Estudo implanta decodificador de humor no cérebro para conter depressão
Um tratamento experimental no cérebro realizado por pesquisadores de diversas instituições dos EUA pode ser a chave para ajudar pessoas com depressão grave.
São eletrodos inseridos em pontos profundos do cérebro para fornecer pulsos regulares de eletricidade. É quase como um “decodificador de humor” – uma forma de descobrir como alguém se sente ao observar a atividade cerebral.
Com o decodificador, os cientistas esperam medir a gravidade da depressão e, assim, identificar precisamente onde inserir os eletrodos para otimizar os efeitos no humor dos pacientes. Por enquanto, quatro voluntários participam da análise.
Os resultados até aqui são extremamente promissores, disse o neurocirurgião Sameer Sheth, do Baylor College of Medicine em Houston, Texas, que lidera o estudo. Segundo ele, já é possível vincular a atividade cerebral específica dos voluntários e ainda encontrar uma maneira de estimular o humor positivo.
“Esta é a primeira demonstração de decodificação de humor consistente e bem-sucedida de humanos nessas regiões do cérebro”, disse. A equipe médica apresentou as descobertas na reunião anual da Sociedade de Neurociência de San Diego, em novembro.
A estimulação já ajuda casos graves de epilepsia e alguns distúrbios do movimento, como Parkinson, mas é a primeira vez que está sendo usado para conter os efeitos da depressão, uma doença ainda envolta em mistérios.
Veja relatos da pesquisa
Pelo menos cinco pessoas se ofereceram para os ensaios clínicos. O primeiro foi John (nome fictício), que teve 14 eletrodos implantados no cérebro no início de 2020. Ele ficou internado por nove dias enquanto neurocientistas monitoravam como a atividade cerebral se correlacionava com seu humor.
John enfrentou um quadro de depressão grave aos 27 anos. Mesmo tomando remédios, antipsicóticos e sedativos, os sintomas não passavam. Até a terapia eletroconvulsiva não foi suficiente: só funcionou no primeiro episódio depressivo, e em nenhum depois.
Agora, a equipe observa quais são os padrões cerebrais quando uma pessoa se sente animada ou muito deprimida. Enquanto isso, os médicos experimentam qual nível, tipo e frequência de estímulo funciona melhor para a retomada do bom humor.
A partir dessas informações, os cientistas acreditam que há maior potencial da estimulação cerebral profunda funcionar. Mas, apesar do sucesso nos primeiros pacientes, os médicos não esperam realizar o mesmo procedimento em massa.
O estudo contemplará apenas 12 pessoas, pois é um procedimento invasivo, caro, que leva tempo e traz muitos riscos. Mesmo assim, há interesse: só no Brasil, a depressão afeta 15,5% da população – ou seja, mais de 30 milhões de pessoas.