Ciência

Mutação no vírus da varíola dos macacos pode gerar novo surto mundial

Cepa do vírus da da varíola dos macacos é diferente da que causou o surto em 2022, é mais letal e, ao que parece, pode ser transmitida sexualmente
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Uma cepa do vírus que causa a varíola dos macacos aperfeiçoou sua capacidade de se espalhar por contato sexual, segundo especialistas relataram à revista Nature. Agora, cientistas e médicos temem um novo surto mundial de mpox, assim como aconteceu em 2022.

Se esse for o caso, o cenário seria mais grave que da última vez. Isso porque evidências indicam que esta cepa, chamada clado I, é mais letal do que aquela que causou a última alta de casos.

Entenda o contexto

A cepa clado I não é nova. Ela tem causado pequenos surtos há décadas, a maioria deles em comunidades da África Central.

Contudo, registros indicam que infecções por essa cepa não eram adquiridas sexualmente – até ano passado. Desde então, a clado 1 com capacidade de transmissão sexual aumentou consideravelmente o número de casos na República Democrática do Congo. 

De acordo com um estudo publicado apenas em preprint, ou seja, sem revisão por um grupo independente de cientistas, 241 suspeitas e 108 infecções confirmadas estão ligadas a este surto. No total, aproximadamente 30% das infecções ocorreram em trabalhadoras sexuais.

O surto de mpox de 2022, que também teve o contato sexual como forma de disseminação, foi causado por uma cepa do vírus da varíola dos macacos chamada clado II. Embora tenha sido a causa da OMS decretar alerta, ela é menos letal que a clado I.

Mutação da clado I

Ao passo que os casos de varíola dos macacos têm diminuído no mundo, o contrário acontece na República Democrática do Congo. O país registrou mais de 14 mil infecções suspeitas somente em 2023. No total, foram 650 mortes pela doença. 

E o cenário sugere que há subnotificação. Apenas cerca de 10% dos casos suspeitos de mpox na RDC em 2023 foram testados, devido à capacidade limitada de testes.

Em geral, cientistas se preocupam com uma região com alta incidência de casos da mpox. Na província de South Kivu, a doença tem se espalhado principalmente entre trabalhadoras sexuais, sugerindo que o vírus se adaptou para se transmitir facilmente por contato sexual.

Por isso, pesquisadores acreditam na mutação da cepa, o que a torna a disseminação mais rápida de humano para humano, com probabilidade de apresentar poucos sintomas.

Ao analisar os genes do vírus responsável pelo surto, cientistas encontraram mutações que indicam adaptação da cepa. Isso levou os autores do estudo a dar um novo nome à ela: clado Ib.

Ainda há agravantes. Primeiro, a República Democrática do Congo enfrenta também a disseminação da cólera no país, o que aumenta o risco de surto de mpox para além da área atual. 

Em segundo, South Kivu está lidando com “conflitos, deslocamentos, insegurança alimentar e desafios em fornecer assistência humanitária adequada”, cenário que também facilita a propagação do vírus.

Vacinas

A vacina contra a varíola também protege contra a varíola dos macacos. Contudo, no surto de 2022, elas foram administradas apenas em indivíduos com alto risco de contrair a doença. Ainda assim, poucas doses chegaram aos países africanos.

Agora, a República Democrática do Congo avalia a aprovação regulatória para essas vacinas. Quando isso acontecer, países como os Estados Unidos e o Japão já se comprometeram a fornecer milhares de doses. 

Mas uma campanha de vacinação adequada exigiria centenas de milhares, se não milhões de unidades, segundo especialistas.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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