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Juiz coloca em xeque os créditos de carbono como salvadores do clima

Apenas 12% a 33% dos créditos de carbono tiveram os benefícios climáticos declarados no mercado de créditos de carbono e compensações.

Créditos de carbono podem não ser eficientes para salvar o clima, aponta estudo de principal entidade do mercado

Na última terça-feira (30), a SBTi (Sciene Based Targets initiative), principal órgão que verifica metas climáticas de grandes empresas, divulgou um estudo revelando que o uso de créditos de carbono não são “eficientes” nos objetivos climáticos.

A divulgação ocorre em um momento que a liderança da SBTi enfrenta grandes críticas em relação a uma iniciativa para permitir um uso mais amplo de créditos de carbonos através de projetos como plantio de árvores e limpeza de fogões e fornos para reduzir as emissões.

Vale lembrar que, no início de julho, o brasileiro Luiz Amaral abandonou o cargo de CEO da entidade por motivos pessoais. Contudo, a decisão ocorreu após o clima ficar insustentável após a proposta de ampliar o uso os créditos de carbono, feita em abril.

A proposta abalou a credibilidade da SBTi como principal juiz sobre políticas corporativas relacionadas ao clima. Além disso, os efeitos lançaram luz sobre quem financia a iniciativa.

Embora formada pela parceria entre ONU, WWF e mais duas ONGs, a SBTi recebe apoio financeiro da Amazon, do Bezos Earth Fund e outras empresas.

Como muitas empresas não conseguem – ou não querem – reduzir suas emissões, os créditos de carbonos surgiram como uma solução.

Portanto, em 2025, a SBTi vai decidir qual é o limite estabelecido às empresas para usar créditos de carbono para compensações de metas do clima.

Novas diretrizes sobre o mercado de créditos de carbono

O novo estudo publicado é parte das consultorias que a iniciativa pretende realizar. De acordo com a publicação no site oficial, a SBTi encontrou evidências que mostram “riscos aparentes no uso de créditos de carbono para compensar emissões”.

Isso inclui possíveis impactos – não intencionais –, como não chegar ao “net zero” (nível mínimo de emissões de carbono) e reduzir o financiamento para o clima.

Atualmente, os padrões da SBTi permitem o uso de compensações para obter créditos de carbono em 10% das emissões de uma empresa. Os 90% restantes de créditos são obtidos por reduções diretas. 

Segundo o estudo da SBTi, apenas 12% a 33% dos créditos de carbono tiveram os benefícios climáticos que os vendedores declaravam no mercado.

Porém, o estudo – que vai informar a revisão dos padrões do SBTi sobre os planos de corporações para enfrentar as mudanças climáticas –, ainda deixa brechas sobre o uso de instrumentos similares à compensação de carbono.

Créditos de carbono não devem salvar o clima, mas nova abordagem pode salvar reputação da SBTi

Conforme a nova política do SBTi, as atividades que podem receber créditos de carbono incluem projetos como preservar uma floresta ou instalar aquecedores sustentáveis em áreas frias.

Essas atividades podem “representar modelos ideais” para acelerar o financiamento climático, segundo a SBTi. A diferença dessa política de créditos e compensações está no modo que as empresas integram suas atividades para atender às metas do clima, que agora são contabilizadas separadamente.

Para Gilles Dufranse, diretor de políticas sobre mercados globais de carbono do Carbon Market Watch – outro fiscalizador de objetivos empresariais sobre o clima –, o estudo da SBTi tem efeitos positivos.

“O estudo é uma refutação clara da postura da empresa em abril, quando indivíduos específicos tentaram ‘passar a boiada’ para aprovar uma proposta que não tinha apoio dos funcionários da SBTi nem dos conselheiros externos”, diz Dufrasne.

Por fim, a SBTi ressalta que o estudo tem suas limitações. A descoberta sobre a ineficiência dos créditos de carbono em metas do clima são específicas às evidências que órgão analisou e, portanto, não deve ser generalizadas.

“É preciso realizar estudos posteriores para analisar vários tópicos relacionados ao tema”, disse a SBTi.

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