“O Golpista do Tinder”: conheça a história real do documentário da Netflix

Baseado no caso real das vítimas do israelense Shimon Leviev, o documentário expõe um esquema de fraude milionário e bate recordes na Netflix
O Golpista do Tinder
Imagem: Reprodução/Instagram

Imagina você entrar em um aplicativo de namoro, encontrar uma pessoa ideal que supera suas expectativas para, no final, descobrir que tudo era uma farsa? Foi exatamente isso o que aconteceu com as vítimas retratadas no documentário “O Golpista do Tinder”, nova produção original da Netflix. 

O fio condutor dessa produção, que estreou na plataforma no dia 2 de fevereiro, se baseia em um caso real de 2018, e acompanha o caso do israelense Shimon Hayut. O homem se passava por Simon Liev e fingia ser um milionário russo no app de relacionamento. No documentário, várias mulheres vítimas do criminoso deram seus depoimentos e contaram como o golpista fazia para conseguir dinheiro.

A história é baseada em reportagem feita pelo jornal norueguês “VG”, publicada em fevereiro de 2019. A produção conta com depoimentos da norueguesa Cecilie Fjellhøy, da sueca Pernilla Sjoholm e da holandesa Ayleen Charlotte e mostram como esse homem entrou na vida delas por meio do app Tinder. 

As vítimas relatam que o golpe começava desde o match, com Hayut fingindo ser um milionário russo que ostentava com viagens, grandes festas e presentes de alto valor. O criminoso, que se denominava “Príncipe dos Diamantes”, marcava alguns encontros e mostrava todos os ‘seus’ bens.

Após mostrar de todas as formas possíveis que é um ricaço, com direito a viagens de jatinho e estadias em hotéis de luxo, ele afirma que é envolvido em algum negócio perigoso –como extração de diamantes em regiões de milícia na África ou comércio de armas.

O golpe se inicia quando Shimon diz estar sendo seguido por “inimigos” e precisa da ajuda dessas mulheres, para que emprestem seus cartões de crédito, pois não estão no nome dele, ou dinheiro vivo, que não seja rastreável.  

Para se ter ideia, uma das vítimas enviou cerca de R$ 1,4 milhão para o suposto russo. Muitas faziam empréstimos de grandes quantias no banco. Ao receber o valor, Hayut sumia de todas as redes. Ao todo, foram mais de US$ 10 milhões roubados.

A produção está entre as mais assistidas na Netflix, onde as vítimas apresentam diversas evidências do golpe como horas de vídeos gravados pelo próprio golpista e longas trocas de mensagens no Whatsapp. Mesmo com todas as provas, Leviev está livre e nega ter roubado qualquer dinheiro.

Não à toa, “O Golpista do Tinder” está fazendo um enorme sucesso em todo o mundo. Segundo o Deadline, o documentário atingiu 45,8 milhões de horas assistidas globalmente na semana de 31 de janeiro a 6 de fevereiro e atingiu o top 10 em 92 países. Como a produção só foi lançada em 2 de fevereiro, os números representam apenas cinco dias de exibição.

https://www.youtube.com/watch?v=_LxaB9Wyloo&feature=emb_title

Mas quem é o Golpista do Tinder? 

De acordo com o que foi publicado em vários meios de comunicação, incluindo o “VG” na Noruega e “The Times Of Israel”, o golpista nasceu na cidade de Bnei Brak, que fica próxima a Tel Aviv, em Israel, em 1990 e pertence a uma família judaica ultra ortodoxa.

Shimon deixou o país em 2011 rumo à Europa, depois de ser indiciado por fraude: roubava e descontava cheques de pessoas para quem trabalhava. Foi para a Finlândia, onde conseguiu aplicar golpes em três mulheres. Somente em 2015 foi preso e ficou lá por dois anos.

Em 2017, ele retornou a Israel, onde mudou legalmente seu nome: deixou de ser chamado de Shimon Yehuda Hayu para adotar o nome de Simon Leviev, com o qual se tornaria conhecido internacionalmente. Logo em seguida, fugiu novamente para a Europa para evitar outra prisão. 

Com a identidade falsa, o homem passou a se apresentar como herdeiro de um magnata dos diamantes e SEO da LLD Diamonds. Vale lembrar que, embora tanto Lev Leviev quanto a empresa realmente existam, os dois NÃO possuem nenhuma ligação com o golpista. Inclusive, segundo o periódico israelense, o magnata “apresentou uma queixa contra Hayut à polícia por se apresentar falsamente como seu filho”.

Shimon foi preso pela Interpol em 2019 com um passaporte falso em um aeroporto na Grécia. Depois de ser procurado em países da Europa, Leviev foi deportado para Israel. No país de origem, ele negou todas as acusações contra ele, dizendo que nunca tirou nada das mulheres e que elas apreciavam a sua companhia.

“Tenho o direito de escolher o nome que quiser, nunca me apresentei como filho de ninguém, mas as pessoas usam a imaginação”, relatou ao Channel 12 News. 

“Talvez seus corações tenham partido durante o processo… Eu nunca tirei um centavo delas; essas mulheres se divertiram na minha companhia, viajaram e conheceram o mundo com meu dinheiro”, completou.

Shimon foi preso por crimes de fraude que cometeu em 2011 (processos que ficaram parados porque ele fugiu do país). Chegou a cumprir cinco dos 15 meses de prisão e foi liberado no início de 2020 por bom comportamento. Também foi levado em consideração uma política local adotada pelas prisões, que estavam superlotadas em meio à pandemia de Covid-19.

O próprio documentário mostra que, após ser liberado da prisão, ele se tornou um homem livre em Israel, ostentando uma vida de luxo, com carros e roupas de grife. Ainda segundo a Netflix, se recusou a participar do documentário. 

Embora esteja livre pela justiça israelense, há processos de fraude contra ele no Reino Unido, Noruega e Holanda. E logo após o lançamento do documentário, Shimon desativou sua conta no Instagram. Na última publicação na plataforma, 13 semanas antes de desativar, ele estava ao lado de uma Lamborghini vermelha.

Leviev tinha alcançado a marca de 220 mil seguidores e ainda deixou uma mensagem final: “Vou compartilhar minha versão da história nos próximos dias, quando tiver resolvido qual é a melhor e mais respeitosa maneira de contar isso, tanto para as partes envolvidas quanto para mim”.

Com a repercussão do caso, Shimon Hayut foi banido do aplicativo de relacionamento. “Realizamos investigações internas e podemos confirmar que Simon Leviev não está mais ativo no Tinder sob nenhum de seus pseudônimos conhecidos”, disse a equipe do Tinder.

Além do Tinder, após a repercussão do documentário, Shimon foi expulso e banido de outros aplicativos e sites de relacionamento como OkCupid, Hinge, PlentyofFish, OurTime, Meetic, Pairs e Match.

Como estão as vítimas? 

As mulheres enganadas por Shimon ainda precisam pagar as dívidas gigantescas feitas com cartões de crédito e empréstimos que as convenceu a fazer. Pernilla, de 36 anos de idade, morava em Oslo, na Noruega, quando sofreu o golpe. Ela mantinha uma amizade com o golpista e chegou a viajar com ele por diversos países da Europa. Cecilie, de 33 anos, é norueguesa e morava em Londres quando o conheceu no Tinder. Já Ayleen é a mais nova das três, com 26 anos.

Solteira, Cecilie voltou recentemente ao Tinder, onde ainda tenta buscar um amor verdadeiro. Depois de ser iludida pelo vigarista, ela criou uma organização sem fins lucrativos em prol da conscientização de fraudes na internet. A ONG pretende “criar mudanças na legislação e ajudar as vítimas a obter ajuda adequada, tanto mental quanto juridicamente”.

Ela, ao lado de Ayleen e Pernilla, criaram uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro e sanar suas dívidas. Ambas lidam com a ajuda de amigos e familiares para superar os problemas psicológicos e financeiros causados pelo israelense. As duas são hoje as melhores amigas de Cecilie e passaram a usar as redes sociais para alertar outras mulheres sobre o assunto.

No Instagram, as três estão recebendo milhares de mensagens de apoio. E já somam, juntas, mais de 220 mil seguidores na rede social.

https://www.instagram.com/p/CZea3SKFCHf/

 

Rayane Moura

Rayane Moura

Rayane Moura, 26 anos, jornalista que escreve sobre cultura e temas relacionados. Fã da Marvel, já passou pela KondZilla, além de ter textos publicados em vários veículos, como Folha de São Paulo, UOL, Revista AzMina, Ponte Jornalismo, entre outros. Gosta também de falar sobre questões sociais, e dar voz para aqueles que não tem

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