Sem ar condicionado eficiente, vamos nos cozinhar, alerta relatório da ONU

Segundo relatório de agência da ONU, governos devem ser mais cuidadosos com regulações relacionadas a aparelhos de ar-condicionado.
Aparelhos ar-condicionado em prédio. Crédiot: Dirk Waem/GettyImages
Crédito: Dirk Waem/GettyImages

Um novo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) mostra por que ter um ar condicionado eficiente importa. De fato, os autores descobriram que a mudança para unidades de ar condicionado com eficiência energética e favoráveis ao clima poderia economizar até 460 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa ao longo dos próximos 40 anos. Para dar algum contexto, isso é aproximadamente oito vezes a quantidade de gases de efeito estufa que o mundo inteiro emitiu em 2018.

“Se lidamos errado com o resfriamento, nós essencialmente nos cozinhamos”, disse Gabrielle Dreyfus, gerente do programa de eficiência em resfriamento do Instituto de Governança e Desenvolvimento Sustentável da ONU, em uma chamada telefônica com jornalistas.

A tecnologia de refrigeração desempenha muitos papéis importantes em nossa sociedade global. O relatório estima que, em todo o mundo, 3,6 bilhões de aparelhos de refrigeração, incluindo geladeiras, freezers e aparelhos de ar-condicionado, estejam em uso. À medida que a crise climática aquece o planeta, o acesso ao ar condicionado se tornará ainda mais importante.

Nos EUA, mais pessoas morrem de calor do que qualquer outra causa climática extrema. No Brasil, a situação tende a piorar. Uma pesquisa com entidades internacionais, feita em parceria com a USP, indica que haverá aumento de mortes por onda de calor.

O relatório mostra que, se as unidades de refrigeração fossem fornecidas a todos que precisam delas — não só àqueles que podem pagar —, o mundo precisaria de 14 bilhões de unidades até 2050. Mas da maneira como são fabricados agora, os dispositivos estão emitindo toneladas de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.

Na década de 1980, cientistas ao redor do mundo perceberam que o CFC (clorofluorcabonetos) — os produtos químicos usados como refrigerantes para condicionadores de ar, aerossóis, geladeiras, freezers — estavam esgotando a camada de ozônio da Terra, que bloqueia os raios ultravioletas prejudiciais do Sol. Para remediar isso, em 1987, os governos se uniram para aprovar um tratado internacional chamado Protocolo de Montreal — sob o qual prometeram parar de usar os refrigerantes nocivos.

Na maioria das vezes, os produtos de condicionadores de ar não usam mais CFCs. O problema é que eles foram substituídos por produtos químicos industriais chamados hidrofluorcarbonetos (HFCs) que aquecem o planeta até 11.700 vezes mais que o dióxido de carbono. Isso significa que o ar condicionado pode piorar muito as mudanças climáticas, forçando mais pessoas a recorrer a aparelhos de ar-condicionado e criando um ciclo infeliz, a menos que os líderes mundiais ajudam a interromper o ciclo.

No ano passado, os governos adotaram a Emenda Kigali do Protocolo de Montreal, sob a qual concordaram em eliminar progressivamente o uso de HFCs. Fazer isso poderia evitar até 0,4 graus Celsius de aquecimento global se fosse adotado universalmente. A partir desta semana, essa emenda foi ratificada por 100 países. Mas 95 países ao redor do mundo ainda não assinaram a emenda, incluindo grandes emissores de gases de efeito estufa, como EUA, Índia e China.

Temos a tecnologia para fazer com que os aparelhos condicionadores de ar funcionem de maneira mais eficiente, mudando para refrigerantes químicos mais sustentáveis, que não apenas reduzem os HFCs, mas também as emissões de dióxido de carbono e carbono preto e requerem menos energia. O relatório estima que dobrar a eficiência dos aparelhos de ar-condicionado até 2050 poderia nos poupar o uso de 1.300 gigawatts de eletricidade em todo o mundo. Isso é o equivalente a toda a capacidade de geração de energia a carvão em 2018 na China e na Índia juntas.

Como a energia também custa dinheiro, o ar condicionado com eficiência energética também é uma ótima ideia economicamente. Globalmente, dobrar a eficiência energética dos aparelhos de ar-condicionado pode economizar até US$ 2,9 trilhões até 2050. Para chegar lá, o relatório pede que todos os países a ratificar a Emenda Kigali e adotar planos nacionais para mudar a forma como os dispositivos de refrigeração são fabricados.

O relatório também pede aos países que promovam a construção de edifícios bem isolados e com eficiência energética, bem como a integração de opções de refrigeração de baixa tecnologia, como telhados verdes e sombreamento de árvores, para reduzir a necessidade dessas tecnologias. Isso também poderia trazer economia de custos, não apenas para governos e desenvolvedores, mas também para pessoas de baixa renda. Nos EUA, as habitações de baixa renda são desproporcionalmente ineficientes em termos de energia e, como resultado, pessoas pobres têm contas de energia mais altas.

O que está claro é que algo precisa mudar. A tecnologia de refrigeração serve a inúmeras funções importantes em todo o mundo. Ela protege as pessoas do calor extremo, aumenta o tempo que alimentos ficam frescos e é necessário para armazenar vacinas e outros produtos médicos. Livrar-se do ar condicionado não é uma opção, mas, dada a escala da crise climática, não custa nada limpá-lo.

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