A Indonésia está mudando sua capital, porque Jacarta está afundando
Desde que a Indonésia existe, mesmo durante os tempos coloniais, Jacarta tem sido a capital do país. Mas a cidade costeira de dez milhões de habitantes que fica na costa norte de Java perderá esse título, graças a sérios problemas de infraestrutura e desafios ambientais.
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, decidiu, após reunião de gabinete, avançar com o plano de mudar a capital, segundo informa o Jakarta Post. Essa ideia é considerada desde o primeiro presidente do país, Sukarno, em 1945, depois que ele conquistou a independência do país dos holandeses. Agora, o plano finalmente vai se tornar realidade, pois a cidade chegou a um ponto crítico com congestionamento, poluição do ar e mudanças climáticas.
Recentemente, a BBC classificou Jacarta como a cidade que afunda mais rápido no mundo. E, olha, não é mentira: a cidade afundou 13 pés (quase quatro metros) nos últimos 30 anos, segundo a Reuters.
A cidade, que é altamente vulnerável a intempéries, poderá ficar permanentemente inundada até 2050, uma vez que o nível do mar deve subir pelo menos 50,8 cm e potencialmente até 1,5 metro, segundo estimativas do Ministério de Relações Exteriores da Holanda. Juntamente com a elevação do nível do mar, a captação de água subterrânea para uso humano reduziu a elevação da região, já que o solo pode compactar ou encolher quando há menos água passando por ele, como observou o Asean Post.
É por isso que o governo finalmente vai mudar a capital, mas isso não será uma tarefa fácil. Primeiro de tudo, vai custar US$ 33 bilhões, segundo a CNN. Mover uma capital não requer apenas a construção de novos escritórios governamentais e embaixadas, disse Deden Rukmana, presidente do Departamento de Planejamento Comunitário e Regional da Universidade Alabama A&M, que é especializado em desenvolvimento urbano no país. Mover uma capital também requer mover todas as pessoas que trabalham nesses edifícios. “Todo mundo precisa estar a bordo”, disse Rukmana ao Gizmodo.
Dito isso, ele acha que é uma grande ideia, e necessária até. Ele tem argumentado desde 2008 que a Indonésia precisa se apressar em mudar sua capital. Há muito desenvolvimento urbano na cidade atualmente: tem muita gente, carros e edifícios. Não dá para esperar por muito mais tempo, se quiserem fazer um processo de forma eficiente. Remover todas as atividades do governo relacionados à capital pode ajudar a aliviar. Em março, a cidade lançou o primeiro sistema de transporte público para ajudar a aliviar o trânsito.
A urbanização recente também se estendeu além dos limites da cidade, explicou Rukmana, eliminando os campos agrícolas ao sul e substituindo-os por áreas residenciais e comerciais, bem como por complexos industriais. Isso significa que, quando as chuvas chegarem — o que varia de 178 cm a 317 cm por ano nas planícies do país —, as enchentes não terão para onde serem escoadas. E a cidade alaga todo ano; 13 rios correm por ela, e o comum é acreditar que todos eles vão encher quando chove.
Até agora, o governo ainda não anunciou quando este movimento acontecerá ou onde será a próxima capital. A BBC, no entanto, informa que a capital deve ser a província de Palangkaraya (a parte indonésia da ilha de Bornéu). Rukmana gostaria de que fosse em algum lugar nesta ilha. O importante é que não seja em Java, pois a ilha é muito congestionada. “Precisamos de outro lugar para construir”, disse ele ao Gizmodo.
Jacarta não será abandonada. O governo prevê que a cidade se torne a “Nova York da Indonésia”, se transformando no coração da atividade financeira do país. No entanto, o governador de Jacarta, Anies Bawedan, acredita que essa decisão reduzirá o tráfego intenso na cidade, segundo noticia o Jakarta Post. Carros particulares são o problema, não veículos do governo, disse.
De qualquer forma, uma cidade submarina não é futuro para ninguém — seja para o governo ou instituições particulares. Jacarta é um dos lugares mais vulneráveis do país, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Holanda. Mover a capital para outro lugar não ajudará as pessoas que não têm para onde ir.