Cientistas dizem ter encontrado microplásticos em fezes humanas, mas estudo é questionado

Quanto mais procuramos, mais achamos microplásticos potencialmente tóxicos — as pequenas partes de detritos liberadas por nossos produtos de plástico quando eles se desintegram — por toda a parte no ambiente, em animais selvagens, e até mesmo na nossa comida e na nossa cerveja. Por isso, não chega a ser uma surpresa que uma nova […]

Quanto mais procuramos, mais achamos microplásticos potencialmente tóxicos — as pequenas partes de detritos liberadas por nossos produtos de plástico quando eles se desintegram — por toda a parte no ambiente, em animais selvagens, e até mesmo na nossa comida e na nossa cerveja. Por isso, não chega a ser uma surpresa que uma nova pesquisa divulgada esta semana sugere que microplásticos podem ir parar até mesmo no nosso cocô. No entanto, ainda não se sabe se devemos levar a sério essa descoberta.

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Pesquisas sobre os efeitos dos microplásticos — definidos como qualquer fragmento de plástico menor que 5 milímetros — no meio ambiente e na saúde de animais ainda estão em desenvolvimento. As primeiras descobertas, no entanto, não foram lá muito agradáveis.

Já foi demonstrado que a ingestão desses materiais pode dificultar a alimentação adequada de peixes e outros animais marinhos e até mesmo diminuir seus tempos de vida. Eles também podem expor animais a uma grande variedade de químicos que causam infertilidade e outros problemas hormonais. Algumas destas substâncias, como o bisfenol A (BPA) são um subproduto da degradação do plástico, mas outros poluentes, como metais tóxicos, são absorvidos pelo plástico do ambiente.

Comer peixe provavelmente não vai expor você a muitos microplásticos, já que eles acabam, em grande medida, nas tripas deles, que nós geralmente não comemos. Mas estamos regularmente expostos a químicos produzidos por produtos plásticos, e há algumas evidências de que isso pode, de maneira semelhante, afetar nossa produção hormonal. Entretanto, nós não sabemos o quanto dessa exposição é culpa dos microplásticos.

Neste novo estudo, cientistas da Universidade de Medicina de Viena e da Agência Ambiental da Áustria recrutaram um grupo de oito voluntários de locais distantes para um experimento simples. Os participantes vieram de diferentes países espalhados pela Europa e pela Ásia, incluindo Itália, Japão, Reino Unido e Holanda.

Ao longo de uma semana, os voluntários registravam o que comiam. Então, no último dia, eles davam uma amostra de fezes, que era enviada para um laboratório da Agência Ambiental da Áustria. Lá, os pesquisadores dizem que novos métodos de testes permitiram a eles procurar por 11 tipos diferentes de plásticos.

De acordo com os cientistas, nove tipos diferentes de plásticos puderam ser encontrados nas fezes dos voluntários. O estudo não sabe dizer com certeza como eles acabaram com plástico nas tripas, mas todos os voluntários reportaram ter comido alimentos embalados em plástico ou bebido líquidos de garrafas de plástico. Seis deles comeram frutos do mar.

“Este é o primeiro estudo do tipo e ele confirma o que nós suspeitamos há um bom tempo: os plásticos chegam às tripas humanas”, diz Philipp Schwabl, principal autor do estudo e cientista da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade de Medicina de Viena.

Mas o estudo tem várias ressalvas. Em primeiro lugar, uma pequena amostra de oito pessoas torna impossível tirar conclusões muito fortes. E, em vez de ser publicado com detalhes em um periódico após revisão por pares, eles apresentaram os resultados esta semana na conferência anual da United European Gastroenterology.

Novas pesquisas geralmente são antecipadas em conferências acadêmicas, mas sem revelar os métodos nem submetê-los a uma revisão independente, nós não podemos ter certeza se erros por negligência foram cometidos. Pesquisadores que não participaram do estudo levantaram a simples possibilidade das amostras de cocô terem sido contaminadas, por exemplo, já que os plásticos encontrados são comumente vistos em equipamentos de teste de laboratórios.

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“Observações de baixa qualidade de contaminação não representam bem o método científico. Logo, na minha humilde opinião, isso não nos ajuda a entender os impactos [dos microplásticos] em seres humanos ou como administrá-los”, diz Mark Browne, especialista em microplásticos na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, à AP.

No breve resumo que acompanha a apresentação da equipe, os autores notam que só conseguiram encontrar microplásticos em cinco das oito amostras até agora. Eles alegam que os altos níveis de celulose (um carboidrato comum encontrado em frutas, vegetais e grãos) e gordura nas outras amostras tornou difícil peneirar o plástico, e que eles estão trabalhando para refinar os métodos de teste.

Os cientistas admitem que sua pesquisa deveria ser apenas um estudo piloto, e pediram para realizar mais experiências. Mas, independentemente de se os microplásticos no nosso cocô sejam uma grave preocupação, já sabemos que esses materiais são ruins para o meio ambiente e para muitos animais. Nós precisamos nos preocupar com isso.

[UEG 2018]

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