Ciência

Polvos ameaçados lutam contra aumento de temperaturas nos oceanos

De acordo com novo estudo, o aquecimento global pode prejudicar a visão dos polvos, além de afetar sua reprodução e sobrevivência
Imagem: Diane Picchiottino/ Unsplash/ Reprodução

Geralmente, os polvos são conhecidos por sua alta adaptabilidade. Contudo, parece que nem esses animais estão conseguindo lidar com a crise climática e o aumento de temperatura nos oceanos. 

De acordo com estudo recente publicado na revista Global Change Biology, eles podem perder a visão, além de ter dificuldade para se reproduzir e sobreviver caso o aumento de temperaturas nos oceanos prossigam.

A conclusão é de cientistas da Universidade de Adelaide, da Universidade do Sul Austrália e da Universidade da Califórnia. 

Segundo eles, a perda da visão é muito prejudicial aos polvos. Isso porque ela desempenha um papel essencial para sua comunicação e para a detecção de presas e predadores. Não à toa, seu cérebro dedica quase 70% de sua capacidade a esse sentido.

A pesquisa sobre polvos nos oceanos

Para o estudo, os pesquisadores colocaram polvos fêmeas que estavam grávidas sob águas em três temperaturas diferentes. O primeiro teste contou com água do mar a 19°C, que é o comum.

O segundo tanque de água estava a 22°C para imitar as temperaturas atuais de verão. Por fim, as águas do terceiro compartimento estavam a 25°C, pois a ideia era que representasse a temperatura projetada para o verão de 2100.

Após observações dos polvos nas três condições, os cientistas observaram uma alteração significativa com o aumento de temperatura nos oceanos simulados. Sob a água mais quente, os animais produziram menos duas proteínas específicas relacionadas à visão.

“Uma delas é uma proteína estrutural encontrada em grande abundância nas lentes oculares dos animais para preservar a transparência e a clareza óptica. A outra é responsável pela regeneração dos pigmentos visuais nos fotorreceptores dos olhos”, explicou ao The Guardian Qiaz Hua, autora principal do estudo.

Dificuldade para as mães e filhotes

Além do possível prejuízo à visão, o estudo também identificou que o aumento de temperaturas nos oceanos simulados estava associado à morte das mães e dos filhotes. Durante os primeiros experimentos da pesquisa, os ovos de duas espécies de polvos fêmeas não eclodiram sob as águas a 25°C.

Para os pesquisadores, isso aconteceu porque os polvos fêmeas, mães desses filhotes, tiveram mortes prematuras, enquanto os ovos estavam em estágios iniciais de desenvolvimento.

Apenas na terceira tentativa de ninhada sob essa temperatura que metade dos ovos eclodiram. De acordo com o estudo, os filhotes que sobreviveram estavam sob “imensa quantidade de estresse térmico e provavelmente não sobreviveriam até a idade adulta”.

Além disso, a mãe deles também apresentava sinais visíveis de estresse térmico, o que não foi observado em polvos que estavam nas águas mais frias.

Avanço na ciência

De acordo com Hua, o estudo demonstra que o aquecimento global poderia ter um impacto simultâneo em múltiplas gerações. Além disso, uma mudança pequena na temperatura já permite identificar o comprometimento dos organismos.

Ainda assim, os pesquisadores envolvidos ressaltam que o estudo expôs os polvos a um aumento de temperatura nos oceanos mais rápido do que aconteceria na vida real.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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