Grupo conservador de funcionários do Facebook vê suposto viés político dentro da empresa
No ano passado, um engenheiro do Google chamado James Damore desencadeou uma polêmica completamente desnecessária e improdutiva depois de que seu memorando de dez páginas denunciando “a câmara de eco ideológica do Google” publicado internamente se tornou uma questão pública. Damore, que meio que usou a ciência como máscara para tentar sugerir que alguns de seus colegas de trabalho podiam ser funcionários inúteis escolhidos pela diversidade, foi demitido por criar um ambiente hostil de trabalho — mas não sem antes tentar ganhar um crédito com a mídia de direita nos Estados Unidos.
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Enquanto isso, os conservadores nos EUA ficaram cada vez mais bravos com um suposto viés em empresas de tecnologia, com o presidente norte-americano, Donald Trump, reclamando ele próprio — com alegações que carecem de fontes que pudessem corroborar a afirmação — de supostas censuras e resultados de busca arranjados. Agora, parece que um engenheiro sênior do Facebook decidiu tirar uma página do livro de estratégias de Damore, segundo o New York Times, postando uma reclamação em uma mensagem corporativa interna intitulada “Temos um Problema de Diversidade Política”. O tal engenheiro, que se autodenomina como o “Objetivista”, se chama Brian Amerige e também criou um grupo de discussão para promover a mensagem da carta.
Como informa o New York Times:
“Somos uma monocultura política que é intolerante a diferentes visões”, escreveu Brian Amerige, engenheiro sênior do Facebook, em um post, que foi obtido pelo New York Times. “Alegamos acolher todas as perspectivas, mas somos rápidos em atacar — muitas vezes em multidões — qualquer um que apresente uma visão que parece estar em oposição à ideologia de esquerda.”
Desde que o post foi ao ar, mais de 100 funcionários do Facebook se juntaram ao Sr. Amerige para formar um grupo online chamado FB’ers for Politcal Diversity (“Facebookers pela Diversidade Política”), segundo duas pessoas que viram a página do grupo e que não estavam autorizadas a falar publicamente. O objetivo da iniciativa, segundo o memorando do Sr. Amerige, é criar um espaço de diversidade ideológica dentro da empresa.
No texto completo da mensagem obtida pelo New York Times, Amerige aludiu a uma série de reclamações contra a suposta “monocultura política” do Facebook e contra o comportamento de manada contra “qualquer um que apresente uma visão que pareça estar em oposição à ideologia de esquerda”.
As queixas de Amerige iam de indivíduos não especificados retirando “pôsteres dando as boas-vindas a apoiadores de Trump” a críticas ouvidas contra indivíduos de direita envolvidos com a plataforma, como o fundador do Oculus VR, Palmer Luckey, e o membro do conselho Peter Thiel (Thiel secretamente financiou uma ação judicial que levou à falência da antiga proprietária do Gizmodo, a Gawker Media). Eles também incluíram alegações de que funcionários haviam sido demitidos por causa de seu apoio ao lema “All Lives Matter” (“Todas as Vidas Importam”), em contraposição ao “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”), um movimento que combate a violência direcionada a pessoas negras. Amerige também alega ter sido chamado de “transfóbico” por, segundo ele próprio, chamar a atenção de “nossa arte corporativa de politicamente radical”.
Há também muitas citações assustadoras em torno de termos como “justiça social”, “diversidade”, “igualdade” e “ofensivo”, sugerindo que ter a temeridade de dizer as coisas erradas sobre essas questões delicadas no Facebook pode custar caro para a “reputação e carreira” de alguém:
Seus colegas têm medo porque sabem que eles — não suas ideias — serão atacados. Eles sabem que todo o papo sobre “abertura a diferentes perspectivas””não se aplica às causas da “justiça social”, imigração, “diversidade” e “igualdade”. Nessas questões, você pode ficar quieto ou sacrificar sua reputação e sua carreira.
Esses não são medos sem causa. Porque nós derrubamos pôsteres dando boas-vindas aos apoiadores de Trump. Nós propomos regularmente remover Thiel de nosso conselho porque ele apoiou Trump. Somos rápidos em sugerir demitir pessoas que acabam sendo mal compreendidas e ainda mais rápidos em concluir que nossos colegas são intolerantes. Fizemos de “All Lives Matter” uma ofensa passível de demissão. Colocamos Palmer Luckey numa caça às bruxas porque ele pagou por anúncios anti-Hillary. Nós escrevemos uns aos outros feedback ad hoc na ferramenta PSC por ter ideias “ofensivas”. Pedimos ao RH para investigar aqueles que ousam criticar o histórico de direitos humanos do Islã por criar um “ambiente não inclusivo”. E eles me chamaram de transfóbico quando chamei a atenção da nossa arte corporativa por ser politicamente radical.
A mensagem de Amerige não inclui nenhuma acusação falsificável de censura de usuários conservadores no Facebook, além de questionar se o suposto viés interno da empresa significa que ela ainda pode ser “confiada por uma grande parte do mundo como sendo portadores imparciais e transparentes de artigos, ideias e comentários”. No entanto, ele cita a opinião de Trump de que o Facebook é, de alguma forma, injusto com os conservadores:
O Congresso não acha que podemos fazer isso. O presidente não acha que podemos fazer isso. E, gostando deles ou não, merecemos essa crítica. Somos cegos para e dispensamos o que as pessoas além de nossas paredes (ou nem mesmo dentro delas) pensam sobre assuntos complexos que importam. Estou aqui há quase 6,5 anos, e isso ficou exponencialmente ruim nos últimos 2.
A carta de Amerige encoraja os funcionários a debater política no grupo, segundo o NYT, o que já resultou em alguns empregados denunciando as discussões lá como ofensivas contra minorias (um outro funcionário disse ao jornal que elas pareciam ser construtivas e inclusivas).
Basicamente, não há evidências de que o Facebook esteja ativamente censurando usuários conservadores — na verdade, tudo sugere que, nos últimos anos, o site tem estado completamente apavorado de irritá-los, consequentemente desencadeando repercussão negativa por parte de seus aliados no governo. E, no que diz respeito às alegações de censura interna, as preocupações de Amerige parecem refletir as de Damore, no sentido de que sua principal queixa é que uma pequena minoria de pessoas que escolhem expressar visões “ofensivas” no ambiente de trabalho enfrentam repercussões sociais ou profissionais. Em outras palavras, ela se apropria da linguagem dos direitos civis para promover o que, basicamente, se resume a uma queixa política pessoal no ambiente de trabalho. Liberdade de expressão não é livre de consequências, especialmente no setor privado.
De qualquer forma, a carta de Amerige parece ter sido feito quase que deliberadamente para chamar a atenção da mídia conservadora e, talvez, do próprio presidente. Então, apertem os cintos, porque isso provavelmente não vai acabar tão cedo.
O Gizmodo entrou em contato com Amerige para esclarecimentos sobre certas partes da carta, e nós atualizaremos esta publicação ou escreveremos uma outra nota caso tenhamos uma resposta.
Imagem do topo: AP