Cientistas mapearam como os genes causam doenças mentais
É comum dizer que doenças mentais são de família. Embora isso seja verdade, os cientistas possuem pouquíssima sorte quando se trata de entender como os nossos genes influenciam o risco de desenvolvimento de depressão ou esquizofrenia.
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Uma nova pesquisa publicada na revista Science parece oferecer uma peça valiosa para entender melhor o tema: um itinerário sobre como os genes são expressados de forma diferente nos cérebros de pessoas com uma das cinco principais doenças psiquiátricas.
Uma aliança internacional de pesquisadores peneirou dados de estudos passados que analisavam a composição genética do cérebro de pessoas – doados após a morte – que foram diagnosticadas com depressão clínica, esquizofrenia, transtornos do espectro do autismo, alcoolismo ou transtorno bipolar. Os estudos envolveram 700 pessoas no total.
Os pesquisadores analisaram especificamente as moléculas de RNA encontradas dentro das células cerebrais no cortex cerebral, que “leem” e traduzem o DNA que compõe cada célula. Isso permitiu que vissem de forma ampla e então mapeassem como as células realizavam as instruções genéticas com as quais foram codificadas. Por fim, utilizaram cérebros de pessoas com uma condição não psiquiátrica, a síndrome do intestino irritável, como grupo de controle.
Eles descobriram muitas sobreposições distintas de atividade molecular entre os cérebros de pessoas com transtornos psiquiátricos, o que não foi encontrado nos cérebros “saudáveis”, indicando que muitos dos mesmos tipos de disfunções biológicas os sustentam.
“Essas descobertas oferecem uma assinatura molecular e patológica dessas doenças, o que é um grande avanço”, disse o autor sênior Daniel Geschwind, professor de neurologia, psiquiatria e genética humana do Centro de Tratamento e Pesquisa de Autismo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, em comunicado.
As descobertas podem mudar a forma como conceitualizamos certas doenças mentais. Por exemplo, a assinatura molecular observada nos cérebros de pessoas com transtorno bipolar era a mais parecida com a assinatura de pessoas que sofriam de esquizofrenia. Isso foi uma surpresa para os cientistas, já que os sintomas são muito diferentes entre si.
Há algumas diferenças chaves surpreendentes, também. Os cérebros das pessoas que sofriam de alcoolismo não compartilhavam quase nada em comum com os outros. O que é um confronto a pesquisa anteriores que sugerem que depressão e alcoolismo geralmente estão geneticamente conectados.
Os genes não são de nenhuma maneira a influência única sobre como as células realizam (ou falham ao realizar) o trabalho que lhes é dado; o ambiente no qual passamos a nossa vida também possui um papel importante. E não existe nenhuma mutação genética que explicará por que uma pessoa tem tendência a desenvolver depressão.
Mas agora os cientistas entendem melhor que o risco genético de doença mental de uma pessoa provem de muitas variações genéticas quase insignificantes – algumas incrivelmente comuns, algumas raras – que interagem umas com as outras de maneiras que ainda não compreendemos.
Geschwind e sua equipe acreditam que a pesquisa oferecerá muitas pistas novas aos cientistas. E essas pistas talvez levem não apenas a testes de diagnósticos, mas também a tratamentos.
Segundo o conteúdo da Science Magazine, alguns dos pesquisadores estão procurando um estudo clínico para testar um tratamento para autismo, baseando-se nos fatos deste estudo e outros que sugerem que determinadas células cerebrais chamadas micróglias parecem ser hiperativas nos cérebros daqueles que possuem a condição.
Mas boa parte desse trabalho ainda está por vir.
“Mostramos que essas mudanças moleculares no cérebro estão conectadas a causas genéticas subjacentes, mas ainda não entendemos os mecanismos pelos quais esses fatores genéticos levam a essas mudanças”, disse Geschwind. “Então, embora tenhamos algum entendimento das causas, e esse novo trabalho mostre as consequências, precisamos ainda entender os mecanismos nos quais isso ocorre, para desenvolver a capacidade de mudar esses resultados.”
[Science]
Imagem do topo: Um cérebro humano real em uma exposição no Bristol Science Center no Reino Unido. Crédito: Getty