Empresa de dono do ChatGPT quer escanear sua íris por R$ 240; você toparia?
Você deixaria uma empresa escanear a íris do seu olho em troca de R$ 240? Mais de 2,2 milhões de pessoas em 120 países se submeteram ao procedimento desde maio de 2021, quando o projeto da Worldcoin estava em sua versão beta. E a falta de transparência sobre o destino destes dados está preocupando especialistas.
A Worldcoin é uma organização fundada por Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI — empresa que criou o famoso robô de conversação ChatGPT. Ela nasceu com um objetivo ambicioso: registrar dados biométricos de toda a população mundial a fim de criar uma rede de identificação digital.
O lançamento oficial aconteceu no final de julho e contou com exames de globos oculares em países como Reino Unido, Japão e Índia. Contudo, quem topou participar não precisou compartilhar nome, número de telefone, e-mail ou endereço, segundo a organização. Apenas ficou diante de um dispositivo chamado Orb.
A Worldcoin diz que o dispositivo faz uma varredura da íris, e a foto é apagada logo em seguida. O registro é transformado em uma sequência numérica (o passaporte World ID), e as pessoas recebem 25 tokens Worldcoin (WLD) por meio do aplicativo World App, que também permite fazer transações virtuais.
De acordo com a agência Reuters, os 25 tokens estavam avaliados em 48 dólares (quase R$ 240) na última terça-feira (8). Depois de fazer a varredura de íris, os usuários recebem um token por semana pelo aplicativo.
Quem ajuda a alavancar o projeto, como desenvolvedores e influenciadores digitais, também tem direito a uma bonificação extra.
A Worldcoin afirmou ao G1 que chegou a disponibilizar três locais de atendimento em São Paulo (SP), mas eles não estão mais disponíveis. A operação no Brasil seria um teste, e a empresa não informou quantas pessoas se cadastraram por aqui.
Por que escanear íris?
A empresa alega que os passaportes digitais criados com o escaneamento de íris são o único meio seguro de determinar a identidade de alguém. Eles poderiam ajudar a diferenciar seres humanos de robôs de inteligência artificial, mas não só.
Por outro lado, a Worldcoin afirma que permitirá que governos e entidades globais usem sua rede de identificação, de modo que ela auxilie em“processos democráticos globais” ou mostre um “caminho potencial” para o estabelecimento de uma renda básica universal.
“Não acho que seremos os responsáveis por gerar uma renda básica universal. Se pudermos criar a infraestrutura que permita que governos ou outras entidades o façam, ficaremos muito satisfeitos”, disse Ricardo Macieira à Reuters.
Macieira é gerente geral na Europa da empresa Tools For Humanity, com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, e Berlim, na Alemanha. A Tools criou as câmeras e o aplicativo usados pela Worldcoin para fazer as varreduras de íris. Quem administra a Worldcoin é a Worldcoin Foundation, uma “organização sem fins lucrativos” com sede nas Ilhas Cayman.
Preocupações com privacidade de dados
A Worldcoin diz que os passaportes coletados ao redor do mundo podem ser passados para subcontratados e acessados por governos e autoridades. Mas reguladores e ativistas pela privacidade de dados estão com um pé atrás em relação ao projeto.
Isso porque a Worldcoin não detalhou como vai tratar outras informações que coleta, e os dados biométricos coletados são considerados sensíveis. As pessoas estão preocupadas que a Worldcoin possa ser hackeada ou explorada, e o fato de que ela é uma empresa global levanta dúvidas sobre como seria feita a fiscalização e regulamentação.
O Data Privacy Brasil e o Big Brother Watch, do Reino Unido, são exemplos de grupos de defesa da privacidade que criticaram a varredura de íris recentemente. Além disso, órgãos reguladores de dados na França, na Alemanha e no Reino Unido também estão examinando a iniciativa da Worldcoin.