Projeto brasileiro que traduz português para língua de sinais ganha R$ 3 milhões em desafio do Google
A Organização Munidal de Saúde (OMS) estima que 5% da população mundial, o que corresponde a cerca de 466 milhões de pessoas, tem problemas auditivos. No Brasil, os dados mais recentes foram apresentados em 2010 pelo IBGE e indicam que o número chega a 9,7 milhões. Apesar dos números elevados, esse grupo de pessoas ainda enfrenta inúmeros desafios diários, sinalizando a necessidade de soluções capazes de tornarem os ambientes, tanto online como offline, mais inclusivos.
Pensando nisso, um grupo de três brasileiros de Maceió criou há um tempo a Hand Talk, uma startup que usa inteligência artificial para traduzir o português para a língua brasileira de sinais. A iniciativa é louvável a ponto de o projeto ter sido um dos vencedores do Desafio Google de Impacto em IA, anunciado nesta terça-feira (7) no Google I/O, que tem como objetivo premiar iniciativas tecnológicas de impacto social.
Para muitos dos deficientes auditivos, a língua de sinais é a forma mais comum, senão a única, de se comunicarem. Por esse motivo, mesmo os conteúdos em texto podem dificultar a compreensão na hora de eles acessarem ambientes digitais. Segundo dados da Federação Mundial de Surdos (WFD, em inglês), 80% dos surdos do mundo são analfabetos nas línguas escritas. A ideia da Hand Talk é justamente ajudar este público.
O investimento recebido pela Hand Talk como resultado da premiação foi de R$ 3 milhões e os ganhadores foram anunciados durante o I/O, evento do Google para desenvolvedores. Além do apoio financeiro oferecido pelo Google.org, os 20 selecionados poderão receber consultorias com especialistas do Google, e participar de um programa de aceleração do Google Developers Launchpad.
A Hand Talk foi desenvolvida por Ronaldo Tenório, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz, e busca atender àqueles que dependem da linguagem de sinais para se comunicarem. A ferramenta consiste em dois produtos principais. O primeiro é o tradutor de sites que conta com o avatar digital Hugo, um intérprete que traduz o conteúdo dos sites para a língua de sinais. O segundo é o aplicativo mobile que traduz conteúdos em texto e voz automaticamente para libras, além de oferecer um dicionário para sinais educativos que auxiliam no aprendizado de estudante surdos.
No caso do aplicativo, disponível para iOS e Android, ele pode auxiliar não apenas quando o usuário estiver em contato com algum conteúdo digital, mas até mesmo para se comunicar e interagir com quem não sabe a língua de sinais, como é o caso da maioria das pessoas, já que é capaz de traduzir áudios também. Isso ampliaria muito as possibilidades das pessoas com deficiência auditiva, permitindo que elas assistam a eventos, por exemplo, e participem de outras atividades que antes não poderiam devido à falta de acessibilidade.
Outro ponto interessante é que a Hand Talk não é apenas para os deficientes auditivos. O projeto também incentiva todas as pessoas a aprenderem a língua de sinais, que inclusive é considerada língua oficial do Brasil desde 2002. Por meio do dicionário disponível no app e dos vídeos explicativos, é possível iniciar o seu processo de alfabetização em libras. A ideia do Hand Talk é que cada vez mais pessoas aprendam a língua de sinais e se tornem mais interessadas e empáticas com a comunidade surda.
O Desafio Google de Impacto em IA faz parte da iniciativa Inteligência Artificial para o Bem Social. O objetivo é oferecer suporte a organizações sem fins lucrativos e ONGs a utilizarem inteligência artificial para criar soluções para grandes problemas da humanidade. Neste ano, o desafio recebeu 2602 inscrições de projetos de 119 países, com propostas que abordavam temas diversos, desde eficiência operacional a mudança climática. Dentre os países da América Latina que foram premiados, também estava a Colômbia.
Os 20 vencedores foram avaliados com base em quatro critérios: viabilidade, potencial de impacto, escalabilidade e uso responsável da inteligência artificial.
Se, por um lado, a inteligência artificial gera discussões sobre os possíveis malefícios para a humanidade, o projeto Hand Talk e os outros premiados pelo desafio mostram que ela também pode ser utilizada como solução para vários problemas.