Ciência

Oceano Pacífico está gerando oxigênio e cientistas não sabem a origem

A descoberta foi publicada em um estudo na revista Nature, na segunda-feira (22), mas tem uma longa história, que envolve até o Brasil.
Imagem: NOAA/Divulgação

Nas profundezas do Oceano Pacífico, um fenômeno fascinante intriga cientistas: a produção de oxigênio em um ambiente de completa escuridão, impossível de haver fotossíntese.

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Esse “oxigênio obscuro” está em uma região rica em nódulos polimetálicos, um tipo de formações minerais antigas que, possivelmente, desempenha um papel na produção de oxigênio ao catalisar a fotólise da água. “Temos outra fonte de oxigênio no planeta além da fotossíntese”, diz Andrew Sweetman, ecologista marinho e co-autor do estudo.

De acordo com Sweetman, o mecanismo por trás dessa produção de oxigênio permanece um mistério. No entanto, para Sweetman e os cientistas do estudo, a descoberta pode dar mais informações sobre como a vida surgiu, bem como os possíveis impactos da mineração do fundo do mar na região.

A descoberta foi publicada em um estudo na revista Nature, na segunda-feira (22), e envolveu o trabalho de um grupo internacional de cientistas dos EUA, Reino Unido e Alemanha. Porém, ela tem uma longa história.

Em 2013, cientistas já tinham observado essa produção de oxigênio ao estudar os ecossistemas do fundo do mar de uma das áreas mais remotas da Terra,  a região Clarion-Clipperton (CCZ), no Oceano Pacífico.

A região é CCZ é composta por áreas extensas que ficam entre três e seis mil metros abaixo do mar, indo do Havaí ao México. Além disso, a CCZ é um dos principais alvos da mineração do fundo mar.

Na primeira análise, em 2013, Andrew Sweetman achou tão absurdo o fato de haver produção de oxigênio no fundo do mar que rejeitou os resultados, acreditando que fosse algum problema nos seus equipamentos.

No entanto, expedições posteriores confirmaram o fenômeno de produção de oxigênio no fundo do Oceano Pacífico.

Como os minerais produzem oxigênio no fundo do Oceano Pacífico

Em 2021, quando Sweetman usou outro método para detectar oxigênio, produzindo o mesmo resultado, o cientista aceitou a possibilidade. “Meu Deus, eu estava ignorando algo extremamente importante durante oito ou nove anos”, disse o cientista.

Nódulo polimetálico que pode ser a fonte de produção de oxigênio no fundo do mar

Para os cientistas, o nódulo polímetálico tem um papel na produção de oxigênio no Oceano Pacífico. Imagem: Nature/Divulgação

Após essa expedição, os cientistas recolheram amostras de sedimentos, água do mar e nódulos polimetálicos para análise em laboratório visando compreender a formação de oxigênio.

Através dos experimentos, os pesquisadores descartaram todos os processos biológicos. No entanto, os cientistas ficaram um bom tempo sem saber a origem do oxigênio gerado no fundo do Oceano Pacífico. 

Foi apenas em 2023 que houve o momento ‘Eureka!’, quando Sweetman assistiu a um documentário sobre mineração no fundo do mar, em um hotel em São Paulo, no Brasil.

Pela descrição de Sweetman, o documentário é “Deep Sea Rising”, de 2023. O cientista menciona um trecho em que alguém diz haver “baterias em rochas no fundo do mar.”

Assim, Sweetman cogitou a possibilidade de que essas rochas, sobretudo os nódulos polimetálicos, sejam mais que fontes de baterias, mas baterias em si. Ele chamou de “geobaterias naturais”.

Os metais nesses sedimentos, como manganês, geram corrente elétrica ao interagir com a água do mar, causando um processo chamado eletrolise. Essa reação que separa as moléculas da água, fornecendo uma fonte inesperada de oxigênio no fundo do mar.

Pablo Nogueira

Pablo Nogueira

Jornalista e mineiro. Já escreveu sobre tecnologia, games e ciência no site Hardware.com.br e outros sites especializados, mas gosta mesmo de falar sobre os Beatles.

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