Mães da pré-história cuidavam das crianças melhor do que pensávamos

Estudo australiano contesta ideia de que a taxa de mortalidade infantil no passado era alta
Imagem: Hans Splinter, Flickr/Reprodução

Por muito tempo, os cientistas acreditaram que as taxas de mortalidade infantil na pré-história eram realmente altas. Afinal, era isso que as amostras de sepultamento do passado mostravam, e a falta de acesso à saúde como temos hoje reforçava essa ideia. 

Um estudo feito pela Universidade Nacional da Austrália (ANU) chega para mudar essa concepção. Após uma série de análises, os pesquisadores perceberam que o fato de ter muitos bebês morrendo não significava necessariamente que eles estavam sendo negligenciados por nossos ancestrais, mas sim que havia muitas crianças nascendo naquela época. O artigo foi publicado no American Journal of Biological Anthropology.

Como concluíram isso

Talvez essa hipótese não tenha feito muito sentido na primeira vez que você leu. Por isso, vale entender um pouco mais sobre a metodologia usada pelos pesquisadores. A equipe reuniu dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre 97 países, que foram obtidos na década passada. Os números apontavam para a taxa de mortalidade infantil (crianças que morreram antes de completar um ano), de fecundidade e também para o número de mortes que ocorreram durante a infância. 

Então, os cientistas perceberam que a taxa de fecundidade possuía uma influência muito maior na proporção de bebês falecidos do que a taxa de mortalidade infantil. Simplificando: quanto maior a taxa de fecundidade, que indica o número de filhos que as mulheres estavam tendo, maior o número de bebês falecidos. 

Trazer leveza aos ancestrais

Os pesquisadores aplicaram estes dados para os povos que habitaram a Terra há 10 mil anos e não encontraram evidências de que 40% dos bebês faleciam antes de completar um ano, como era sugerido na academia. Clare McFadden, autora do estudo, disse em comunicado que é preciso “trazer um pouco de humanidade” para os nossos ancestrais. 

De acordo com a pesquisadora, as representações artísticas e a cultura popular mostram as pessoas da pré-história como arcaicas e incapazes, o que nos faz esquecer de suas experiências emocionais, que envolvem desde o desejo de cuidar até o sentimento de luto.

Além disso, há pouca ênfase na história de mulheres do passado, e são necessários mais estudos mostrando a maternidade e os cuidados infantis dos povos antigos. De acordo com os pesquisadores, ter muitas crianças indica, na verdade, que essas mães eram mais do que capazes de cuidar de seus bebês.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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