Candidata à presidência dos EUA faz anúncios falsos no Facebook para por rede à prova
A candidatura à reeleição do presidente Donald Trump acabou de receber um selo de aprovação do Facebook e de seu CEO, Mark Zuckerberg. Só que não.
A equipe da senadora Elizabeth Warren intencionalmente colocou essa falsa alegação em uma série de anúncios de campanha no Facebook esta semana para chamar a atenção para a controversa política de anúncios da plataforma, que permitiu que propagandas igualmente difamatórias do presidente Donald Trump fossem executadas sem controle. Desde o ano passado, o Facebook isenta os políticos e a propaganda política das medidas habituais de verificação de fatos da plataforma, uma regra pela qual a candidata presidencial não mediu palavras sobre seu desdém.
“O Facebook mudou sua política de anúncios para permitir que os políticos exibissem anúncios com mentiras conhecidas – transformando explicitamente a plataforma em uma máquina de desinformação com fins lucrativos”, tuitou Warren no sábado, depois que os anúncios começaram a aparecer no Facebook na quinta-feira. Portanto, as propagandas de sua campanha pretendiam “ver até onde” a política da plataforma vai. Você pode vê-los aqui na biblioteca de anúncios do Facebook.
Facebook changed their ads policy to allow politicians to run ads with known lies—explicitly turning the platform into a disinformation-for-profit machine. This week, we decided to see just how far it goes.
— Elizabeth Warren (@ewarren) October 12, 2019
Ao contrário do anúncio de campanha de Trump, no entanto, um aviso segue a mentira dela: “Você provavelmente está chocado e pode estar pensando: ‘como isso pode ser verdade?’ Bem, não é. (Desculpe.)” O anúncio continua argumentando que, embora o Facebook não tenha apoiado explicitamente Trump, a empresa aceitou “montes de dinheiro” da campanha de reeleição do presidente para permitir que eles “repassassem suas mentiras aos eleitores americanos” na plataforma.
A resposta de Warren parece direcionada a um recente anúncio pró-Trump que o Facebook se recusou a retirar na semana passada, apesar de um pedido do ex-vice-presidente Joe Biden. O anúncio alega falsamente que Biden, outro candidato presidencial democrata, prometeu doar à Ucrânia US$ 1 bilhão para interromper uma investigação sobre a empresa de seu filho. É uma afirmação que Trump repetiu várias vezes com zero evidências e uma das muitas teorias da conspiração lançada em um livro de Peter Schweizer, editor do blog Breitbart News.
Ao permitir esse tipo de campanha de desinformação em sua plataforma, o Facebook está provando que valoriza mais os lucros do que preservar o processo democrático americano, argumenta Warren.
“O Facebook detém um poder incrível para afetar as eleições e nosso debate nacional. Eles decidiram deixar que figuras políticas mentissem para você – mesmo sobre o próprio Facebook – enquanto seus executivos e investidores ficam ainda mais ricos com os anúncios que contêm essas mentiras”, ela tuitou na segunda-feira.
Facebook has incredible power to affect elections and our national debate. Mark Zuckerberg is telling employees that he views a Warren administration as an “existential” threat to Facebook. The public deserves to know how Facebook intends to use their influence in this election.
— Elizabeth Warren (@ewarren) October 7, 2019
Enquanto isso, o Facebook afirma que sua recusa em reprimir anúncios difamatórios ajuda a impedir que a plataforma injete viés no processo de curadoria de conteúdo político.
“[A] FCC não quer que empresas de transmissão censurem o discurso dos candidatos. Concordamos que é melhor deixar os eleitores – e não as empresas – decidirem”, tuitou o Facebook no sábado, marcando Warren. O tuite também se vincula aos dados coletados pela Advertising Media, empresa que mostra disparidades em quantos anúncios anti-impeachment e pró-impeachment foram veiculados em quatro estados principais.
@ewarren looks like broadcast stations across the country have aired this ad nearly 1,000 times, as required by law. FCC doesn’t want broadcast companies censoring candidates’ speech. We agree it’s better to let voters—not companies—decide. #FCC #candidateuse https://t.co/WlWePjh1vZ
— Facebook Newsroom (@fbnewsroom) October 12, 2019
O Facebook respondeu nossa solicitação referindo-se ao tuíte acima, mas o porta-voz da empresa, Andy Stone, forneceu a seguinte declaração à CNN: “Se a senadora Warren quer dizer coisas que ela sabe que são falsas, acreditamos que o Facebook não deve estar na posição de censurar esse discurso”.
No início desta semana, a diretora de políticas públicas do Facebook para políticas globais Katie Harbath argumentou em uma carta enviada à campanha de Biden obtida pelo Gizmodo que a política da rede social não dá aos políticos liberdade total. O conteúdo que tentar espalhar “uma farsa viral – como um link para um artigo ou vídeo ou foto que foi desmentido anteriormente” pode ser rejeitado. Mas isso se aplica apenas ao conteúdo compartilhado; se um político dissemina as besteiras diretamente, o Facebook considera como “discurso direto” e é um sinal para o programa de verificação de fatos da plataforma não interferir.
O Twitter e o Google também exibiram esses anúncios pró-Trump – porta-vozes dos dois confirmaram ao Gizmodo que esses anúncios não violavam as políticas de nenhuma das empresas -, mas Warren e o Facebook têm um pouco de história. Na semana retrasada, o Verge publicou um áudio vazado de uma reunião da empresa em que Zuckerberg prometeu revidar se Warren cumprir sua promessa de quebrar grandes empresas de tecnologia. A senadora criticou posteriormente o CEO e reiterou que sua promessa de campanha em vários tuites contundentes.