Perseverance, rover da Nasa que está em Marte, usa processador dos Macs de 1998 (e funciona)
Quando vimos a Nasa levar um novo rover para Marte no mês passado, muita gente pode ter imaginado que a agência espacial usou algum processador de alta tecnologia para dar vida à máquina. Certamente, ela foi construída em algo muito mais poderoso do que aquilo que nós, usuários comuns, estamos acostumados em nosso dia a dia. Mas a verdade é que alguns componentes internos do rover Perseverance não estão muito distantes do nosso cotidiano.
A revista NewScientist relata que o rover é movido por um processador PowerPC 750, que foi usado no iMac G3 original da Apple há 23 anos, em 1998 . De nome você talvez não se lembre, mas trata-se do desktop com a tampa traseira colorida e transparente — um ícone para a época. Se o nome PowerPC soa familiar, provavelmente é porque essas são as CPUs de arquitetura RISC que a Apple usou em seus computadores antes de mudar para a Intel (agora, ela começa a abandonar a empresa para usar os próprios processadores M1).
O PowerPC 750 era um chipset de núcleo único de 233 MHz — em comparação com as frequências de mais de 5,0 GHz de múltiplos núcleos que os chips de consumo modernos podem alcançar, 233 MHz é algo bastante lento. Mas o 750 foi o primeiro a incorporar previsão de ramificação dinâmica, que ainda é usada em processadores modernos hoje. Basicamente, a arquitetura da CPU adivinha quais instruções ela vai processar para melhorar a eficiência. Quanto mais informações, melhor o chip se torna em prever o que precisa fazer a seguir.
No entanto, há uma grande diferença entre a CPU do iMac e aquela dentro do rover Perseverance. A BAE Systems fabrica a versão endurecida por radiação do PowerPC 750, apelidada de RAD750, que pode suportar temperaturas entre -55 e 125 graus Celsius. Marte não tem o mesmo tipo de atmosfera que a Terra, que nos protege dos raios do Sol. Bastaria um flash de luz solar e estaria tudo acabado para o rover antes que sua aventura possa começar. Cada processador desse tipo custa mais de US$ 200 mil, o equivalente a R$ 1,1 milhão na conversão direta.
“Uma partícula carregada que esteja vagando pela galáxia pode passar próxima ao dispositivo e causar estragos. Pode literalmente soltar elétrons, causar ruído eletrônico e picos de sinal dentro do circuito [do processador]”, disse James LaRosa, da BAE Systems, à NewScientist.
Mas por que usar um chip tão antigo? Não tem nada a ver com custo. O que acontece que esses processadores mais velhos são considerados os melhores porque apresentam alta confiabilidade. A espaçonave Orion da Nasa, por exemplo, usou o mesmo RAD750 da Perseverance.
“Comparado com o [Intel] Core i5 do seu notebook, [o RAD750] é muito mais lento. E provavelmente não é mais rápido do que o chip do seu smartphone. Mas a decisão não tem a ver com velocidade, e sim sobre a robustez e confiabilidade”, afirmou Matt Lemke, vice-gerente da Nasa para aviônicos da Orion, ao The Space Review, no ano de 2014.
Levando isso em consideração, é razoável que a agência espacial escolha tecnologias mais antigas em vez de coisas novas. Afinal, quando você está gastando US$ 2,7 bilhões (R$ 15,3 bilhões) para pousar um robô em Marte, é importante que sua tecnologia seja confiável o suficiente para resistir ao tempo, até os menores circuitos soldados. Atualmente, o RAD750 está presente em cerca de 100 satélites orbitando a Terra, o que inclui GPS com imagens e dados meteorológicos, além de vários satélites militares. Nenhum deles falhou até agora, de acordo com LaRosa.