistas são acusados de adicionar sorrisos ao colorir fotos de vítimas das prisões de tortura do regime Khmer Rouge no Camboja, potencialmente minimizando a gravidade desses eventos para as gerações futuras que podem não perceber que estão olhando imagens que foram editadas muito além de apenas adicionar cores.