Aparentemente, quem convive com polvos não vive só descansando em jardins no fundo do mar, pois a colaboração durante a caça é importante entre esses moluscos. Porém, quem der mole pode levar socos.
Publicado na última segunda-feira (25), o estudo revela que polvos da espécie cyanea maraud costumam caçar com a ajuda de peixes. Além disso, o estudo sugere que os polvos organizam as decisões dos grupos de caça, incluindo a escolha das presas.
No entanto, o mais interessante é que os pesquisadores identificaram polvos cefalópodes dando socos em peixes que não ajudam a caçar. A intenção dos polvos parece ser manter o foco dos peixes na missão e contribuir para o esforço coletivo.
Finalidade dos socos dos polvos é motivacional (às vezes)
Para entender os detalhes da vida dos polvos, os pesquisadores, em vez de ficar em um esconderijo sob as ondas, passaram um mês mergulhando em um recife na costa de Israel.
Os cientistas monitoraram 13 polvos por 120 horas usando várias câmeras, seguindo os animais em 13 caçadas. Em algumas caçadas, dois peixes acompanhavam os polvos.
Em outras caçadas, os polvos contavam com uma pequena ajuda de seus amigos, com mais de 10 peixes acompanhando o líder.
Aliás, os convidados eram diversas espécies de peixe, mostrando a versatilidade dos polvos, que lideravam o grupo de maneira confusa, dando socos nos peixes para reforçar a ordem social.
As principais vítimas eram garoupas, sobretudo os meros amarelos, que eram os mais “preguiçosos” entre os peixes.
Na verdade, esses peixes apanhavam mais porque eram os que mais exploravam o grupo, agindo como predadores de emboscada, segundo Sampaio. Além disso, os polvos também davam socos nos peixes para manter o grupo em movimento, ou para chamá-los de volta ao local de onde vieram.
“Se o grupo é bem tranquilo e todos estão em função do polvo, este começa a dar socos”, diz o pesquisador, que ressalta que o polvo fica de bom humor quando o grupo está produzindo, buscando presas. Aí, o polvo não soca ninguém. Confira o vídeo:
“All You Need is Socos in an Octopus’s Garden” [The Beatles]
Por outro lado, após analisarem as gravações, os pesquisadores criaram representações das caçadas em 3D e usaram um software para rastrear cada animal e registrar sua posição em relação aos outros.
Assim, o pesquisador conseguiu avaliar a proximidade dos animais entre si e quais agiam como líderes, ou exerciam influência, guiando o grupo por caminhos específicos.
Os dados mostraram que peixes da espécie Parupeneus cyclostomus, curiosamente encontrado também na Índia, tentava levar o grupo para outros caminhos, possivelmente até melhores. No entanto, o grupo ficava inerte enquanto os polvos não seguissem as ideias do peixe.
Segundo Sampaio, essa espécie de peixe é a que explora o ambiente e busca por presa, enquanto os polvos são os que tomam as decisões pelo grupo.
Por que os peixes entram nesses grupos se conseguem caçar sozinhos?
Segundo os pesquisadores: oportunidade – e possibilidade de conseguir algo melhor, mesmo com talento similar.
Os peixes entram nesses grupos de caça porque os polvos conseguem penetrar lugares onde presas se escondem. Por outro lado, os polvos se beneficiam do GPS dos peixes, em vez de precisar mapear o local.
Embora sejam famosos por evitar outros membros de sua espécie e entrar em carreira solo, geralmente usando camuflagem, alguns polvos, segundo o estudo, possuem vidas sociais dinâmicas.
A descoberta, além de apresentar uma nova perspectiva sobre o comportamento dos polvos, indica a existência de espécies com características e marcas de inteligências anteriormente consideradas comuns apenas em vertebrados.
“Para mim, a sociabilidade, ou, pelo menos, a atenção a informações sociais, está mais arraigada a árvore da evolução do que pensamos”, afirmou Eduardo Sampaio, autor do estudo.
Para Sampaio, nós, humanos, somos bastante similares a esses animais. “Em termos de sensitividade, eles estão em um nível muito próximo de nós do que imaginamos”.
O questionamento que fica, no entanto, é porque alguns polvos reconhecem e preferem caçar com peixes favoritos. “Existe um reconhecimento do indivíduo? Será que eu quero seguir o peixe azul ou Martha porque já cacei com Martha anteriormente?”, indaga o pesquisador.