As incertezas sobre o gás natural da Rússia durante a guerra na Ucrânia fizeram com que 25 países investissem US$ 73 bilhões (ou R$ 385 bi no câmbio atual) em hidrogênio verde. É um salto sem precedentes: em 2021, o mercado global valia só US$ 1 bilhão.
Dados de um relatório do Carbon Tracker mostram que a maior parte dos recursos vem dos setores público e privado da Alemanha. Juntos, investiram US$ 10,4 bilhões no combustível gerado a partir de energia limpa.
O segundo país da lista é o Marrocos, com US$ 9,7 bilhões. O país africano quer se tornar um dos líderes do setor até 2050. Os EUA também entraram no ranking de maiores investidores. Washington já enviou US$ 9,5 bilhões para impulsionar o setor de hidrogênio verde.
Mais comum que qualquer outro elemento na natureza, o hidrogênio é usado como combustível, mas depende de muita energia para se separar da água. No hidrogênio verde, os produtores priorizam fontes de energia limpa para fazer a separação, como eólica e solar.
Como é bastante complexo (e caro), esse processo acontecia com energias mais baratas – e poluentes –, como carvão e gás metano (neste caso, chama-se hidrogênio cinza).
Mas a guerra na Ucrânia mudou os cálculos dos custos para a produção de hidrogênio. Com o conflito, o preço do gás vendido pela Rússia foi às alturas e, assim, a indústria se viu obrigada a recorrer a outras fontes de energia para produzir o combustível e cumprir as metas até zerar as emissões de gases de efeito estufa.
Segundo o relatório, a disputa na Ucrânia alavancou o setor para “décadas à frente das projeções pré-guerra”. Na Europa e Ásia, o hidrogênio verde já é a forma mais econômica de hidrogênio. No Brasil, o gás já é usado na indústria, em especial para o refino de petróleo e produção de fertilizantes.
Isso não significa que produzir hidrogênio verde ficou mais barato, mas sim que os custos do carvão e do gás, especialmente o russo, que antes protagonizaram a geração, saltou mais de 70% desde que Moscou invadiu os territórios ucranianos, em fevereiro.
Parte da solução
Apesar de ser, sim, uma forma de conter o uso indiscriminado de combustíveis fósseis, ainda não podemos dizer que o hidrogênio verde é a solução final contra o aquecimento do planeta e as mudanças climáticas.
“Embora o hidrogênio verde não seja a bala de prata contra a crise climática, ele oferece parte da solução se usado de maneira direcionada para indústrias específicas”, disse o analista da Carbon Tracker, Kofi Mbuk.
O hidrogênio verde também seria uma solução atraente para resolver a ansiedade na transição energética em face a metas ambiciosas, mas possíveis. Países se comprometeram com a ONU (Organização das Nações Unidas) em cortar 45% das emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2030. Isso deve reduzir a temperatura média global em 1,5ºC.
Há benefícios óbvios, mas também há incertezas. Criar hidrogênio verde requer energia renovável, o que é ainda é minoria na comparação com outras fontes, e uma quantidade preocupante de água doce.
“O hidrogênio verde desempenhará um papel crucial na transição energética, mas as aplicações precisarão se concentrar no setor agrícola (fertilizantes) e na indústria pesada (aço, transporte pesado, transporte marítimo, mineração) até que a inovação tecnológica para eletrolisadores melhore e se reduza o uso de água doce”, pontuou Mbuk.
Ainda assim, o hidrogênio verde pode se transformar em uma das fontes mais baratas de energia até 2030. Para isso, vai depender da colaboração de governos – não só em investimentos. O relatório sugere a criação de subsídios para o setor, órgãos financeiros para expandir o mercado e programas de fiscalização para garantir efetividade no sistema.