A já longa guerra entre Rússia e Ucrânia está prejudicando setores muito além dos dois próprios países. Segundo artigo da revista Nature, os impactos chegam até a pesquisa científica realizada na Antártida, fundamental para o entendimento das mudanças climáticas.
O conflito começou em fevereiro de 2022 e se estende por mais de um ano e meio, sem previsão de um cessar fogo. Além da falta de pesquisadores ucranianos, outro problema é o alto custo econômico da guerra, que ameaça o futuro do programa de pesquisa.
Entenda o cenário
Anteriormente, o Tratado Antártico de 1959 designa a Antártida como uma zona desmilitarizada. 56 países fazem parte do tratado, incluindo Rússia e Ucrânia. Na reunião anual, que aconteceu em maio, na cidade de Helsinque, alguns países condenaram o comportamento russo.
Contudo, a Rússia não reconheceu o impacto da guerra no programa antártico ucraniano. Olena Marushevska diz que antes havia uma cooperação entre cientistas ucranianos e russos na Antártida, que incluía a comparação de dados coletados entre as estações.
“Paramos qualquer cooperação com cientistas russos em 2014, mesmo antes desta guerra, mas agora temos relações muito piores do que antes”, contou a porta-voz do Centro Científico Antártico Nacional da Ucrânia em Kiev.
A base ucraniana na Antártida
“Há décadas, os cientistas da Antártida têm conseguido identificar a área de aquecimento anormalmente rápido devido ao conjunto de dados de temperatura que foi coletado na Estação Vernadsky”, diz Luis Huckstadt, um ecologista antártico do Reino Unido.
A Estação Vernadsky é um posto da Ucrânia na Antártida. A base é há muito tempo um local-chave para a coleta de dados sobre mudanças de temperatura a longo prazo.
Por isso, é crucial para o estudo das mudanças climáticas. Agora, a falta de pesquisadores como consequência da guerra está ameaçando conjuntos de dados de importância global.
Segundo Marushevska, parte dos cientistas da Ucrânia que pesquisam a região estão lutando ou fugindo do conflito. Um exemplo é Andrii Zotov. Integrante do Instituto de Biologia Marinha de Odessa, ele estava na Estação Vernadsky quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
Sua pesquisa investigava os efeitos das mudanças climáticas nas comunidades de fitoplâncton do Oceano Austral, que formam a base da cadeia alimentar antártica. Assim, ele é um dos relativamente poucos especialistas ucranianos nesse campo.
Mas seu estudo foi interrompido: o pesquisador esteve na guerra por um ano e meio e foi gravemente ferido. “Só agora, após alguma reabilitação, ele será capaz de voltar às algas”, disse Marushevska.
A pesquisa antártica da Ucrânia agora
Apesar da guerra, a Ucrânia continuou suas expedições anuais à Antártida. Agora, a 28ª expedição de pesquisa antártica da Ucrânia está em andamento.
Desde abril, uma equipe de 14 cientistas e técnicos está na Estação Vernadsky. Eles buscam monitorar padrões climáticos e condições atmosféricas, medir a salinidade do oceano e estudar o comportamento de mamíferos marinhos.
“Não estamos coletando dados para nós mesmos, estamos coletando dados para o mundo”, disse Marushevska.
Por fim, segundo a Nature, o Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártico da Rússia em São Petersburgo e o Ministério da Ciência da Rússia não responderam às tentativas de contato.