Mídia sintética: por que você vai ouvir falar bastante disso?

Mídia sintética fala sobre a criação ou modificação de mídias, como imagens, textos e áudios, por inteligência artificial. Saiba um pouco mais dessa tendência
Mídia sintética: por que você vai ouvir falar bastante disso?
Imagem: Hao Wang/Unsplash/Reprodução

A popularização das plataformas de IA (inteligência artificial), como ChatGPT e Midjourney, abriu caminho para o próximo tema do momento: a mídia sintética. Apesar de bastante abrangente, o termo fala sobre a criação ou modificação de mídias – como imagens, textos e áudios – por máquinas. 

Na prática, é toda mídia produzida por uma tecnologia. Ou seja, programas de IA que geram imagens ou vídeos por comandos de texto, vozes artificiais, livros escritos por chatbots e até programas de rádio narrados por robôs. 

A mídia sintética – ou mídia gerada por IA, como você também pode encontrar por aí – acompanha a avalanche de inteligência artificial que acaba de chegar ao alcance da população. 

Se antes esses sistemas estavam mais restritos a pesquisadores ou especialistas em tecnologia, agora qualquer um pode acessar o ChatGPT e pedir que ele escreva um texto, esclareça um assunto complexo ou programe o código de um jogo parecido com o Sudoku. As possibilidades são infinitas. 

O que esperar 

Como em tudo na vida, a mídia sintética traz pontos positivos e negativos. Por um lado, as pessoas poderão criar conteúdo e ter acesso ao conhecimento de uma forma extremamente rápida e com o mínimo de esforço. 

A mídia sintética também possibilita a incorporação de diferentes gêneros textuais e artísticos, o que pode servir de subsídio para a criatividade humana descobrir novas formas de expressão. 

Esse aproveitamento é ilimitado e acontece em tempo integral. Além disso, as novas ferramentas de IA podem entrar em sites, aplicativos, ambientes de jogos e de realidade virtual, o que amplia em muito nossa experiência online. 

No outro lado, porém, encontramos alguns problemas que estão só começando – e prometem dar muita dor de cabeça. O primeiro deles envolve os deepfakes, técnica de IA que cria imagens falsas de forma tão convincente que parecem reais. 

Na maioria das vezes, deepfakes substituem o rosto de personagens em vídeos já existentes pelo de outra pessoa. A tecnologia espelha até as expressões faciais do vídeo original para o “novo rosto” colocado artificialmente. 

Apesar de aparecer em paródias na internet, o mais comum é encontrar deepfakes em pornografia com mulheres que nunca participaram do conteúdo adulto. 

Preocupação crescente 

Além da pornografia, as deepfakes já envolveram figuras conhecidas do público, como o Papa Francisco, Barack Obama e Donald Trump. Mas não só eles: qualquer pessoa pode se deparar com o próprio rosto em uma dessas tecnologias – uma destruição de reputação que pode levar anos até ser revertida. 

Um exemplo recente é a foto do Papa Francisco com a jaqueta estilosa que viralizou na web no final de março. Demorou para todo mundo entender que se tratava, na verdade, de uma foto gerada pelo Midjourney. 

Aí chegamos em outro ponto em debate na mídia sintética: a dificuldade para mapear os usuários que criam conteúdos falsos. Como muitas dessas plataformas não exigem login, é comum que pessoas gerem o material anonimamente – e até descobrir que é fake, está feito o estrago. 

Por causa disso, o Midjourney encerrou a geração gratuita de imagens, enquanto o ChatGPT só aceita usuários logados, mesmo na versão grátis. É uma tentativa de aplicar uma camada de proteção extra, dada a possibilidade que a IA tem de criar uma imagem próxima do real – e alimentar o ciclo de desinformação que já vivemos. 

Propriedade intelectual 

Também tem a questão dos direitos autorais. Plataformas como o ChatGPT geram textos a partir de milhões de materiais disponíveis online, todos escritos por humanos. Por isso, é possível encontrar algo “muito parecido” com o que já foi escrito por lá. 

Por esse motivo, a revista Clarkesworld fechou seu portal de submissões online. A publicação de ficção científica era 100% alimentada com histórias enviadas por escritores externos. Por causa da IA, as inscrições dispararam em fevereiro. 

“Isso enterrou nossa carga de trabalho e os envios que estávamos interessados em ler”, contou o editor-chefe Neil Clarke à emissora NBC. “É como tentar conversar com alguém em uma sala e uma horda de crianças gritando entra”.

Enquanto isso, pelo menos 200 e-books lançados na loja Kindle, da Amazon, têm o ChatGPT como autor ou coautor das obras. Mas é possível que o número seja muito maior: a Amazon não exige que os autores divulguem se usaram, ou não, IA. 

Já está mais do que claro: a mídia sintética veio para ficar – e é por isso que vamos ouvir falar cada vez mais sobre ela daqui para frente. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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