Luas de Marte podem ter se originado de um satélite maior atingido por objeto celestial

Estudo sugere que Fobos e Deimos originaram de uma lua marciana maior que se estilhaçou após ser atingida por um objeto celestial.
Representação artística da hipotética colisão antiga. Crédito: Mark Garlick

As duas pequenas luas de Marte, Fobos e Deimos, podem ter se formado após uma colisão que teria ocorrido há muito tempo, de acordo com uma nova pesquisa. É uma possibilidade intrigante, mas nem todo mundo está convencido pelas evidências.

Fobos e Deimos parecem batatas — embora isso possa ser visto como um insulto às batatas. A origem dessas luas deformadas não é totalmente clara, mas seu formato estranho, combinado com seu tamanho reduzido, levou à especulação de que elas são asteroides capturados que ficaram presos à órbita do Planeta Vermelho e se tornaram satélites naturais. De fato, Fobos mede 23 quilômetros de largura e Deimos, 11 quilômetros; então, essa teoria não é tão bizarra assim.

Outros fatores precisam ser considerados, no entanto, como suas composições incomuns (elas são muito diferentes de Marte de uma perspectiva geológica) e suas órbitas inesperadas. Mesmo assim, asteroides capturados devem ter órbitas alongadas e ângulos de inclinação aleatórios, e nada disso se aplica a Fobos ou Deimos. Em vez disso, ambas as luas apresentam órbitas excepcionalmente circulares que estão alinhadas acima do plano equatorial do Planeta Vermelho.

Outra possibilidade é que as duas luas são resquícios de uma colisão antiga, uma hipótese considerada por Amirhossein Bagheri, um estudante de doutorado na ETH Zurich e principal autor de um novo artigo sobre o assunto publicado na Nature Astronomy.

Bagheri e seus colegas fizeram simulações de computador das duas luas, mas em vez de rodar seus modelos a partir de um conjunto pressuposto de condições, os cientistas os executaram de trás para frente, para rastrear os movimentos históricos das luas ao longo do tempo. Assim, as simulações mostraram que Fobos e Deimos de fato se cruzaram.

Isso implica que as “luas muito provavelmente estavam no mesmo lugar e, portanto, têm a mesma origem”, explicou o coautor do estudo Amir Khan, cientista sênior da Universidade de Zurique e da ETH Zurique, em um comunicado. Por “mesma origem”, Khan se refere a um único objeto original — uma lua marciana maior que não existe mais — que se estilhaçou após ser atingida por um objeto celestial, como um asteroide ou cometa. Bagheri disse que Fobos e Deimos “são os restos desta lua perdida”. Eles argumentam que ela estava em uma órbita quase síncrona (isto é, um período orbital que corresponde à taxa de rotação do planeta) em torno de Marte.

Para executar essas simulações, no entanto, a equipe teve que descobrir como Marte e as duas luas interagiram ao longo do tempo, incluindo as forças das marés em jogo e a dissipação de energia resultante.

Graças à sonda InSight da Nasa e sua capacidade de monitorar a atividade sísmica em Marte, os cientistas têm uma melhor compreensão do que está acontecendo sob a superfície marciana. O mesmo não pode ser dito, entretanto, sobre as luas marcianas, mas os cientistas têm fotos e medidas coletadas por sensoriamento remoto. Fobos e Deimos são provavelmente como um queijo suíço, cheias de cavidades, e podem conter água congelada.

Equipados com suas variáveis ​​atualizadas, os cientistas rodaram os modelos, mostrando que o nascimento das duas luas ocorreu em algum momento entre 1 bilhão e 2,7 bilhões de anos atrás. A grande discrepância tem a ver com as incertezas sobre a porosidade das duas luas. Dados melhores podem esclarecer isso, e a boa notícia é que a agência espacial japonesa está planejando uma missão a Fobos, chamada Martian Moons Exploration, na qual uma sonda retornará amostras da superfície em algum momento no final desta década.

Embora o estudo ofereça uma visão intrigante da história das luas, Matija Ćuk, um cientista pesquisador do Instituto SETI, não se convenceu com os resultados.

“Os autores de fato têm um modelo detalhado para as marés de Marte, mas forçam a física quando se trata das marés dentro das luas”, disse ele por e-mail. “Mais importante, o cenário deles não faz sentido, pois eles projetam as órbitas de Fobos e Deimos para se sobreporem bilhões de anos atrás a [uma] velocidade relativa muito alta — muito mais do que o esperado pela divisão de um corpo combinado.”

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Ćuk disse que a ideia de uma única lua marciana em uma órbita quase síncrona há cerca de 2 bilhões a 3 bilhões de anos “provavelmente não é plausível”, já que a lua se afastaria rapidamente de tal posição e, em última análise, “não ajuda a resolver qualquer uma das perguntas que as pessoas têm sobre a origem de Fobos e Deimos”, disse ele. “Estou surpreso que este artigo tenha sido aceito em uma publicação de alto nível como a Nature Astronomy.

Ćuk, junto com o colega David Minton, da Purdue University, têm suas próprias ideias sobre Fobos e Deimos. Em uma pesquisa publicada no ano passado, os cientistas forneceram mais uma prova de que Fobos está preso a um ciclo de morte e renascimento que produz anéis em torno do Planeta Vermelho periódica e temporariamente. Esses anéis eventualmente geram novas luas, o que é uma explicação alternativa de como Marte obteve seus satélites.

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