Nudes começam a tomar conta do mercado de NFTs

Boom dos tokens não fungíveis impulsiona o mercado de conteúdo adulto, mas também levanta debates e gera riscos para criadores de conteúdo.
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Em 2013, o poeta e jornalista Fabrício Carpinejar afirmou que “nada é mais afrodisíaco do que a exclusividade”. Apesar de ser dita em um outro contexto, a frase casa muito bem com o crescente –e potencialmente bilionário– mercado de nudes em NFT.

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As NFTs são subprodutos da tecnologia das criptomoedas. Sigla em inglês para “token não fungível”, elas têm sido usadas para transformar obras de arte e itens colecionáveis em ativos únicos e verificáveis que são fáceis de negociar na rede blockchain.

Produção de nudes

Já a pornografia é uma velha conhecida da internet. A novidade neste polêmico ramo é que, nos últimos anos, a produção de conteúdo adulto deixou de ser algo exclusivo das grandes produtoras, passando a ser criado também por pessoas comuns, que veem a venda de fotos e vídeos de nudez como uma lucrativa fonte de renda.

Ao juntar esses dois mundos –NFTs e pornografia– , conseguimos um componente novo na equação: a falada exclusividade.

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Valorização da arte erótica

Nos últimos meses, as NFTs ganharam fama no mundo da arte digital por vender itens colecionáveis a cifras milionárias.

Como são desenvolvidas na blockchain, essas imagens artísticas são mais difíceis de fraudar e impossíveis de duplicar. Além disso, esses ativos podem ser rastreados, permitindo saber para onde são transferidos e vendidos.

Essa sensação de escassez valoriza as obras, pois somente quem comprou o token terá propriedade e acesso sobre a arte.

Projeto Crypto Idolz

Valendo dessa particularidade, em setembro passado, foi lançado na plataforma Solana o projeto Crypto Idolz, uma coleção de 6.969 tokens não fungíveis de imagens de mulheres desenhadas no estilo mangá. A coleção chamou instantaneamente a atenção de colecionadores e as NFTs se esgotaram em apenas 24 horas, o que apenas demonstra o potencial desse mercado.

Na época, o preço inicial de cada token era de 0,69 Sol (R$ 730 na cotação atual da Solana), mas hoje, três meses depois, as mesmas NFTs são vendidas por mais do que o dobro do valor inicial.

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OnlyFans em NFT

A rapper americana Azealia Banks virou notícia quando vendeu em março deste ano uma gravação em áudio dela fazendo sexo com o namorado, o artista conceitual e programador Ryder Ripps. O arquivo de 24 minutos foi comprado por 10 ETH (Ethereum) –pouco mais de 17 mil dólares–, apenas nove horas depois que ele foi colocado à venda.

Além do arquivo digital em WAV, o comprador também recebeu uma cópia física do áudio –na forma de um disco de vinil assinado–, além dos direitos totais sobre a obra, incluindo distribuição ilimitada e de exibição.

O negócio demonstra como pode ser lucrativo a venda de artes performáticas, o que chama a atenção de artistas eróticos que atualmente utilizam plataformas como a OnlyFans, por exemplo.

O OnlyFans tem atualmente cerca de 1 milhão de criadores de conteúdos e mais de 50 milhões de usuários. Nele, os “fãs” pagam uma assinatura para assistir conteúdos produzidos por influenciadores, que vão desde fotos nuas até vídeos de sexo explícito.

Durante a pandemia, muitos profissionais do sexo migraram para a plataforma online para garantir uma fonte de renda durante o isolamento social.

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Concorrência

Porém, já existe um “clone” do OnlyFans no mundo das criptomoedas, o Unique.Fans, que permite aos artistas converterem seus trabalhos eróticos para NFTs na blockchain.

A nova plataforma explica que “estava ciente do nível de censura” praticado por plataformas apoiadas por empresas e que “estavam impedindo os artistas de entrar em um florescente ‘renascimento da arte-tecnologia’ durante um período econômico difícil”, afirmou.

Pagamento facilitado

A vantagem do NFT é que, por ter natureza descentralizada, esses criadores de conteúdo deixam de ficar à mercê de repentinas mudanças de regras das plataformas e dos meios de pagamento.

Eles podem receber pelo trabalho por meio de criptomoedas, sem o uso de intermediários que possam questionar a transação. Mais do que isso, eles podem receber os royalties quando o comprador revender o conteúdo para terceiros.

Além disso, as NFTs permitem um maior controle sobre a privacidade do criador, evitando uma exposição generalizada de sua identidade. Eles também podem criar conteúdos mais exclusivos, transformando os fãs em verdadeiros investidores.

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Isto é arte?

Por mais que o futuro dos conteúdos adultos esteja pendendo para o lado das criptomoedas, isso não significa que estará livre de riscos.

O ecossistema criptográfico Rarible, por exemplo, já proíbe que seus usuários publiquem, postem ou disseminem conteúdos pornográficos. Já a OpenSea é mais tolerante, mas esse tipo de conteúdo poderá ser sinalizado como impróprio, recebendo um tratamento diferenciado nos menus de navegação e resultados de pesquisa.

Por sua vez, a SuperRare proíbe conteúdo obsceno, mas em uma pesquisa rápida na plataforma é possível acessar facilmente conteúdos pornográficos. A mesma conduta é seguida pela Foundation.

Regras

A verdade é que ainda existe um longo debate sobre o que pode ser considerado como algo “obsceno”. Ainda não está muito claro a linha que separa representações artísticas de erotismo dos conteúdos pornográficos explícitos, o que acaba gerando margem para diversas interpretações.

Como os termos de serviço nunca são escritos de forma clara, isso cria a liberdade para que as plataformas censurem seletivamente os conteúdos que elas quiserem.

Isso sem falar, é claro, nos riscos de os criadores e artistas terem suas artes roubadas, como foi o caso dos tokens da Nifty Gateway, que teve milhares de dólares roubados das contas porque o site não exigia autenticação de dois fatores.

Mesmo com essas incertezas, os nudes vieram para ficar no mundo das NFTs –pelo menos, enquanto alguém estiver disposto a pagar por eles.

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Hemerson Brandão

Hemerson Brandão

Hemerson é editor, repórter e copywriter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.

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