Gasolina cara aumenta pressão sobre hidrogênio verde no Brasil
O aumento no preço da gasolina depois de 15 semanas, na segunda-feira (18), e a tendência de crescimento depois do segundo turno das eleições, no dia 30, tende a pressionar um setor que ainda dá os primeiros passos no Brasil: o do hidrogênio verde.
O commodity conhecido como “combustível do futuro” é uma fonte de energia que pode ser líquida ou gasosa. É três vezes mais potente e menos poluente que a gasolina. Isso porque lança o vapor da água na atmosfera em vez de gás carbônico.
Hoje a capacidade de geração do Brasil de hidrogênio verde é de 180 GW (gigawatts). O gás já está em uso por aqui para fins industriais, especialmente no refino do petróleo e na produção de fertilizantes.
Mas a ideia é duplicar a produção – o que alavancaria o país para o protagonismo global no setor. Com um incentivo a mais, o hidrogênio verde pode servir ao transporte (ônibus, aviões e caminhões), na produção de aço e até em casas e prédios como energia adicional – inclusive para exportação.
A expectativa é que o Brasil desenvolva capacidade de vender energia para países com menor disponibilidade de energia renovável, disse Gabriel Lassery, superintendente da ABH2 (Associação Brasileira do Hidrogênio), à Agência Brasil.
“Países com menor disponibilidade de energia renovável visam importar hidrogênio renovável e de baixo carbono de países produtores, para descarbonizar suas matrizes. Novas iniciativas para estruturar esses negócios são frequentemente discutidas”, afirmou.
Mas antes de mirar o exterior, é preciso superar os gargalos tecnológicos e de investimentos que ainda temos por aqui. Um empecilho é o fato do Brasil não fabricar eletrolisadores e células a combustível, por exemplo.
“A cadeia produtiva para os equipamentos necessita ser desenvolvida”, explicou Ricardo Ferracin, diretor da Associação Brasileira de Energia de Resíduos e Hidrogênios. Segundo ele, ainda faltam profissionais capacitados e, mais que isso, recursos técnicos para desenvolver a área.
O que é hidrogênio verde
Abundante no universo, o hidrogênio pode servir desde na produção de fertilizantes para o agronegócio até a indústria alimentícia. A NASA, por exemplo, usa hidrogênio em foguetes. Esse gás tende a ser mais caro que a gasolina por causa da sua complexidade.
A fabricação de hidrogênio como combustível demanda muita energia elétrica. Nos métodos tradicionais, o que mais se usa são fontes de energia não sustentáveis, como carvão mineral, gás natural, biocombustíveis e combustíveis fósseis.
No caso do hidrogênio verde, usa-se a eletrólise. O equipamento eletrolisador de água aciona uma corrente de energia elétrica constante (chamada contínua) em um recipiente com água e dois eletrodos (positivo e negativo). A corrente, então, separa o hidrogênio e o oxigênio da água.
Neste caso, o “pulo do gato” do hidrogênio verde é que sua geração vem de energias renováveis, como eólica, solar, hidrelétricas e até biomassa de resíduos (lixo orgânico).
A passo de formiga (mas andando)
Dados da Agência Internacional de Energia apontam apenas 0,1% do combustível de hidrogênio produzido no planeta vem de eletrólise. Ou seja, a produção de 99% deriva de fontes não renováveis.
Mas isso tende a mudar. Em junho, uma das maiores indústrias químicas da América Latina investiu R$ 650 milhões para construir a primeira fábrica de hidrogênio verde no Brasil. A estrutura, que quer ser a maior usina de hidrogênio verde do mundo, vai ficar na cidade baiana de Camaçari.
No resto do mundo, o Egito já demonstrou interesse em concorrer com o Brasil como pólo na geração de hidrogênio verde. O país deve apresentar um plano ambicioso para o setor durante a COP27, a próxima conferência climática que acontece na região egípcia de Sharm el-Sheikh entre 6 e 18 de novembro.
Além disso, o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, com sede em Londres, já fornece apoio regulatório e financeiro aos projetos que querem dar início à geração do gás.
Enquanto o mundo tenta combater as mudanças climáticas fomentadas pelo uso indiscriminado de combustíveis fósseis, o hidrogênio verde pode ser uma solução dos pontos de vista ambiental e econômico.
O combustível tem potencial para descarbonizar atividades que são grandes responsáveis pelas emissões de carbono, como o segmento de transportes e produção de energia. Mas também há riscos: apesar do hidrogênio se misturar rapidamente, ele é altamente inflamável e só pode ser manuseado com cuidado. Além disso, há dificuldade em transportá-lo.