A vacina da COVID-19 desenvolvida pela Moderna possivelmente protege contra as variantes do coronavírus encontradas no Reino Unido e na África do Sul, disse o laboratório nesta segunda-feira (25). Dados preliminares da companhia indicam que a sua vacina produz uma forte resposta imune a tais variantes. No entanto, a empresa ainda pretende trabalhar em uma dose mais eficiente contra essas variantes caso seja necessário. É importante ressaltar que o Brasil não comprou vacina da Moderna até o momento.
As preocupações com as variantes genéticas começaram em dezembro, quando ficou claro que elas estavam se espalhando rapidamente em seus respectivos países. Cientistas acreditam que a B 1.1.7, a variante britânica, e a B 1.351, variante sul-africana, são mais transmissíveis que as cepas anteriores. Desde então, diversos países, incluindo Brasil e Estados Unidos, relataram ter encontrado essas variantes se espalhando localmente.
Como as variantes têm diversas mutações importantes que podem mudar o vírus, alguns cientistas estavam preocupados com a possibilidade de elas escaparem do sistema imune de pessoas que já foram infectadas ou vacinadas. E alguns dados preliminares sugerem que esse possa ser o caso. Na última semana, por exemplo, o governo sul-africano afirmou ter encontrado evidências de que o B.1.351 conseguiu driblar a imunidade em algumas pessoas que já haviam sido infectadas na primeira onda da pandemia.
A imunidade oferecida pela vacina, no entanto, não é a mesma que a natural. E há algumas evidências preliminares que indicam que as vacinas funcionam bem contra essas variantes. Um estudo publicado em janeiro, por exemplo, revelou que a vacina da Pfizer funcionou bem contra cepas do vírus que tinham as mutações da B.1,351 e B 1.1.7. No entanto, os dados da Moderna parecem ser os primeiros que verificam (por amostras de sangue) se os anticorpos de pessoas vacinadas podem neutralizar tais variantes.
E os resultados são animadores. De acordo com a Moderna, as pessoas vacinadas produziram um nível de anticorpos neutralizantes do B 1.1.7 semelhante ao que elas fariam com outras cepas. No caso do B 1.3.51, os níveis de anticorpos caíram seis vezes, mas ainda foram suficientes para neutralizar a atividade do vírus e garantir proteção contra doenças.
“Estamos otimistas com esses novos dados, que reforçam nossa confiança de que a vacina contra a COVID-19 da Moderna deve proteger contra essas novas variantes”, disse Stéphane Bancel, CEO da Moderna, em comunicado publicado pela empresa.
Os detalhes ainda serão divulgados publicamente, mas eles devem ser disponibilizados no site de preprints bioRXIv em breve. O estudo foi feito com o apoio do governo estadunidense pelo Instituto Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês).
Um detalhe importante, no entanto, é que não temos uma certeza de que haverá proteção correlata a outros coronavírus. Uma mistura de anticorpos, células T e células B específicas irão proteger as pessoas de doenças, mas não sabemos o quanto exatamente e se difere de pessoa para pessoa. Por isso, cientistas estão fazendo apenas suposições fundamentadas sobre o que esses resultados de laboratório podem significar para a imunidade, tanto no curto quanto no longo prazo.
Embora os resultados possam sugerir que nenhuma das variantes irá ameaçar a eficiência da vacina da Moderna (ou da Pfizer/BioNTech, que também funciona por RNA mensageiro), não há nenhuma garantia. E os resultados para o B.1.351 não são completamente tranquilizadores. Provavelmente é por isso que a Moderna continua se esforçando para desenvolver uma vacina específica para o B.1.351; além de planejar testar uma dose adicional contra essas e outras possíveis futuras variantes. Vale lembrar que o padrão da vacina é de duas doses com o intervalo de um mês.
Obstáculos e desafios no desenvolvimento de vacinas são mais regra do que exceção. Hoje mesmo, a empresa farmacêutica Merck anunciou que iria abandonar boa parte dos esforços em desenvolver vacinas da COVID-19, depois que seus dados sugeriram que elas não seriam eficientes o suficiente. Outras empresas ainda enfrentam problemas de produção em massa, caso suas vacinas sejam aprovadas.