Uma pesquisa publicada em janeiro relacionou a dificuldade para dormir com um aumento no risco de demência. É mais comum que a doença afete as pessoas com insônia inicial (dificuldade para adormecer em 30 minutos) e que usam medicamentos para dormir.
O mesmo estudo, desenvolvido pela Universidade do Estado de Nova York, descobriu que pessoas que relatam ter insônia de manutenção (dificuldade em voltar a dormir depois de acordar) são menos propensas a desenvolver demência ao longo dos anos.
A descoberta surpreendeu os cientistas. “Esperávamos que a insônia inicial e o uso de medicamentos aumentassem o risco de demência, mas ficamos surpresos ao descobrir que a insônia de manutenção diminui o risco da doença”, disse Roger Wong, o principal autor do estudo.
Essa é a primeira pesquisa a examinar como os distúrbios do sono podem ter relação com o risco de demência a longo prazo. Ela reforça as teses anteriores que associavam o comportamento do sono REM (rápido movimento dos olhos), privação de sono (menos de 5h) e uso de remédios para dormir com declínio cognitivo.
A pesquisa usou 10 banco de dados do NHATS (Estudo Nacional de Tendências de Saúde e Envelhecimento), coletados de 2011 a 2020. O painel reúne uma amostra nacional de beneficiários do plano de saúde Medicare com 65 anos ou mais nos EUA.
Para a análise, o estudo filtrou as pessoas que não apresentavam sinais de demência no início de 2011. Em seguida, identificou nos dados as pessoas que manifestaram o avanço da doença até 2020.
Relação com envelhecimento
As evidências indicam que os distúrbios do sono são mais comuns entre os idosos do que em outras faixas etárias. Isso pode ser atribuído a diversos fatores, desde ansiedade até o fato das noites estarem mais quentes por causa das mudanças climáticas.
Por isso, descobrir a relação entre a insônia e a demência é essencial para saber se ali reside uma forma de combater a doença. “Precisamos de mais pesquisas para entender as causas e manifestações e limitar as consequências a longo prazo”, acrescentou Wong.
Mas, segundo ele, a pesquisa já mostra que é essencial considerar o histórico de distúrbios do sono ao avaliar o perfil de risco de demência em pessoas mais velhas.
Quase 2 milhões de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil. A previsão é que esse número triplique até 2050, segundo o proketo Global Burden of Disease. Até lá, a parcela da população global com a doença pode chegar a mais de 150 milhões, especialmente devido ao envelhecimento populacional.