Facebook remove perfis e páginas nos EUA e diz ter evidência de influência política
Na semana passada, o Facebook Brasil removeu da rede 196 páginas e 87 perfis que “violavam as políticas de autenticidade” e que eram utilizadas para “gerar divisão e espalhar desinformação”. A iniciativa gerou reação do MBL (Movimento Brasil Livre), movimento de direita com grande alcance por lá. Mas não é só por aqui que Mark Zuckerberg está agindo.
Nesta terça-feira (31), o Facebook gringo anunciou que 32 páginas e contas foram suspensas tanto da própria rede social como do Instagram. De acordo com a nota oficial, as páginas estavam envolvidas em um “comportamento coordenado inadequado”.
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Ao contrário do que aconteceu por aqui, o anúncio oficial foi muito mais detalhado e transparente. O Facebook diz que ainda não possui todos os detalhes e quer descobrir quem está por trás dessa ação coordenada, mas sabe que a operação é muito mais sofisticada do que as que aconteceram no passado.
As pessoas por trás das contas utilizavam VPNs e serviços de internet móvel para dificultar o rastreamento de suas localizações.
No total, foram desativadas oito páginas e 17 perfis no Facebook, além de sete contas do Instagram. As páginas tinham mais de 290 mil seguidores, mais de 9.500 publicações orgânicas e 150 anúncios com investimentos de aproximadamente US$ 11.000 (R$ 41.300, em conversão direta), pagos em dólares americanos e canadenses, tudo operado por terceiros para não deixar rastros.
As páginas também criavam eventos e aparentemente estavam por trás de protestos que deveriam acontecer em Washington na semana que vem.
O Facebook afirma ter compartilhado o relatório com as investigações com autoridades dos Estados Unidos, o Congresso e outras empresas de tecnologia.
A pista que levou aos perfis
As pessoas por trás das páginas deixaram pouquíssimos rastros e a maioria das pistas não levavam a lugar nenhum, Mas bastou uma pista para que o Facebook suspeitasse do esquema. Uma conta desativada em 2017 e ligada à Agência de Pesquisa de Internet (IRA, na sigla em inglês), baseada da Rússia, tinha compartilhado um evento no Facebook que foi organizado pela página “Resisters”.
No passado, essa página teve um administrador que estava ligado à IRA. Esse perfil assumiu a página por por somente sete minutos, mas foi o suficiente para o Facebook puxar o fio da meada e descobrir as outras contas não autênticas que foram desabilitadas nesta terça-feira.
Como de praxe, essas atividades coordenadas se valem de temas polêmicos e de divisão social. A página “Resisters” criou um evento chamado “No Unite the Right 2 – DC” na plataforma e por ali organizava possíveis protestos entre os dias 10 e 12 de agosto, em Washington.
O protesto seria uma resposta à manifestação de brancos nacionalistas batizada de “Unite the Right” (“Unir a Direita”, em tradução livre), que aconteceu em 2017. De acordo com a rede social, a página Resisters coordenou administradores de outras cinco páginas autênticas para ajudar na organização do evento, publicando detalhes sobre transporte e logística – dessa forma, as páginas reais ajudaram a criar interesse no evento. O evento foi derrubado e os interessados estão sendo alertados.
Próximos passos
O Facebook está adotando bastante cautela e não quis indicar quaisquer ligações de indivíduos ou grupos políticos a essas páginas. Segundo a companhia, esse é um dos grandes desafios agora.
O fato é que a rede social está muito mais cuidadosa, principalmente depois das eleições dos EUA em 2016, em que a plataforma teve influência comprovada. Como aponta o New York Times, o time de segurança cresceu e especialistas em contraterrorismo foram contratados. A empresa está utilizando inteligência artificial e humanos para analisar e detectar contas automatizadas ou que possuem comportamentos suspeitos relacionados à política.
• Identificação de quem pagou por anúncios políticos no Facebook vai chegar ao Brasil
Na tentativa de combater a desinformação, a rede social fechou parcerias com agências de checagem de fatos e tem derrubado o alcance de publicações falsas.
Em ano de eleições no Brasil, ações similares também estão sendo realizadas, mas com muito mais timidez.
[Facebook]
Imagem do topo: Carl Court (Getty Images)